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Matérias / Personagem

Harriet Tubman: A ex-escrava e ativista que libertou mais de 300 cativos

Apelidada de "Moisés Negro", a importância de sua luta pode ser comparada a do líder quilombola Zumbi dos Palmares no Brasil

Marcus Lopes Publicado em 18/07/2021, às 11h00

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A ativista Harriet Tubman - Domínio Público/ Wikimedia Commons
A ativista Harriet Tubman - Domínio Público/ Wikimedia Commons

Seu papel na história pode ser comparado ao exercido pelo líder quilombola Zumbi dos Palmares no Brasil: defesa contumaz dos negros africanos escravizados. Entre 1850 e 1860 ela foi responsável pela fuga de centenas de escravos das fazendas do sul dos Estados Unidos rumo ao norte do país, onde não havia escravidão, e ao Canadá.  

As expedições eram feitas através da Underground Railroad (estrada de ferro subterrânea, em tradução livre), uma intrincada e complexa rota de fuga com diversos caminhos criada pelos abolicionistas para resgatar os negros cativos americanos, em especial nos estados do sul que adotaram o sistema de monocultura e a escravidão de negros africanos de forma mais sistêmica, como Alabama, Louisiana, Geórgia e Mississippi. 

A ativista Harriet Tubman/ Crédito: Domínio público

Tubman nasceu no condado de Dorchester, localizado no pequeno estado de Maryland, na costa leste, em 1820. Como os escravos não recebiam certidão de nascimento, a própria Harriet não sabia com precisão o dia em que nasceu. Da mesma maneira permaneceu analfabeta a vida toda, já que os escravos também não tinham direito a aprender a ler e escrever.  

Por isso, apesar da sua importância, não há sequer um documento escrito de próprio punho. Isso não a impediu, porém, de fazer discursos contundentes em defesa do sufrágio feminino, o que enriquece sua biografia como uma das pioneiras dos direitos civis das mulheres do seu país. 

Cicatrizes 

Quinta criança dos nove filhos de Harriet Green e Ben Ross, seu nome de batismo era Araminta, ou apenas “Minty”, para a família. Desde cedo sofreu os horrores da escravidão. Os primeiros castigos, lembrados por ela décadas mais tarde, ocorreram aos 5 anos de idade, quando foi cedida pelo seu dono, o fazendeiro Edward Brodess, para cuidar de uma criança na casa grande de uma fazenda vizinha. 

Durante a noite, Minty era obrigada pela dona da fazenda a embalar o berço do seu bebê sem parar um minuto ou então segurá-lo no colo. Se a criança começasse a chorar, a mãe chicoteava a pajem no pescoço.  

Foram as primeiras cicatrizes que ela levaria para a vida toda. Aos 7 anos, era obrigada a recolher muskrats (uma espécie de rato do banhado) de armadilhas montadas em áreas pantanosas, o que a deixava constantemente molhada, mesmo no inverno.  

Naquela época, era comum os fazendeiros “alugarem” seus escravos para ganhar dinheiro, e Brodess não era exceção. Como sua fazenda era pequena, o aluguel de seus cerca de 40 escravos era uma das principais fontes de renda.  

Um fato marcante ocorreu na adolescência de Araminta, quando foi cedida pelo seu senhor a um fazendeiro. Certo dia, entre 1834 e 1836, foi convocada para ir com seu patrão ao armazém da cidade para aquisição de equipamentos necessários para a lavoura e alimentos. Durante as compras, Araminta avistou um escravo fugitivo e impediu que seu supervisor o alcançasse se colocando na porta.  

O patrão, que estava com um peso de ferro na mão, jogou em direção ao fugitivo, mas errou a pontaria e atingiu Minty na cabeça. O acidente deixaria sequelas para o resto da vida. Frequentemente, ela caía em um sono profundo sem aviso prévio, e era difícil acordá-la. Há também relatos de convulsões e outros problemas provocados pela lesão. 

Por volta de 1844, Minty casou-se com John Tubman, um homem livre, pelo menos cinco anos mais velho do que ela, mas sem poder de libertar sua mulher pelas leis em vigor no país. Como ele poderia ter se casado com uma mulher livre da região, é de supor que a ligação entre eles era muito forte.  

Aviso no jornal Cambridge Democrat oferecendo uma recompensa de US$ 100 (equivalente a US $ 3.110 em 2020) pela captura "Minty"/ Crédito: Cambridge Democrat/Wikiemdia Commons

O amor, porém, não resistiu quando, em 1849, Minty propôs aos dois que fugissem para outro estado. Além de não concordar com o plano, John afirmou ainda que denunciaria a esposa às autoridades caso ele fosse concretizado.  

Com o coração partido, mas disposta a lutar pela sua liberdade, Minty fugiu sozinha para a Filadélfia, onde foi abrigada e se aliou a movimentos abolicionistas. Para não ser capturada, adotou o nome da mãe, e assim seria conhecida até o fim da vida.  

Logo começou a ter contato com a Underground Railroad e retornou a Maryland para a primeira missão: salvar sua família — que foi levada com sucesso para Ontário, no Canadá. O resgate dos seus pais foi apenas a primeira das cerca de 20 missões lideradas por Harriet em diversos estados do sul dos EUA, entre 1850 e 1860.  

Em complexos trajetos que alternavam longas caminhadas por trilhas desconhecidas e florestas com viagens de trem — onde iam escondidos em vagões de carga sob a proteção de agentes de estação e ferroviários simpáticos à causa abolicionista —, Harriet foi a responsável direta pela libertação de mais de 300 escravos.  

A viagem era realizada sempre à noite, e os caminhos cruzavam estradas abandonadas, pântanos, matas e outras áreas de difícil acesso em direção aos estados do norte, onde a escravidão estava abolida, e ao Canadá. Harriet nunca foi apanhada, apesar de serem oferecidas recompensas de até 40 mil dólares pela sua captura.  

Uma de suas táticas era roubar os cavalos das propriedades para, além de facilitar a fuga, dificultar a perseguição dos fazendeiros. Ela também carregava um sonífero para as crianças que começassem a chorar e denunciassem o grupo e uma pistola com a qual ameaçava aqueles que queriam desistir da empreitada: “Você vai ser livre ou morto”, costumava dizer. 

Destaque na Guerra 

Durante a Guerra Civil Americana (1861-1865) Harriet se alistou nos Exércitos da União e exerceu diversas funções, como cozinheira, enfermeira e até espiã. Seu conhecimento sobre os estados adversários do Sul e a ampla rede de contatos entre os negros nesses territórios facilitaram a criação de uma rede de espionagem para captar informações dos exércitos confederados.  

Tubman em 1887 (extrema esquerda), com seu marido Davis (sentado, com bengala)/ Crédito: Domínio público

Ela tornou-se a primeira mulher a exercer papel de destaque em uma operação militar nos Estados Unidos: o ataque a Combahee, em 1863. Sua rede de espiões obteve dados da defesa sulista no Rio Combahee, na Carolina do Sul, o que permitiu que três barcos do Norte, comandados pelo coronel James Montgomery e guiados por Tubman, atacassem fazendas nas margens do rio, resultando na destruição de grandes estoques de alimentos, algodão e armas dos inimigos, além da libertação de mais de 750 escravos.  

Harriet Tubman é uma personagem fundamental para a História americana, pois foi pioneira na defesa dos direitos civis para os americanos e descendentes de africanos. Sua atuação durante a Guerra Civil permitiu a fuga de centenas de escravos dos territórios dominados pelos escravagistas”, afirma o historiador e professor da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Alexandre Hecker.  

Após a guerra, Harriet voltou para Auburn, no estado de Nova York, onde sua família passou a residir após morarem no Canadá (uma das hipóteses é que não se adaptaram ao frio canadense). Em 1869 ela se casou com Nelson Davis, um veterano da guerra, e passou a militar em movimentos sufragistas e de direitos das mulheres e dos negros.  

Após ficar viúva de Davis foi para um lar de idosos criado por ela em Auburn alguns anos antes. Harriet não teve filhos.

“A história de Harriet é um símbolo não apenas para a luta genérica pela liberdade, mas para a afirmação de direitos das mulheres negras, que passaram a ter uma referência heroica para sustentar ações objetivas no sentido de reparação de injustiças seculares”, diz Hecker.  

Tubman morreu de causas naturais em 10 de março de 1913, aos 93 anos. Naquele ano ela foi destaque em um artigo de fim de ano do jornal The New York Times sobre as pessoas ilustres mortas naquele ano.  

Era o fim da trajetória daquela que, por seu enorme trabalho em prol da libertação dos escravos, ficou conhecida como “Moisés negro”.


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