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Matérias / União Soviética

Caso Nazino: O desastre da URSS ao isolar pessoas em uma ilha

Ao isolar pessoas durante a política de deportação, o governo de Stalin foi responsável por um episódio da história soviética

Redação Publicado em 10/01/2020, às 12h00 - Atualizado em 01/02/2023, às 11h33

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A ilha de Nazino no mapa - Reprodução
A ilha de Nazino no mapa - Reprodução

O Caso Nazino foi uma política da URSS que deportou mais de 6 mil pessoas para uma ilha, denominada Nazino, localizada na Sibéria Ocidental, a 540 quilômetros da capital Tomsk. Eles foram enviados à região inóspita com o objetivo de construir um “assentamento especial”.

Nos meses de março e junho de 1933, milhares de pessoas foram presas e posteriormente deportadas de Moscou e São Petersburgo, na época Leningrado. As autoridades alegaram que eles foram detidos por falta de passaporte.

As vítimas dessa política foram principalmente os considerados "elementos degradantes e socialmente prejudiciais" pelo governo. Ex-comerciantes e comerciantes, camponeses que fugiam da fome, pessoas condenadas por pequenos crimes foram detidas pela polícia soviética.

O historiador Nicolas Werth, autor de do livro Cannibal Island (Ilha Canibal, em tradução livre), analisa que essas pessoas não se encaixavam na estrutura de classe, idealizada pela ideologia comunista da Rússia no período.

Em direção à ilha, junto com elas, foram enviados farinha, que serviria de alimento e algumas ferramentas e roupas — apenas isso para sobreviver ao hostil frio da Sibéria. Claro que o resultado foi catastrófico.

“Em um cenário desumano (dois terços dos deportados morreram de fome, exaustão e doenças nas semanas seguintes de seu abandono na ilha), a brutalidade seguiu para transgressões tais quais canibalismo e necrofagia”, escreve Werth.

O cenário era de caos absoluto. Doenças generalizadas, abuso de poder, violência e canibalismo tornaram-se comuns na Ilha de Nazino. Em cerca de três meses, 4 mil das pessoas abandonadas no local morreram ou desapareceram, conforme repercutido pela Radio Free Europe/Radio Liberty. O restante que sobreviveu estava com sérios problemas de saúde.

A escassez de recursos ainda agravou a situação já complexa. Após essa escassez, as pessoas começaram a formar gangues e usaram violência para roubar outros. Pessoas frequentemente brigavam por comida. Quem possuísse qualquer coisa de valor também poderia ser saqueado, conforme repercutido pela Gildshire Magazines.

Quando a falta de alimento tornou-se insuportável, os deportados partiram a cometer uma truculenta atitude: o canibalismo. Primeiro, eles comiam apenas quem já estava morto, mas não demorou muito tempo para que pessoas fossem assassinadas no único intuito de se tornarem alimento.

Nesse meio tempo, os guardas passaram a prender quem tentasse ou conseguisse comer outra pessoa. Cerca de 50 russos foram detidos por canibalismo.

A situação durou alguns meses, sendo oficialmente finalizada com a transferência dos deportados sobreviventes a assentamentos menores ainda no território soviético. Apenas duas mil pessoas conseguiram permanecer vivas.

Foi apenas em 1988 que o caso ficou conhecido. A Associação Memorial, uma ONG russa que atua em defesa dos direitos humanos, começou a investigar o caso e reuniu diversos relatos, a fim de expor as atrocidades cometidas no período. A ONG publicou em 2002 relatórios narrando a operação que aconteceu em 1933.