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Matérias / Personagem

Neste dia, em 1963, John F. Kennedy era assassinado a sangue frio

Há 56 anos, Lee Harvey Oswald apertava o gatilho. Mas a pergunta continua: a mando de quem?

André Bernardo e Thiago Lincolins Publicado em 22/11/2019, às 16h00

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John Kennedy em sua mesa presidencial - Getty Images
John Kennedy em sua mesa presidencial - Getty Images

A mãe de todas as teorias da conspiração. Assim jornalistas, advogados e historiadores costumam se referir à tese de que a morte do presidente norte-americano John Kennedy, em 22 de novembro de 1963, na cidade de Dallas, no Texas (EUA), não foi obra de um homem, e sim de um grupo. Na época, o Relatório Warren foi categórico ao afirmar que Lee Harvey Oswald era o único culpado. "A versão oficial sofreu inúmeras críticas. Mas, até hoje, ninguém conseguiu provar que Oswald fazia parte de uma conspiração", diz o historiador Robert Sean Purdy, da Universidade de São Paulo (USP).

Ainda que ninguém tenha provado, muita gente continua à procura de sentido para o assassinato – e as hipóteses são abundantes. A lista inclui desde o líder cubano Fidel Castro até a temida KGB, o serviço secreto soviético. Para o advogado Mark Lane, um dos detratores do Relatório Warren, não é preciso ir longe para encontrar o culpado. "O maior inimigo de Kennedy era a CIA. A agência defendia a Guerra do Vietnã e Kennedy não", afirma Lane. "Quanto a Oswald, ele não fazia a menor ideia no que estava metido", diz o autor de livros como Rush to Judgement, Plausible Denial e Last Word.

Lee Harvey Oswald / Crédito: Wikimedia Commons

Para outro estudioso, o jornalista Gerald Posner, a teoria mais estapafúrdia é a que responsabiliza o vice-presidente Lyndon Johnson. "Alguns gostam de culpá-lo porque o crime aconteceu no Texas (seu estado natal) e, em tese, era o que mais tinha a lucrar com a morte. Pensando assim, os vices são sempre os suspeitos nº 1, certo?", provoca o autor do livro Case Closed, que corrobora a versão de "lobo solitário". Lane e Posner podem divergir sobre quem matou Kennedy. Mas em um ponto concordam: as teorias conspiratórias sempre existirão.

O DIA QUE NÃO TERMINOU

"Presidente, o senhor não pode dizer que o povo de Dallas não o ama", disse Nellie Connally, a então primeira-dama do Texas, diante da recepção calorosa da multidão na Dealey Plaza. A mulher do governador John Bowden Connally não chegou a ouvir o que Kennedy respondeu. No espaço de seis segundos, o que se ouviu foram três disparos. O primeiro acertou Kennedy na nuca, atravessou o pescoço e atingiu o governador Connally. O segundo falhou.

Momento do disparo / Crédito: Wikimedia Commons

Kennedy provavelmente ainda estaria vivo se o motorista William Robert Greer tivesse notado a gravidade da situação e acelerado a limusine. Ou, então, se o agente do serviço secreto à sua direita, Roy Kellerman, tivesse cumprido sua missão e projetado o corpo sobre o do presidente ferido. Um terceiro tiro explodiu a cabeça de Kennedy. Eram 12h30 do dia 22 de novembro de 1963: o dia que não terminou.

PERGUNTAS SEM RESPOSTAS

No Parkland Memorial Hospital, distante 6 km da Dealey Plaza, a equipe médica que aguardava ansiosa a chegada da comitiva, após receber um comunicado da polícia local, não teve muito o que fazer. Os olhos do presidente ainda estavam abertos, mas suas pupilas já não reagiam à luz. Às 13h, John Fitzgerald Kennedy, o 35º presidente dos EUA, foi declarado oficialmente morto.

Lee Harvey Oswald foi preso às 14h15 acusado pelo assassinato de Kennedy. Ex-fuzileiro naval, trabalhava, havia pouco mais de um mês, como estoquista no Texas School Book Depository, de onde partiram os tiros. Lá também, no sexto andar do edifício, foi encontrada a arma do crime: um rifle Mannlicher Carcano, com mira telescópica, que ele comprou por 20 dólares pelo correio, usando um catálogo de vendas.

"A vida de Oswald era tumultuada. Simpatizante do comunismo, chegou a viver por dois anos e meio na extinta União Soviética. O único mérito dele era ser um excelente atirador", afirma o historiador Vitor Izecksohn, da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Na fuga, Oswald atirou em um policial, J. D. Tippit, e se escondeu em um cinema, o Texas Theatre, onde foi preso. Por que Oswald matou Kennedy? Ele não teve tempo de contar sua versão.

Momento em que Jack Ruby atira em Lee Harvey Oswald / Crédito: Wikimedia Commons

Dois dias depois, quando estava sendo transferido para a prisão do condado, Oswald foi morto por Jack Ruby na chefatura de polícia de Dallas. Por que Ruby matou Oswald? Também nunca saberemos. Ele morreu na prisão em 1967, vítima de câncer no pulmão. "Talvez, por estar doente, tenha optado por entrar para a história como o homem que vingou os EUA", afirma o historiador Virgílio Arraes, professor da Universidade de Brasília.

A visita a Dallas tinha dois objetivos: angariar fundos para o Partido Democrata e conquistar votos para as eleições de 1964. Na disputa de 1960, o Texas foi um dos poucos estados em que o candidato democrata não teve maioria. Do roteiro de visita faziam parte também Houston, San Antonio e Fort Worth, onde Kennedy passou a noite do dia 21. Nenhuma delas, porém, oferecia tantos riscos à segurança do presidente quanto Dallas.

A Casa Branca identificou grupos potencialmente hostis, como cubanos insatisfeitos com a fracassada tentativa de invasão à Baía dos Porcos, racistas furiosos com o apoio dado pelo presidente às leis dos direitos civis e conservadores temerosos com sua política de aparente tolerância ao comunismo. Apesar de advertido sobre possíveis incidentes, Kennedy dispensou a capota à prova de balas. Preferiu percorrer os 16 km em carro aberto.

"Se algo acontecesse ao ex-presidente Obama, na época de seu mandato, teríamos uma lista de suspeitos, como fundamentalistas islâmicos, supremacistas brancos e radicais antiaborto. O fato de Oswald ter matado Kennedy não quer dizer que ele estava a serviço da CIA, da máfia ou da KGB. Esses grupos podem até ter pensado em matar o presidente, mas Oswald chegou na frente deles", afirma Gerald Posner.

OS TREZE DIAS MAIS LONGOS DA HISTÓRIA

John Kennedy ocupou o Salão Oval da Casa Branca, em Washington, do dia 20 de janeiro de 1961, quando prestou juramento à Constituição e tomou posse como presidente dos EUA, até o dia 22 de novembro de 1963, quando morreu assassinado durante campanha eleitoral em Dallas. Dos 1.036 dias que passou no poder, dois foram particularmente intensos: 17 de abril de 1961 e 27 de outubro de 1962.

O episódio conhecido como a invasão à Baía dos Porcos foi um plano militar herdado por Kennedy de seu antecessor, Dwight Eisenhower. Sob o pretexto de impedir a disseminação do comunismo pela América Latina, a Agência Central de Inteligência (CIA) recrutou e treinou uma tropa de 1,400 exilados anticastristas em um campo militar na Guatemala. O objetivo da operação? Invadir Cuba, promover uma rebelião e derrubar Fidel Castro e seus aliados.

John and Jackie Kennedy, no dia de sua morte / Crédito: Getty Images

Nada, porém, ocorreu conforme o esperado. A invasão da Baía dos Porcos, na manhã de 17 de abril de 1961, foi um verdadeiro fiasco. Em menos de 72 horas, os invasores se viram acuados, sem condições de avançar ou recuar. Dos 1 400, apenas 150 conseguiram fugir. O resto foi morto ou capturado. "Foi um exercício mal planejado, mal executado e malsucedido", afirma o historiador Terry Golway, da Kean University.

PERTO DO FIM

O pior, no entanto, ainda estava por vir. Com medo de que os EUA tentassem invadir novamente a ilha, Castro pediu proteção à União Soviética. Logo, o então primeiro-ministro Nikita Khruschev mandou instalar uma base militar para lançamento de armas nucleares na província de Pinar del Rio. Em caso de nova ofensiva americana, os mísseis com ogivas atômicas destruiriam as principais cidades dos EUA em cinco minutos. Ou talvez menos.

Quando viu as fotos aéreas do arsenal soviético em Cuba, Kennedy impôs um bloqueio naval à ilha. Cerca de 90 navios, além de oito porta-aviões e 68 esquadrilhas de caças, entraram em estado de alerta, prontos para interceptar e vistoriar qualquer embarcação nos arredores. A quilômetros dali, 25 cargueiros soviéticos rumavam para Cuba. A bordo, armas nucleares de longo alcance.

Por treze dias, o mundo viveu o mais tenso impasse da Guerra Fria. Na Casa Branca, membros do gabinete, favoráveis a uma solução militar chegaram a propor que o presidente invadisse Cuba. Kennedy rechaçou a ideia. Disse que apenas abriria fogo caso os soviéticos furassem o bloqueio. Por telefone, Washington e Moscou se falavam quase todos os dias. Os dois líderes desejavam evitar o confronto.

John Kennedy e Marilyn Monroe / Crédito: Getty Images

A crise dos mísseis não chegou a detonar a Terceira Guerra Mundial, mas registrou, pelo menos, uma vítima fatal: o piloto americano Rudolf Anderson, morto no dia 27 de outubro de 1962, quando foi atingido por um míssil soviético enquanto sobrevoava Cuba. Imediatamente, Kennedy avisou ao Kremlin que, se os mísseis nucleares não fossem retirados da ilha até o dia seguinte, um ataque teria início em 48 horas.

Na manhã do dia 28, Khruschev concordou em retirar as bombas, desde que os EUA não invadissem Cuba. Kennedy aceitou o acordo e evitou uma hecatombe nuclear. O cientista político Timothy J. McKeown, da Universidade da Carolina do Norte, classifica como "notável" a maneira como Kennedy administrou a crise dos mísseis. "Poucos líderes mundiais teriam a coragem e a perseverança de ir contra todo o seu staff de aconselhamento", diz.

PONTO FRACO

Quando não salvava o mundo, Kennedy, provavelmente, estava tendo uma aventura amorosa. Seu caso mais famoso foi com a atriz Marilyn Monroe. Sua mulher, Jacqueline, foi informada do caso pela própria atriz, a quem respondeu: "Ótimo, vou cair fora e deixar os problemas com você", segundo o livro These Few Precious Days.

Além dela, Kennedy chegou a ter casos com a espiã soviética Ellen Rometsch e Judith Campbell, namorada do mafioso Sam Giancana. Para David Talbot, autor de Irmãos - A História por Trás do Assassinato dos Kennedy, a fama de garanhão não maculou a imagem política de Kennedy: "Alguns dos maiores presidentes dos EUA, como Jefferson e Roosevelt, tiveram vidas escandalosas. Outros, sexualmente sóbrios, como Nixon e Bush, podem ser considerados verdadeiros desastres como chefes da nação".

QUEM ACREDITA NO RELATÓRIO WARREN?

Apenas sete dias depois da morte de Kennedy, no dia 29 de novembro de 1963, Lyndon Johnson nomeou uma comissão de inquérito, liderada pelo presidente da Suprema Corte Earl Warren, para investigar as circunstâncias do assassinato. Por sete meses, a comissão analisou documentos, realizou testes e interrogou testemunhas. Ao todo, ouviu 552 pessoas.

O resultado da investigação - um calhamaço de 27 volumes e 13 mil páginas, veio a público no dia 27 de setembro de 1964 - confirmou que Oswald foi o assassino. A comissão informou que não encontrou provas de que ele ou Ruby fizessem parte de um complô.

Um dos mais ferrenhos defensores da tese do "pistoleiro solitário" é o promotor Vincent Bugliosi. Em 2007, após mais de 20 anos de pesquisa, Bugliosi publicou Reclaiming History, que corrobora todas as conclusões do Relatório Warren. E desmente, uma a uma, todas as teorias conspiratórias existentes.

Os alvos prediletos de Bugliosi são o cineasta americano Oliver Stone, de JFK - A Pergunta que Não Quer Calar, e o produtor britânico Nigel Turner, de Os Homens que Mataram Kennedy.

OPINIÕES CONTRÁRIAS

Bugliosi não é o único a defender o Relatório Warren. O jornalista Gerald Posner também crê na versão de que Lee Oswald agiu sozinho. Posner tem uma teoria para explicar por que, ainda hoje, é tão difícil imaginar que um ex-fuzileiro naval, confuso, fracassado e insignificante tenha sido capaz de tirar a vida de um presidente popular, carismático e bem-sucedido.

"Quanto pior o crime, pior o criminoso, certo? Errado. No caso da morte de Kennedy, a tese não se sustenta. De um lado, temos um presidente carismático, e de outro, um jovem psicopata, com um rifle barato nas mãos. Se adicionamos uma conspiração no prato de Oswald, a coisa toda começa a fazer sentido. É como se Kennedy tivesse morrido por algo que valesse a pena. É como se sua morte não tivesse sido em vão", diz o jornalista.

Minutos antes da morte/ Crédito: Victor Hugo King / Getty Images

Nem o próprio Lyndon Johnson parecia levar o Relatório Warren a sério. "Kennedy queria matar Castro, mas Castro o pegou primeiro", costumava repetir. Quem também discordava da conclusão do relatório era o casal John e Nellie Connally.

Segundo Nellie, a bala que feriu seu marido não foi a que matou Kennedy. Na biografia From Love Field - Our Final Hours with John F. Kennedy, Nellie assegura que três tiros, e não dois, acertaram Kennedy.

A Comissão Warren não foi a única a concluir que Oswald matou Kennedy. A polícia de Dallas e o FBI chegaram à mesma resposta. Para Peter Savodnik, autor de The Interloper - Lee Harvey Oswald Inside the Soviet Union, os norte-americanos não parecem interessados em aceitar a verdade: "Para os conspiracionistas, interessa apenas provar que, sob toda pompa e circunstância da América, há algo de obscuro no ar".

NA CENA DO CRIME, ANOS DEPOIS

A chegada do homem à Lua. A queda do muro de Berlim. A eleição de um negro nos EUA. O mundo mudou nos últimos anos. O que parece não ter mudado é o clima de incerteza que paira sobre o assassinato de John Kennedy. Quem matou o presidente? De onde vieram os disparos? Kennedy e Connally foram atingidos pela mesma bala? Se depender da Casa Branca, essas e outras perguntas vão continuar sem respostas.

Segundo Gary Mack, curador do Sixth Floor Museum, a última investigação oficial ocorreu em 1979, quando a House Select Committee on Assassinations (HSCA), criada três anos antes para investigar as mortes de Kennedy e Martin Luther King, cogitou a hipótese de conspiração, mas descartou a participação dos governos soviético e cubano. "A tecnologia proporcionou um maior conhecimento sobre alguns aspectos do crime, mas os resultados apenas apoiaram as conclusões oficiais", diz Mack.

Surge uma nova dúvida: será que a ciência forense conseguiria dar alguma resposta? Para o perito Ricardo Molina, da Universidade Estadual de Campinas, a computação gráfica, um recurso inexistente na época, consegue.

O filme de Abraham Zapruder - o único que registrou o instante em que Kennedy e Connally foram baleados - foi recriado, quadro a quadro, pela computação gráfica. E a conclusão é que "a trajetória do projétil é compatível com os ferimentos observados".

"É preciso considerar que se tratava de um projétil de alta energia, calibre 6.5 mm. Ainda que, no percurso, colidisse eventualmente com algum tecido ósseo, a bala era capaz de transfixar uma ou mais pessoas sem dificuldade", diz Molina, que trabalhou em casos de repercussão nacional como o assassinato de Paulo César Farias e a chacina de Eldorado dos Carajás. "Minha opinião é a de que a teoria oficial está correta. Agora, se Oswald agiu sozinho ou não, é outra questão", afirma.

Em outubro de 2017, o governo dos EUA divulgou antigos documentos sobre a polêmica morte do presidente. O total de 2.891 registros não revelou nada do que não se sabia: o franco-atirador Lee Harvey Oswald agiu sozinho e continua sendo o responsável pelo assassinato do ex-presidente.

Porém, a pedido da CIA, FBI e outras agências, algumas informações nesses documentos foram retidas. De acordo com as agências, os dados possuem "informação sensível".


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