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Matérias / Estados Unidos

Natal nas Trevas : O longo boa noite de Barrow

O vilarejo no Alasca fica imerso em puro breu durante as semanas mais brutais do inverno

M. R. Terci Publicado em 24/12/2019, às 08h00

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Cena do filme 30 Dias de Noite - Divulgação
Cena do filme 30 Dias de Noite - Divulgação

Para muitos o Natal representa o retorno da luz do dia. No maior Estado em extensão territorial dos Estados Unidos, Alasca, entretanto, nos meses de inverno quase não há luz solar, apenas horas e, mais ao norte, na região do círculo polar ártico, é noite constante por meses.

Quem não leu 30 Dias de Noite, HQ escrita por Steve Niles com arte de Ben Templesmith, ou não assistiu sua adaptação cinematográfica com Josh Hartnett, talvez não conheça Barrow, um vilarejo no Alasca que fica imerso em puro breu durante as semanas mais brutais do inverno.

O Alasca é imenso e repleto de contrastes. De grandes centros metropolitanos a ermas vilas que só se tem acesso por avião ou trenó; de florestas chuvosas e sem neve a áreas de tundra e extremo frio onde não existe qualquer tipo de vegetação. De todas essas paragens, Barrow, apesar do tamanho, é uma cidade que merece destaque.

No dia 19 de novembro, o sol se pôs na cidade e só voltará a nascer no dia 23 de janeiro de 2020. Esse é um período de 67 dias de escuridão total de Barrow.

Centenas de milhas ao norte do Círculo Polar Ártico, é a cidade mais ao norte dos Estados Unidos. Segundo o último o senso, possuí uma população de 4429 habitantes, sendo que 61% deles são inupiats, nativos nômades que habitam a costa ocidental do Alasca há muito tempo.

Na linguagem inupiaq a localização da vila é chamada Ukpeagvik, que significa o lugar onde nós caçamos coruja-da-neve. Sítios arqueológicos na área, com vestígios de habitações de sua cultura, indicam que os inupiat viviam na área desde o ano 500.

Ao longo do século 19, a Marinha Real esteve na área algumas vezes para mapear e explorar a costa ártica da América do Norte. O nome Barrow devia-se o nome ao ponto denominado Point Barrow, que foi assim nomeado em 1825 por Frederick William Beechey em homenagem a Sir John Barrow, notável explorador do Almirantado do Reino Unido. Posteriormente, o exército dos Estados Unidos estabeleceu um centro de pesquisa meteorológico e magnético em 1881.

Em 1888 uma igreja presbiteriana foi construída no local e um posto do Correio dos Estados Unidos foi aberto em 1901.

Em 1935, o famoso humorista norte-americano Will Rogers e o piloto Wiley Post sofreram um acidente fatal no local quando seu avião derrapou na neve e caiu num rio, matando ambos. O aeroporto de Barrow se tornou então conhecido como ponto Rogers-Post, numa referência macabra ao ocorrido.

Cena de 30 Dias de Noite / Crédito: Divulgação

A vila de Barrow recebeu o status de cidade em 1958 e, em 1972, o bairro residencial e comercial de Nort Slope foi finalmente estabelecido, propiciando aos moradores de Barrow uma vida mais confortável, em comunidade propriamente dita, com saneamento, abastecimento de água e energia, estradas, corpos de bombeiros e estabelecimentos de saúde e educação.

Apesar do longo período sem a luz do sol, seus moradores já estão familiarizados a longas noites sem ver a luz do dia.

Logo após a criação de Nort Slope, Barrow se tornou a cidade com a maior oferta de empregos da região e com diversas empresas que oferecem serviços de apoio as operações nos campos de exploração de petróleo. Além disso, agências estaduais e federais também são fontes de emprego na gélida paragem. O sol da meia-noite tem atraído turistas e o artesanato local também provê renda.

A pesca é o principal meio de subsistência, mas pesar de tudo, devido ao isolamento e condições extremas do lugar, muitos moradores dependem de outras fontes como caça à baleias, focas, ursos polares, morsas e aves aquáticas. Em Barrow, o verão é muito frio; o inverno é longo, congelante, seco e de ventos fortes. Durante o ano inteiro, o tempo é de céu encoberto. Ao longo do ano, em geral a temperatura varia de -28 °C a 9 °C e raramente é inferior a -38 °C ou superior a 15 °C.

Além das baixas temperaturas e da noite polar, Barrow é um dos lugares mais nublados da Terra. Passa metade do ano sob nuvens que chegam do leste, advindas do Oceano Ártico. Um cenário horripilante e deprimente, que levou as autoridades a promulgar a lei seca, proibindo o comércio de bebida alcoólica. A importação, contudo, é liberada desde que a posse e consumo seja feita no âmbito caseiro.

Um lugar inóspito, tenebroso, com ventos uivantes e amedrontadores, onde seus moradores, sujeitos ao isolamento e às temperaturas extremas, não gostam de pensar em vampiros e outras criaturas do imaginário popular.

Motivados por isso, talvez, num referendo em 2016, os moradores aprovaram a mudança do nome da cidade de Barrow para seu tradicional nome na língua iñupiaq, Utqiagvik.


M.R. Terci é escritor e roteirista; criador de “Imperiais de Gran Abuelo” (2018), romance finalista no Prêmio Cubo de Ouro, que tem como cenário a Guerra Paraguai, e “Bairro da Cripta” (2019), ambientado na Belle Époque brasileira, ambos publicados pela Editora Pandorga.


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30 Dias de Noite: Edição Comemorativa, Steve Niles (2019)

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Um cântico de Natal e outras histórias, Charles Dickens (2015)

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Um conto de Natal, China Miéville (e-book)

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