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Matérias / Holocausto

A história por trás da carta de vítima do Holocausto encontrada em bazar

Em 2021, uma mulher comprou uma carta de mais de 75 anos que revelou uma ligação comovente com o Holocausto

Isabelly de Lima Publicado em 17/03/2024, às 13h00

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Carta encontrada em um bazar que pertencia a Ilse Loewenberg - Reprodução / Chelsey Brown e Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos
Carta encontrada em um bazar que pertencia a Ilse Loewenberg - Reprodução / Chelsey Brown e Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos

Os brechós e feiras de antiguidades de Nova York há muito tempo são reconhecidos como refúgios para descobertas únicas e preciosas. Entre os achados, há relíquias familiares há muito perdidas e esquecidas, esperando serem redescobertas por olhos atentos.

Chelsey Brown, uma fervorosa frequentadora desses estabelecimentos, teve uma experiência singular ao deparar-se com uma carta comovente, datada de mais de 75 anos atrás, escrita por um sobrevivente do Holocausto. Essa descoberta, divulgada em 2022, desencadeou uma jornada em busca dos descendentes.

"Assim que a transcrevi, soube imediatamente que precisava ser devolvida à família certa", disse Brown para a ABC News, emocionada com a descoberta da carta no final de 2021.

Carta comprada por Chelsey Brown - Arquivo pessoal

A carta em questão foi escrita por Ilse Loewenberg, uma mulher que escapou de um trem em direção ao campo de concentração de Auschwitz em 1943. Ilse fazia parte de um grupo de resistência clandestino conhecido como Gemeinschaft für Frieden und Aufbau, ou Associação para a Paz e Desenvolvimento.

História comovente

Uma documentação posterior da irmã de Ilse indicou que, após sua fuga, a mulher empreendeu uma perigosa jornada de três dias de volta a Berlim. Em 1944, contudo, foi recapturada e mantida em confinamento solitário até sua libertação pelas tropas russas em julho de 1945. A mulher perdeu a mãe, o pai, duas irmãs e o marido durante o Holocausto.

Após a libertação, Ilse escreveu uma carta emocionante para sua única irmã sobrevivente, Carla, que se mudou para a Inglaterra antes da guerra. Na correspondência, ela expressava uma mistura de dor e gratidão pela chance de comunicar-se novamente.

Através da bondade de nossos libertadores, posso dar-lhes um sinal de vida depois de tantos anos”, escreveu em alemão. "Pai, mãe, Grete, Lottchen e Hermann: ninguém está mais vivo. Minha dor é indescritivelmente grande. Meu marido também foi tirado de mim! … Quando houver uma conexão postal regular, eu contarei tudo em detalhes".

Investigação genealógica

A carta, que Chelsey adquiriu de um vendedor no “bazar”, foi o ponto de partida para uma investigação minuciosa sobre a árvore genealógica de Ilse. Utilizando a plataforma global de história da família MyHeritage, Brown traçou os passos de Ilse e descobriu que tanto ela quanto Carla imigraram para os Estados Unidos, estabelecendo-se em Forest Hills, Nova York, em 1948.

Documento de identificação de Ilse usado durante o Holocausto - Reprodução / Museu Memorial do Holocausto dos Estados Unidos

A busca levou Brown a Jill Butler, filha do irmão do cunhado de Ilse. Jill e Ilse viviam próximas e mantinham um relacionamento afetuoso até o falecimento de Ilse em 2001. Ao receber a carta de Brown, Jill e sua família foram profundamente tocadas.

 “Toda a minha família está realmente maravilhada com tudo o que você fez por nós”, disse Butler em uma carta a Brown. “Todos nós amávamos nossa tia-avó Ilse e estamos muito emocionados ao ler seus pensamentos com sua própria caligrafia depois que ela emergiu das profundezas do inferno europeu”.

A história de Ilse inspirou profundamente Brown, cuja própria família também enfrentou perdas durante o Holocausto, de acordo com a ABC.

“Ela é uma inspiração para que todos possam melhorar na vida. Depois da guerra, Ilse enviou suprimentos para a família que ajudou a escondê-la em Berlim”, disse ela. “Ela realmente é um exemplo de fazer o bem em um mundo ou de ser gentil em um mundo que não existe”.

Raízes perdidas

Para Brown, essa jornada não é apenas sobre restituir objetos perdidos, mas também sobre reconectar pessoas com suas raízes familiares e histórias compartilhadas.

Carta que Chelsey Brown traduziu - Arquivo pessoal

“Isso parte meu coração, porque tenho certeza de que há muitos itens que eu poderia ajudar a reunir com suas famílias legítimas”, contou Brown. "Não deveríamos vender esses itens. Deveria ser ilegal. Eles deveriam voltar para suas famílias".

“A razão pela qual as pessoas conectadas à minha herança retornam às redes sociais é porque isso mostra que há magia na vida das pessoas comuns”, disse Chelsey. “Cada um de nós tem sua ancestralidade e história únicas, e acho que é disso que nosso mundo e nossa geração precisam agora”, finalizou.