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Matérias / Personagem

Há exatos 103 anos, morria Oswaldo Cruz, o polêmico sanitarista brasileiro

O importante médico paulista entrou para a História ao erradicar a varíola e a febre amarela no Rio de Janeiro, mas também gerou revolta com suas campanhas violentas

André Nogueira Publicado em 11/02/2020, às 11h57

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Oswaldo Cruz em foto histórica - Wikimedia Commons
Oswaldo Cruz em foto histórica - Wikimedia Commons

Oswaldo Cruz foi autorizado a vacinar a povaréu contra a varíola nem que fosse debaixo de porrete. Os mata-mosquitos invadiam as casas para combater a febre amarela. Áreas pobres da cidade eram demolidas como medida de higiene.” Descreveu bem Reinaldo Azevedo em sua coluna para a Veja, sobre essa figura tão polêmica, mas pouquíssimo ignorável, que foi o maior sanitarista de nossa história.

Cientista e médico, Oswaldo Gonçalves Cruz nasceu em 1872, no interior de São Paulo, mas desde jovem viveu e estudou na capital imperial, o Rio de Janeiro. Ele foi um dos maiores responsáveis pela disseminação da vacina pelo Brasil, pela construção de um aparato humano e técnico que aproximou o Brasil da medicina ocidental clássica e pela erradicação da varíola, ao mesmo tempo em que foi um dos maiores alvos da Revolta da Vacina.

Em 1892, ele se formou médico sanitarista, apresentando uma tese de doutorado em microbiologia e epidemiologia, chegando a publicar na Revista Brasil Médico. Seu interesse pela área era tão grande que, durante a graduação, ele montou um laboratório no porão de sua casa, até integrar a equipe de laboratório clínico da Policlínica Geral do Rio de Janeiro. Depois, teve a oportunidade de estudar os temas com profundidade em Paris, França.

Oswaldo G. Cruz / Crédito: Wikimedia Commons

Após seu retorno ao Brasil, o sanitarista voltou a trabalhar na Policlínica Geral, fazendo parte de um estudo sobre a mortandade dos ratos de disseminavam a peste bubônica em Santos. Mas foi com seu retorno à capital que se deu início a sua trajetória mais conhecido: assumiu a direção técnica do Instituto Soroterápico Federal, onde no futuro seria criada a Instituto Oswaldo Cruz, em Manguinhos. Logo, ele se tornou diretor geral da fundação.

Sob Cruz, a maior equipe de bacteriologistas do Brasil passou a fundamentar sua pesquisa numa visão pública da atividade médica, visando a disseminação da cura de patologias e na ampliação da fabricação de remédios. Com isso, ele liderou a fabricação em massa do soro antipestoso no Rio, ao mesmo tempo em que o instituto investia em formação de recursos humanos e pesquisa básica.

Seu trabalho o levou a ser indicado pelo Ministro da Justiça do então governo Rodrigues Alves, o jurista José Joaquim Seabra, para assumir a diretoria-Geral de Saúde Pública. Foi como agente público que Oswaldo Cruz atingiu seu auge em termos de superação dos parâmetros brasileiros em relação à saúde da população, ao mesmo tempo em que ganhou sua eterna marca de autoritarismo, violência e abusos.

Cruz contra a peste e a febre / Crédito: Museu da Funasa

Em primeiro lugar, o desafio dado a Oswaldo Cruz não era pequeno nem fácil: em meio a uma crise da saúde, sua missão principal era erradicar três doenças que assolavam o Rio de Janeiro, prejudicando todo o funcionamento da cidade. Febre amarela, varíola e peste bubônica não eram controladas e geraram caos entre a população. Cruz então iniciou uma política de isolamento dos doentes, tratamento, desinfecção ambiental e combate a vetores animais.

Com apoio técnico do Instituto Soroterápico, ele conseguiu exterminar os ratos que transmitiam as pulgas que carregavam a peste, diminuindo consideravelmente a incidência da doença. Já no campo das outras doenças, ele conseguiu arranjar briga com a comunidade médica e com a população carioca.

Com os médicos, ele estava certo em relação a uma contenda técnica. Isso porque a teoria em vigor entre os epidemiologistas era a de que a febre amarela era transmitida por contato humano direto, principalmente via suor e sangue. Porém, como hoje se sabe, Oswaldo teorizava que a doença era transmitida por mosquitos.

Então, ele encerrou operações de desinfecção relacionadas a essa doença e passou a comandar ações de eliminação de focos de proliferação do inseto e vacinação compulsória da população.

Oswaldo Cruz em pausa do trabalho / Crédito: Domínio Público

E foi com isso que o médico entrou em atrito com o povo. Sua prática política caminhava no sentido de obrigar as pessoas a aceitarem suas decisões, e os representantes da Diretora de Saúde passaram a invadir casas, subir favelas e cooptar famílias não apenas em busca de água parada e ninhos de insetos, mas também para, à força, realizar a vacinação, que era mal compreendida pela população em geral. Enquanto muitos não sabiam o que sequer estava acontecendo, agentes do governo abaixavam suas calças e lhe enfiavam seringas pontiagudas.

Os novos surtos de varíola levaram a população ao seu máximo de revolta, pois o Diretor de Saúde deu início a uma campanha de vacinação em massa nas periferias, o que gerou revolta até na mídia, que caiu em pelo contra Oswaldo Cruz. Até o Congresso Nacional lançou movimentos contra a vacinação obrigatória até que tudo isso desencadeou a famosa Revolta da Vacina de 1904, quando a população transformou a capital em zona de guerra contra o governo.

Naquele ano, a revolta popular iniciada nas favelas logo ganhou apoio de setores centrais como a imprensa e o comércio, até que os militares aderiram à pauta e a Escola Militar da Praia Vermelha se levantou contra o governo. O Exército reprimiu duramente a rebelião, que acabou no mesmo ano.

Mesmo que a vacinação obrigatória tenha sido abolida, as campanhas estatais erradicaram a febre amarela e convenceram o povo a, quando uma nova epidemia de varíola se alastrou em 1908, buscarem os postos de saúde pela injeção.

Clássica charge sobre o sanitarismo de Oswaldo Cruz / Crédito: Wikimedia Commons

Em 1908, mesmo ano em que se funda o instituto com o seu nome em Manguinhos, ele foi integrante de missões que mapearam as condições sanitárias nos sertões, e, em 1910, participou das caravanas médicas de combate aos casos de malária na construção da Ferrovia Madeira Mamoré. Deixando o governo, passou a se dedicarão ofício: expandiu o tratamento contra doenças no interior, erradicou a febre amarela no Pará e criou redes de saneamento na Amazônia.

Porém, sua saúde começou a se debilitar e, em 1915, deixou o Instituto Oswaldo Cruz e mudou-se para Petrópolis. Era tão conhecido que se tornou prefeito da cidade, com planos de uma reurbanização modernizadora. Porém, dois anos depois, ele morreu por conta de uma crise de insuficiência renal, aos 44 anos.

Oswaldo Cruz foi um dos mais importantes médicos do Brasil, sendo reconhecido aqui e no mundo como um dos mais importantes atuadores nas áreas de epidemiologia, bacteriologia, infecciologia, saúde pública, imunologia e vacinação. Ainda em vida, foi agraciado com uma medalha de ouro pelo Congresso Internacional de Higiene e Demografia de Berlim (Alemanha). É até hoje considerado Herói Nacional.


+ Saiba mais sobre essa figura pelas obras abaixo:

Oswaldo Cruz: a construção de um mito na ciência brasileira, de Nara Britto (1995) - https://amzn.to/38jlhN8

Oswaldo Cruz E Carlos Chagas. O Nascimento Da Ciência No Brasil, de Moacyr Scliar (2007) - https://amzn.to/2UHCtrC

A Revolta da Vacina, de Nicolau Sevcenko (2018) - https://amzn.to/2vrcXwo

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