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Matérias / Caso Narvarte

O Caso Narvarte: A execução de cinco pessoas em plena luz do dia

Críticos ferrenhos do governador Javier Duarte, um fotojornalista e uma ativista foram vítimas de um crime que permanece sem respostas contundentes

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 11/12/2022, às 12h06 - Atualizado em 19/06/2023, às 09h39

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As vítimas do caso Narvarte - Divulgação/Netflix
As vítimas do caso Narvarte - Divulgação/Netflix

No dia 31 de julho de 2015, cinco pessoas foram executadas em um apartamento no bairro de Narvarte, região de classe média na Cidade do México. Todas as vítimas levaram um tiro na cabeça com uma pistola 9 milímetros. 

Duas delas, o fotojornalista Rubén Espinosa (então com 31 anos) e a ativista Nadia Vera (32), eram críticos ferrenhos de Javier Duarte, governador de Veracruz. Ambos já havia, inclusive, relatado terem recebido ameaças de morte e passado por diversos episódios de intimidação. 

O assassinato da dupla, junto com os outras três mulheres — o que incluia as companheiras de apartamento de Vera: Yesenia Quiroz (de 18 anos) e Mile Virginia Martín (31), além da camareira Alejandra Negrete (40) — provocou um clamor internacional que se intensifica a cada dia; visto que o caso permanece ‘sem solução’

Rubén Espinosa

Fotojornalista, Rubén Espinosa trabalhou por oito anos em Veracruz, se especializando em cobrir movimentos sociais e atos de repressão violenta que esses grupos enfrentavam, recorda matéria do New Yorker. 

O jornalista Rubén Espinosa/ Crédito: Reprodução/SinEmbargo

Espinosa também fez registros memoráveis do governador Duarte, membro do Partido Revolucionário Institucional (PRI). Uma dessas fotos, aliás, estampou a capa da revista Proceso que continha a manchete: “Veracruz: Um estado sem lei”. 

Ele disse ao portal SinEmbargo que a foto irritou especialmente Duarte. O governador, aliás, após a publicação, tentou comprar a tiragem local da revista, com a intenção de que ninguém pudesse ter acesso ao seu conteúdo. 

Segundo matéria do Artículo19, Rubén Espinosa foi o décimo quarto jornalista assassinado em Veracruz desde que Duarte se tornou governador, em 2010. Em seus oito anos na cidade, o fotojornalista revelou que costumava ser agredido e assediado pelas autoridades policiais. 

Em 2012, em Xalapa, capital do estado, ele cobria um protesto organizado pelo movimento estudantil #YoSoy132, quando foi agarrado pelo pescoço e advertido: “Bájale de güevos [‘baixa bola’ em tradução livre], se você não quer acabar como Regina.”

A ameaça dizia respeito ao que aconteceu com Regina Martínez, outra jornalista de Veracruz que foi assassinada naquele ano. Convencido de que estava sendo vigiado, entendeu que sua vida corria perigo e decidiu se mudar para a Cidade do México, onde havia crescido e tinha parentes. A precaução não foi o suficiente. 

Nádia Vera

Amiga de Rubén, Nadia Vera era antropóloga social e membro da Assembleia Estudantil da Universidade de Veracruz e do movimento estudantil #YoSoy132. Natural de Chiapas, sempre foi muito engajada politicamente — o que sempre a tornava alvo da ação truculenta das autoridades. 

Para se ter ideia de como eram os ataques, segundo o The New Yorker, certa vez, estudantes e ativistas foram espancados e amedrontados por um grupo de mascarados, que invadiu a residência de oito alunos da Universidade de Veracruz. Reunidos no local, o grupo foi atacado com bastões e facões, o que deixou alguns desfigurados. O governo, porém, sempre negou participação no ato.  

A ativista Nadia Vera/ Crédito: Divulgação/Arquivo Pessoal/ Oscar Villatoro Rubio

O medo fez Vera se mudar para a Cidade do México, mas não sem antes ela ser entrevistada para o documentário ‘Veracruz: la fosa olvidada’, onde declarou que se algo acontecesse com ela ou seus colegas, seria responsabilidade de Duarte

Os assassinatos de 2015 só chamaram ainda mais a atenção da mídia internacional. Afinal, de acordo com a BBC, desde o ano 2000, ao menos 88 jornalistas foram assassinados em todo o México.   

O que deixa as execuções ainda mais assombrosas é o fato de que, cerca de um mês antes, o governador Javier Duarte havia feito ameaças não muito veladas em um pronunciamento público, onde acusou “funcionários da mídia” de “terem ligações” com o crime organizado. 

Comportem-se”, advertiu. “Sabemos quais de vocês estão no caminho errado.. Vamos sacudir a árvore e muitas maçãs podres vão cair.”

As investigações

Após os crimes, organizações internacionais de Direitos Humanos e grupos de liberdade de expressão pressionaram para que os assassinatos de Narvarte fossem totalmente investigados como um possível crime político. 

Além do mais, Espinosa e Vera eram refugiados internos do estado extremamente violento de Veracruz e expressaram abertamente temores de serem alvos de suas autoridades.

Comnforme disse o renomado escritor e jornalista mexicano Juan Villoro, ao jornal espanhol El Mundo: “No México, a polícia e o exército causam tanto medo quanto o crime organizado… a maioria dos jornalistas mortos no México foi assassinado por pessoas ligadas ao governo”.

Protestos contra a morte de Rubén Espinosa/ Crédito: Divulgação/Netflix

Sete anos se passaram desde os assassinatos e, conforme recorda o portal Pié de Pagina, a Procuradoria-Geral da Cidade do México jamais foi capaz de oferecer esclarecimentos sobre as mortes. 

“Existem oito hipóteses diferentes sobre o que aconteceu naquele dia, 31 de julho de 2015, que pretendem nos levar à pessoa que planejou, ou às pessoas que o planejaram; independentemente disso, depois de sete anos nenhuma das oito linhas de investigação foi esgotada. Estamos exatamente como no primeiro dia, estamos trabalhando para tentar fazer a investigação avançar pela primeira vez”, disse Edgardo Calderón, do portal Artículo 19. 

De acordo com a BBC, as câmeras de segurança flagraram três suspeitos saindo do apartamento, sendo que um pegou o carro de uma das vítimas e fugiu com ele. O veículo foi encontrado, posteriormente, abandonado e com vários objetos roubados da residência. 

Em agosto de 2015, um estuprador em série — não identificado — foi preso pelas mortes das vítimas. Suas impressões digitais combinavam com as evidências encontradas no apartamento. Ainda há uma investigação em andamento para os outros dois suspeitos capturados no vídeo de vigilância.

Porém, segundo o Artículo 19, há indícios de que pelo menos cinco pessoas tiveram envolvimento no planejamento e execução dos homicídios. O episódio é contado no documentário da Netflix ‘Em Plena Luz do Dia: O caso Narvarte’.