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Matérias / Iwao Hakamada

Libertado após 45 anos: O condenado à morte mais antigo do mundo

O homem passou décadas preso no sistema carcerário do Japão, porém uma revisão de seu caso sugeriu que ele teria sido injustiçado

Ingredi Brunato Publicado em 18/03/2023, às 09h00

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Iwao Hakamada - Divulgação/ Youtube/ Vice
Iwao Hakamada - Divulgação/ Youtube/ Vice

Iwao Hakamada é um homem japonês que passou 45 anos no corredor da morte, sendo considerado pela Anistia Internacional como o condenado à pena capital que passou mais tempo esperando por sua execução.

Uma reviravolta de eventos, todavia, fez com que o processo que o colocou atrás das grades fosse alvo de questionamento, levando-o a recuperar sua liberdade em 2014, quando já tinha 78 anos. 

Mais recentemente, o caso de Iwao — que está hoje aos 87 — ganhou novos desdobramentos, com um outro julgamento sendo marcado para avaliar sua situação, conforme informou a BBC. 

Assassinatos 

Em 1966, Iwao Hakamada  era um ex-boxeador que trabalhava em uma empresa alimentícia destinada à produção de missô, que é um ingrediente de soja utilizado em muitos pratos típicos da culinária do Japão. 

Embora não houvesse evidências aparentes conectando-o ao crime, ele acabou sendo preso como principal suspeito quando seu chefe, assim como a esposa e os dois filhos do homem, foram brutalmente assassinados na residência em que moravam. O responsável por atacar a família teria ainda saqueado e iniciado um incêndio no local. 

Neste período inicial de detenção, Iwao foi submetido a um longo interrogatório durante o qual não teve um advogado presente para defendê-lo. Após 20 dias, ele confessou ter cometido o homicídio quádruplo, além do roubo e incêndio criminoso, de acordo o site oficial da Anistia Internacional, que é uma ONG de defesa dos direitos humanos. 

Mais tarde, porém, o japonês retiraria sua confissão, afirmando que foi torturado pelos oficiais que o interrogaram, tendo sido repetidamente espancado e ameaçado. 

Contrapontos à condenação 

Iwao Hakamada ao lado de irmã, que sempre lutou pela sua liberdade / Crédito: Divulgação/ Youtube/ Vice

Como confissões precisam ser assinadas de livre e espontânea vontade para terem validade em tribunal, dos 45 documentos apresentados à corte pelos promotores que acusavam Hakamada pelos crimes, 44 acabaram sendo descartados. As evidências nas quais sua convicção de 1968 foi baseada, portanto, eram limitadas.

Outro detalhe de relevância é que um dos responsáveis por condená-lo ao corredor da morte se arrependeu amargamente de ter contribuído para a sentença. Em entrevista divulgada também pela ONG, Kumamoto Norimichi, que é um dos três juízes que determinou a pena de Iwao, revelou seus pensamentos a respeito do caso: 

Olhando para as evidências, não havia quase nada além da confissão, e isso foi feito sob intenso interrogatório (...) Não consegui convencer os outros dois juízes de que Hakamada era inocente, então tive que sentenciá-lo", comentou ele.

Ter feito parte do acontecimento acabou atormentando Norimichi, o que inclusive fez com que abandonasse a profissão: 

Não aguentei o peso da consciência, então seis meses depois tive que renunciar ao cargo de juiz (...) Desde que o havia condenado, me senti extremamente culpado por ter de sentenciar um homem inocente. Ainda me sinto, até hoje", acrescentou o ex-juiz. 

Liberdade 

Iwao Hakamada em entrevista / Crédito: Divulgação/ Youtube/ France 24

Em 2014, Iwao Hakamada acabou tendo sua convicção revisitada, ao que a pena de morte foi revertida em decisão judicial. Foi assim que, após 45 anos no corredor da morte, o homem conseguiu recuperar sua liberdade. 

Existe a possibilidade de que [peças-chave de] evidências tenham sido fabricadas por órgãos investigativos (...) É injusto deter o réu ainda mais, pois a possibilidade de sua inocência tornou-se clara em um grau respeitável", afirmou o juiz Hiroaki Murayama, que foi responsável por libertar o preso, de acordo com o The Guardian. 

Na época, vale mencionar que o ex-boxeador já possuía dificuldades de mobilidade devido à sua idade avançada, e também diversos problemas de saúde mental resultantes de seus mais de quarenta anos no corredor da morte. 

Isso porque Iwao teria não apenas passado a maior parte deste período em confinamento solitário, como também não tinha como saber a data de sua execução — no sistema prisional do Japão, os condenados não costumam ser avisados previamente do dia em que será cumprida sua pena capital, sendo assim deixados em constante expectativa. 

O senhor mora com sua irmã desde que saiu da cadeia, e, com a recente marcação de seu novo julgamento, é possível que finalmente receba uma conclusão justa para a direção tomada por sua vida após aquele primeiro interrogatório.