O caso, revelado quase um século após o nascimento da herdeira, marcou a história norte-americana
Éric Moreira, sob supervisão de Wallacy Ferrari Publicado em 12/08/2022, às 15h47
Desde a época em que George Washington era presidente dos Estados Unidos, muitas polêmicas e fofocas giram em torno das grandes figuras nacionais, sendo muito recorrentes os rumores de casos extraconjugais de vários dos líderes.
No entanto, o que sempre privilegiou os representantes do país antigamente era a impossibilidade de se comprovar um filho, o que muitas vezes fazia com que eles terminassem seu período de regência com uma reputação imaculada.
Graças à tecnologias disponível hoje em dia — algumas nem tão recentes, na verdade —, é possível trilhar a genealogia e comprovar se uma criança é fruto de um relacionamento extraconjugal, através de testes de DNA.
Assim, a tecnologia entrou para a história dos Estados Unidos mais uma vez após revelar, em 2015, uma filha 'perdida' do antigo presidente Warren G. Harding, que serviu de 1921 até sua morte, em 1923.
Antes de se tornar o 29º presidente, o republicano Harding aparentemente teve uma criança com Nan Britton, 31 anos mais nova, que contou sua história no livro 'The President's Daughter'. No entanto, os descendentes reconhecidos do antigo presidente negavam a acusação de traição por parte de Warren, mas, em 2015, seus sobrinhos-netos Abigail e Peter Harding decidiram, finalmente, que era hora de prestar contas.
Uma coisa que todos merecem saber é quem são, se puderem. De onde vêm. Quem são seus ancestrais", conta Abigail Harding ao New Day, como informado pela CNN em 2015.
Foi então que os primos Abigail e Peter Harding entraram em contato com Jim Blaesing, bisneto de Britton. Segundo a garota, a família que se construiu depois de Nan Britton "estava nervosa e muito desconfiada", de forma que alguns sequer tinham interesse em desenterrar esse passado.
No entanto, os primos Harding e Jim Blaesing estavam curiosos para desvender o mistério em torno das famílias, e buscaram de fato identificar seus ancestrais. Então, Abigail, que já havia feito um perfil genético no Ancestry.com — empresa estadunidense de genealogia — sugeriu que Blaesing fizesse o mesmo.
Logo antes dos resultados saírem, tínhamos um pouco de medo, você sabe, e se os resultados fossem negativos?", disse Abigail à CNN na época.
Então logo depois ela recebeu uma mensagem em sua conta no Ancestry que dizia que, de fato, os primos Harding tinham um grau de parentesco com os Blaesing — com uma chance de certeza de 99,9%.
A revelação de que Warren Harding teve uma criança fora de seu casamento, por sua vez, não chegou sequer a manchar a imagem que o ex-presidente tinha. Isso porque ela, na verdade, já não era das mais invejáveis, visto que já se era de conhecimento geral, após a notícia, de que Nan Britton não era sua única amante.
Harding já teve que administrar sua reputação depois de se casar com Florence Kling De Wolfe em 1891. Ela era uma mulher divorciada, o que era desaprovado na sociedade da época, e muitos consideravam a ação um tipo de adultério.
Além do mais, mesmo durante seu casamento e até em paralelo ao caso com Britton, Harding também estava saindo com Carrie Fulton Phillips, a esposa de um dono de loja em Ohio. Eles foram amantes de 1905 até 1920, pouco antes de Harding assumir o cargo, de acordo com a Biblioteca do Congresso dos Estados Unidos.
Em 2014, o órgão havia confirmado o caso entre o antigo presidente e Carrie Phillips, quando divulgou suas cartas de amor endereçadas a mulher, que continham até mesmo alguns detalhes obsenos. Acredita-se até que Harding pode ter enviado cartas semelhantes a Britton, mas devem ter sido destruídas a pedido do presidente.
Após a morte de Warren Harding em 2 de agosto de 1923, vítima de um ataque cardíaco, Britton descobriu que o presidente não havia feito provisões visando cuidar de sua filha, a pequena Elizabeth Ann Blaesing. Então, pensando parcialmente em arrecadar dinheiro, mas também para contar sua história, a mulher escreveu alguns anos depois o livro 'The President's Daughter' ('A filha do presidente', em tradução literal).
Nele, Britton descrevia brincadeiras envolvendo ela e Harding, e ainda conta que ele a instalou em uma casa em Nova Jersey quando ainda era senador. Logo, Alizabeth Ann nasceu ali, na residência, em segredo, e não em um hospital, visto que toda a relação entre ela e o político devia ser mantida em segredo.
No entanto, na época em que o livro foi lançado, a família de Warren Harding o desprezou, além da escritora, de forma que o público também se voltou contra a mulher e ela foi, então, taxada como mentirosa. Até que, então, Abigail leu a história, muitos anos depois, e trouxe a verdade à tona.
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