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Matérias / Brasil

O morador de rua que deu a vida para salvar uma mulher na frente da Catedral da Sé

Era setembro de 2015 quando uma mulher foi tomada como refém na escadaria da Catedral da Sé e foi salva por um morador de rua nas proximidades

Éric Moreira Publicado em 09/04/2023, às 10h00 - Atualizado em 10/04/2023, às 09h17

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Imagem de câmera de segurança que registrou Francisco Erasmo Rodrigues de Lima subindo escadaria para salvar refém - Reprodução/Vídeo
Imagem de câmera de segurança que registrou Francisco Erasmo Rodrigues de Lima subindo escadaria para salvar refém - Reprodução/Vídeo

Em setembro de 2015, uma cena chocante e assustadora parou parte da cidade de São Paulo, nas redondezas da Catedral da Sé. Isso porque, na escadaria do local, uma mulher de 25 anos que estava dentro da igreja foi feita como refém por um homem armado, mas, para a surpresa de todos, foi salva por um morador de rua — este, porém, infelizmente perdeu sua vida no processo.

"Eu estava dentro da igreja, fui abordada. Chegou próximo de mim e falou: ‘Vem comigo’. Eu falei: ‘Não, não vou'. Foi na hora que ele mostrou a arma", narrou a mulher em entrevista ao Fantástico, dois dias depois do acontecimento.

O homem armado, por sua vez, era Luiz Antônio da Silva, de 49 anos. De acordo com o Fantástico, ele já tinha uma extensa ficha criminal quando protagonizou o acontecimento; nela, constatava-se tentativa de homicídio, tentativas de furtos, lesão corporal, resistência à prisão e tráfico de drogas. A vítima, porém, alegou que sequer o conhecia, e não sabia por que ele a atacou.

Desci as escadas todinhas com ele. Quando eu avistei os policiais, eles vieram e abordaram ele. Quando falaram ‘mão pra cima’, ele começou a dar tiro nos policiais. Me segurou, começou a subir de novo as escadas comigo. Teve uma hora que ele escorregou, foi a hora que eu consegui segurar a arma dele. Foi na hora que ele puxou com tudo, aí acabou atingindo meu olho", contou a refém.

Confusão

Foi então que toda a situação ficou mais tensa. Enquanto muita confusão acontecia em frente às escadarias da Catedral da Sé, envolvendo não só a vítima como também o homem armado e policiais, outro homem, que nada tinha a ver com aquilo, subiu as escadas rapidamente, no canto.

Imagem de câmera de segurança onde é possível ver Francisco subindo a escadaria da Catedral da Sé, pouco antes de intervir em caso de mantimento de refém
Imagem de câmera de segurança onde é possível ver Francisco subindo a escadaria da Catedral da Sé, pouco antes de intervir em caso com refém / Crédito: Reprodução/Vídeo

E para a surpresa de todos que presenciaram a situação, o homem — um morador de rua identificado como Francisco Erasmo Rodrigues de Lima, de 61 anos — andou sorrateiramente até o topo da escadaria e, então, se jogou em direção ao bandido armado.

O senhorzinho veio, empurrou ele e os dois caíram. Na hora que eu me levantei. Desci as escadas correndo. Ainda eu vi o senhorzinho sendo atingido", narrou a refém ao Fantástico, sobre o momento em que foi salva.

Na ocasião, o homem armado disparou duas vezes contra o morador de rua, que não se intimidou e seguiu avançando em direção a ele, enquanto paralelamente a polícia também disparava em direção ao sequestrador. "O senhorzinho interveio por mim e deu a vida por mim", afirmou a refém, na época.

Francisco Erasmo Rodrigues de Lima, a pessoa em situação de rua que salvou a mulher naquele setembro de 2015, tinha 61 anos e fazia bicos como pedreiro ocasionalmente. Com quatro filhos, "sempre foi um bom pai", como contou Juliana, a filha mais velha, ao Fantástico, que também entrou em contato com Izabel, ex-mulher do homem.

Ele foi criado sem pai, sem mãe. Não tem irmão, não tem irmã. Eu falei pra ele que eu ia ser a família dele e a gente ia ter a nossa família. Então foi aí que eu casei com ele", contou Izabel.
Izabel, ex-esposa de Francisco
Izabel, ex-esposa de Francisco, durante fala ao Fantástico / Crédito: Reprodução/Vídeo

Porém, em 2005 o casal se separou, após 23 anos juntos, pois, a esposa "não gostava que ele bebia". "Ele saiu de casa e foi morar na rua", disse.

Já os filhos, por sua vez, tentaram tirar o pai das ruas em diversas ocasiões. "Falava assim: 'Pai, sai dessa vida. Vem morar comigo no Paraná’. Ele sempre falava que não queria, que ele queria ter a vida dele, queria ser livre. No meu aniversário, ele me ligava. Sempre foi presente em tudo. Falava: ‘Você está bem, está precisando de alguma coisa?'", contou Juliana.

Além do mais, a Secretaria de Segurança Pública revelou que Franciscotambém tinha passagens pela polícia, por acusações como causar um incêndio, colocar a vida de pessoas em risco, receptação de produtos roubados e homicídio. No caso do último crime, Izabel explicou ao Fantástico que ocorrera 30 anos antes: "Ele bebeu, eles discutiram. E foi onde que ele esfaqueou um rapaz", mas Francisco não foi condenado na época porque agiu em legítima defesa, na ocasião.

Acompanhado pela TV

Como já mencionado, o caso em que a jovem de 25 anos foi feita como refém na escadaria da Catedral da Sé parou a cidade de São Paulo, não sendo só assistida por transeuntes locais, como também por muito mais gente em casa, pela televisão. E entre as pessoas que viram o evento televisionado, estava a própria Juliana, filha mais velha de Francisco.

Liguei a televisão e aí eu vi meu pai na frente da igreja, caído. Na hora, eu caí assim, comecei a chorar. A gente nunca imaginava que ele ia entrar na frente de uma bala. Por causa de uma pessoa que ele nunca viu. Não sabe nem quem que é", contou a mulher.

Izabel, a ex-mulher, alegou ao Fantástico que supunha que o ex-marido não sabia que o homem estava armado, para ter agido de forma tão impulsiva. Ainda contou que aquela não era a primeira vez que ele tentava apartar uma briga: "Quando meus vizinhos brigavam, ele ia lá e separava. Não gostava que brigava. Do homem bater na mulher, ele não gostava."

Não dá para entender. Vou sentir saudade, sim. Foi um bom pai, foi um bom marido", disse, por fim, Izabel.