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Matérias / Mundo Animal

O prédio de São Paulo que é 'enfeitado' por maritacas há anos

Localizado no Tatuapé, condomínio é visitado por periquitão-maracanã todos os dias, mas qual a explicação?

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 08/08/2023, às 18h00 - Atualizado em 06/09/2023, às 19h31

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Maritacas na parede do prédio e foto do periquitão-maracanã - Reprodução/Video e Guilherme Brandão via Wikimedia Commons
Maritacas na parede do prédio e foto do periquitão-maracanã - Reprodução/Video e Guilherme Brandão via Wikimedia Commons

Por seus prédios, arranha-céus e construções a se perder de vista, São Paulo é conhecida como Selva de Pedra. Mas apesar da insistência em ocupar todas suas áreas verdes, a natureza ainda se faz presente em alguns pontos da cidade.

Um desses lugares em que a fauna ainda entra em conflito o avanço predatório da civilização moderna pode ser visto em um condomínio localizado na Rua Aguapeí, no bairro do Tatuapé, localizado na Zona Leste do estado de São Paulo.

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Por lá, residentes acordam todos os dias com um som incomum para quem está acostumado a viver em uma grande metrópole: o cantar de inúmeras maritacas, como o periquitão-maracanã (Psittacara leucophthalmus) é popularmente conhecido.

Há décadas, as aves visitam a estrutura do prédio e já se tornaram um espetáculo particular para quem vive no prédio. "No começo, o barulho incomodava um pouco e, às vezes, acordávamos cedo com o som delas. Mas, com o passar do tempo, nos habituamos e tem dias que elas passam despercebidas", disse ao G1 o professor de educação física Bruno Henrique Pereira Moreno, que há uma década vive no local.

Embora diversas famílias de aves habitem a cidade, um grande número como as maritacas do Tatuapé surpreendem até mesmo os especialistas, como o caso da bióloga Raquel Colombo, que estudou uma das parentes das maritacas no meio urbano.

"Eu trabalhei no mestrado com as maracanãs-pequenas (Diopsittaca nobilis). Identificamos no Museu do Ipiranga mais 100 delas em dormitórios coletivos e no Butantã até 400. Mas ainda não tínhamos registros de dormitórios tão numerosos para o periquitão-maracanã", disse ele.

Afinal, qual a explicação por trás de um número tão grande de maritacas abrigarem um espaço urbano como o condomínio localizado no bairro paulistano do Tatuapé?

As possibilidades

Os pesquisadores não sabem explicar ao certo o que levou a grande concentração do periquitão-maracanã na Zona Leste da cidade, mas existem algumas hipóteses que podem ajudar a elucida o fato. Como explica Fábio Ferrão Videira, biólogo Presidente do Centro de Estudos Ornitológicos (CEO), uma destas é a geofagia.

O profissional aponta que, em casos assim, o consumo de terra seria uma forma de diminuir os impactos de outros alimentos que a espécie costuma consumir. "Há relatos de bandos de psitacídeos se aglomerarem em barrões nas margens de rios e em morros, a fim de comer argila para melhorar a nutrição deficiente em minerais e também para neutralizar toxinas de algumas plantas que se alimentam".

Embora o material consiga ser facilmente encontrado nos tijolos do prédio, essa possibilidade parece não ser a mais plausível de todas, visto que as estruturas da construção não apresentam sinais de deterioração causado pelo bico das aves.

Casal de periquitões-maracanã se alimentando de coquinhos/ Crédito: Dario Sanches via Wikimedia Commons

Outro ponto a ser pensado seria que por conta da ausência de áreas florestais, as maritacas escolheram o prédio como um ponto de descanso. Colombo corrobora que durante essa 'pausa' na fachada, elas podem aproveitar para afiar a ponta da mandíbula, o que ajudaria na busca por presas.

Essa situação como um todo demonstra a capacidade dessas espécies em avançar nas áreas urbanas e ocupar espaços novos que estão disponíveis. É uma perspectiva de conquista", pontua a profissional.
Maritacas na parede do prédio/ Crédito: Reprodução/Video

O comportamento natural das aves também pode ajudar a explicar o 'fenômeno', como discorre o biólogo Thiago Filadelfo. Afinal, normalmente, as aves costumam a dormir juntas, como se estivessem em um 'dormitório coletivo'.

Desta forma, elas estariam se reunindo na estrutura da construção antes de se abrigarem nas palmeiras plantadas em frente ao prédio. "Se você parar na frente desse prédio e olhar para as palmeiras, por volta de 16h30 e 17h, deve ver vários grupinhos de maritacas vindo de todos os lugares: Leste, Oeste, Norte, Sul", observa Filadelfo.

Mas quando elas vão para o dormitório, não pousam direto. Ficam nos arredores, olhando para a árvore para ver se está tudo certo."

Assim, a reunião nas paredes do condomínio seria um passo anterior ao pouso nas palmeiras. O mesmo aconteceria na hora do despertar, quando elas deixam o dormitório coletivo e se agrupam no prédio antes de saírem para voar.