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Matérias / Submarino

O submarino resgatado a 480 m de profundidade há 50 anos

O Pisces III passou mais de três dias submerso, e, quando seus tripulantes finalmente foram libertos, restava apenas 12 minutos de oxigênio

Ingredi Brunato Publicado em 08/07/2023, às 09h00

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Fotografia do resgate - Domínio Público
Fotografia do resgate - Domínio Público

Recentemente, o mundo foi abalado pela tragédia do Titan, o submarino da OceanGate que levava cinco pessoas em uma expedição até os destroços do Titanic quando passou por aquilo que foi descrito pelas autoridades como uma "implosão catastrófica", o que matou todos os passageiros. 

A princípio, a única informação disponível era que o submersível havia perdido comunicação com a superfície, de forma que as autoridades internacionais se mobilizaram durante dias em uma busca frenética pelo transporte.

A procura era dificultada pela extensão da área onde o Titan havia se perdido, afinal ele estava previsto para fazer uma jornada cujo ponto final, nas ruínas do naufrágio, era a quase 4 mil metros de profundidade. 

Infelizmente, seria posteriormente revelado que nunca houve chance de encontrarmos o submarino inteiro: a suspeita é que a implosão ocorreu logo no início do trajeto, várias horas antes dos esforços de resgate sequer começarem. 

Em 1973, por outro lado, ocorreu uma história bem-sucedida de um submersível que se perdeu, mas foi encontrado a tempo de seus passageiros saírem do episódio com vida — ainda que por um triz, uma vez que restava apenas 12 minutos de oxigênio àquele ponto. Tratava-se do Pisces III, que possui até hoje o recorde do veículo a ser resgatado em maior profundidade na história da humanidade.

Acidente 

Era 29 de agosto de 1973, e os tripulantes do Pisces III, Roger Mallison e Roger Chapman, realizavam um procedimento de rotina: eles iriam instalar cabos telefônicos no Mar Celta, que fica na costa sul da Irlanda. 

Para implantar o equipamento de telefonia, era necessário realizar uma descida de 500 metros, ou meio quilômetro de profundidade, uma distância que demorava 40 minutos para ser atravessada pela embarcação subaquática. 

A dupla tinha experiência em seu campo de trabalho: Mallison era um engenheiro, e Chapman era um piloto sênior, já tendo servido à Marinha Real Britânica no passado. Acidentes potencialmente fatais, no entanto, podem acontecer com qualquer um.  

Mallison em uma entrevista de 2023. Já Chapman morreu em 2020 / Crédito: Divulgação/ Youtube/ Sky News

Diferente do Titan, o Pisces III era conectado a um navio por um cabo, de forma que era rebocado à superfície durante sua volta. Naquele dia, contudo, quando o submersível já estava quase finalizando o retorno, sua escotilha traseira se abriu subitamente, ao que foi inundada. Uma tonelada de água teria entrado, tornando o submarino muito pesado para o cabo que o içava. 

Houve muitas batidas de cordas e elos de metal — como era normal durante a última fase da operação — quando de repente fomos arremessados ​​para trás e afundamos rapidamente. Estávamos pendurados de cabeça para baixo", relatou Chapman em uma entrevista divulgada pela BBC em 2013.

Após uma queda a 65 quilômetros por hora, eles afinal atingiram o fundo do mar, e puderam se reorganizar. Arrumaram suas ferramentas, que haviam se espalhado pelo interior do veículo durante o ocorrido, conferiram a si mesmos para ver se não estavam feridos e fizeram contato com a superfície. Dali em diante, só restava esperar. 

Resgate 

Eles tinham 66 horas de oxigênio, e, para preservá-lo, decidiram ficar o mais quietos quanto possível, tentando inclusive dormir. Outra estratégia que usaram para preservar o ar foi alterar as configurações de seu filtro para permitir que houvesse mais gás carbônico que o normal, o que resultou em letargia e dores de cabeça. 

Outro detalhe é que seus únicos suprimentos a bordo eram um sanduíche de queijo e uma lata de limonada. 

Quase não nos falamos, apenas agarramos a mão um do outro e apertamos para mostrar que estávamos bem. Estava muito frio — estávamos molhados. Eu não estava nas melhores condições de qualquer maneira, pois havia sofrido três ou quatro dias com uma intoxicação alimentar causada por uma torta horrível de carne e batata. Mas nosso trabalho era permanecer vivo", contou Mallison também à BBC.

Eles passariam 84 horas confinados em sua cápsula de metal, ou mais de 3 dias. Mesmo depois das autoridades descobrirem a localização do submersível (que estava a 480 metros de profundidade), inúmeros esforços de resgate falhariam, com outros submarinos enviados ao local quebrando em alguma parte do caminho ou só não tendo força para rebocar o Pisces III, o que foi lentamente deixando os dois homens sem esperança. 

Foi apenas graças ao CURV-III, um veículo não tripulado da Marinha dos EUA, que eles voltaram a ver a luz do dia. 

O CURV-III / Crédito: Domínio Público

"Aparentemente, eles pensaram que tínhamos morrido quando olharam para nós, foi tão violento (...) Quando eles abriram a escotilha e o ar fresco e a luz do sol entraram, isso nos deu dores de cabeça ofuscantes, mas estávamos resolvidos, estávamos eufóricos. Mas também estávamos um pouco patéticos. Foi muito difícil sair do submarino, tínhamos estava tão apertado que mal podíamos nos mover", contou Chapman ainda. 

Quando verificaram a marcação em seu cilindro de oxigênio, eles descobriram que tinham apenas mais 12 minutos antes de sufocarem. Até hoje, esse é o mais profundo resgate a já ter sido realizado com sucesso.