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Matérias / Tremembé

O Tinder de Tremembé: As relações entre os detentos no 'presídio dos famosos'

Na prisão que abrigou Suzane von Richthofen, presos criaram 'Tinder raiz' para se relacionarem entre si

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 28/10/2023, às 00h00 - Atualizado às 17h44

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Imagem ilustrativa de detentos de Tremembé - Luiz Silveira/Agência CNJ
Imagem ilustrativa de detentos de Tremembé - Luiz Silveira/Agência CNJ

Quatro anos após a brutal execução do casal Manfred e Marísia von Richthofen, na madrugada de 31 de outubro de 2002, a Justiça determinou que Suzane von Richthofen, filha do casal e responsável por orquestrar as mortes, fosse condenada a 39 anos e seis meses de prisão — com a revisão da pena nos últimos anos, esse tempo caiu para 34 anos e 4 meses, sendo que ela já cumpriu pouco mais de duas décadas.

Daniel Cravinhos, seu então namorado, foi condenado ao mesmo período por ser o responsável pelo ato ao lado do irmão Cristian — que recebeu a pena de 38 anos e seis meses de detenção.

Depois da condenação, Suzane foi encaminhada ao Centro de Ressocialização de Rio Claro, sendo posteriormente transferida para a Penitenciária Feminina de Ribeirão Preto. Meses depois, pediu transferência para o sistema prisional de Tremembé, no Vale do Paraíba, conhecido como o 'presídio dos famosos'; que também abrigou os irmãos Cravinhos.

Imagem de Suzane von Richthofen / Crédito: Reprodução

+ Por dentro do complexo de Tremembé, o Presídio dos Famosos

Importante ressaltar que, em janeiro deste ano, Suzane conseguiu progressão de pena para o regime aberto e deixou Tremembé. Entretanto, a vida no presídio ainda gera curiosidades.

Regalias e os 'famosos'

Em 'Suzane: Assassina e Manipuladora' (Editora Matrix), o jornalista Ullisses Campbell explica que não é fácil conseguiu uma vaga entre as 3.283 disponíveis — contando todas as unidades e tipos de regime — em Tremembé.

O primeiro "pré-requisito" para isso, aponta, é que o detento tenha cometido um crime de cunho rejeitado pela comunidade prisional: estupro, feminicídio ou infanticídio, execução de refém e até mesmo executar membros da própria família com brutalidade.

"Ser autor de crime de impacto na mídia também é garantia de um colchão no local. Advogados, médicos, pedófilos, ex-policiais, ex-promotores, jornalistas e políticos figuram na lista da clientela preferencial de Tremembé", detalha o escritor.

Imagem interna da penitenciária de Tremembé / Crédito: Governo do Estado de São Paulo

Um ponto que enche os olhos dos detentos em Tremembé é que o presídio não abriga membros de facções criminosas, o que reduz a quase zero as chances de motins ou rebeliões. Além disso, 75% da população carcerária trabalha com remuneração.

Os presos trabalhadores recebem um salário mínimo mensal e mais um benefício pra lá de generoso: para cada três dias trabalhados na cadeia, é abatido um na pena", explica.

A lista de 'celebridades criminosas' que estão ou passaram por lá incluem o médico Roger Abdelmassih; o ex-senador Luiz Estevão; o jornalista Antônio Marcos Pimenta das Neves; Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá; Lindemberg Alves Fernandes; Elize Matsunaga; além de Suzane e os irmãos Cravinhos.

O Tinder de Tremembé

Outro ponto destacado por Campbell em 'Suzane: Assassina e Manipuladora', é que os detentos da penitenciária masculina de Tremembé criaram um tipo de "Tinder raiz" para se relacionarem com as mulheres da cadeia feminina — que estão separados por uma distância de cerca de cinco quilômetros.

Por intermédio de visitantes, os rapazes descobrem quem são as detentas solteiras e atraentes da casa penal vizinha e mandam cartas com galanteios e declarações de amor. Para agilizar a paquera, eles costumam anexar fotografias de corpo inteiro para enredar as pretendentes", descreve o jornalista.

Ullisses conta que demora, em média, uma semana para a carta ser entregue pelos 'Correios de Tremembé'. Afinal, por segurança, todo o conteúdo das escritas são lidos por agentes carcerários. Casa haja o 'match', as presas respondem às missivas. "Se
não houver retorno, significa que não houve interesse".

Em abril de 2018, um relacionamento surgiu entre dois detentos: Vinícius Nunes (de 38 anos) e Jaqueline Moraes (42). Nunes foi preso por matar seu irmão, que havia transado com sua esposa. Moraes por assassinar o marido com 56 facadas.

Vinícius foi descrito como magro, alto e moreno. Ele enviou à Jaqueline uma foto que havia tirado na praia. Já a detenta era bonita, sorridente e magra nos registros que enviou para ele. A atração aumentou cada vez mais. Em uma das missivas, narra Campbell, Jaqueline disse tê-lo achado "um gato" e muito gentil com as palavras. Os dois passaram a namorar sem contato físico.

Imagem interna da penitenciária de Tremembé / Crédito: Governo do Estado de São Paulo

O jornalista também destaca que os presos apresentavam uma qualidade impressionante na escrita e vocabulário: "Nunca te vi, nem nunca te beijei. Mas a tua ausência me faz imaginar-te perfeita. [...] No retrato enviado na última epístola — recebida com muita alegria — pareces-me dona de beleza imprecisa ou, quem sabe, imprevista. [...] Se ansiedade fosse um câncer, teria morrido eu de metástase...", escreveu o preso.

Como os dois estavam em regime semiaberto, combinaram de se encontrar durante a próxima saidinha que teriam em comum. No grande dia, Vinícius Nunes tomou um banho, vestiu uma roupa nova e se perfumou para encontrá-la.

Ele foi liberado às 7 horas da manhã, mas teve que esperar a amada por volta de uma hora. "A detenta estava impecável em uma roupa apertadíssima e toda maquiada. Mas houve decepção por parte dele. Jaqueline 'o enganou'. As fotos enviadas por ela nas cartas eram muito antigas. De um tempo em que era jovem, magra e com rosto de pele macia", escreve o jornalista.

Com o passar do tempo, Jaqueline ganhou sobrepeso e excesso e rugas ao lado dos olhos. Vinícius aconselhou que a correspondente não mentisse para não frustrar seus pretendentes com falsas expectativas. Ela alegou que não tinha fotos recentes, por isso usou algumas de seu passado.

"Vinícius a dispensou no portão da penitenciária e aproveitou a oportunidade para catar, ali mesmo, durante a saída das detentas, uma nova pretendente. Escolheu Marlene, uma ex-empregada doméstica de 24 anos que matou o patrão com 20 facadas, segundo ela, por tentativa de estupro. Vinícius e Marlene passaram a trocar cartas e ficaram noivos", finaliza.