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Matérias / Agatha Christie

Por que Agatha Christie desapareceu durante 11 dias?

O sumiço repentino da famosa autora de romances policiais em 1926 causou mistério por décadas; mas um historiador anunciou tê-lo decifrado em 2022

Ingredi Brunato Publicado em 05/11/2023, às 07h00 - Atualizado às 12h44

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Fotografia de Agatha Christie em sua casa - Getty Images
Fotografia de Agatha Christie em sua casa - Getty Images

No dia 3 de dezembro de 1926, Agatha Christie teve uma acalorada discussão com seu marido, o coronel Archibald Christie, se despediu de sua filha pequena, Rosalind, que já estava dormindo, e saiu de carro para visitar amigos, com quem passaria o final de semana. 

No dia seguinte, porém, o veículo da autora britânica foi encontrado abandonado sob condições suspeitas, conforme relatou a polícia na época em um comunicado registrado pelo portal de Arquivos Nacionais do governo inglês: 

O carro foi encontrado em uma posição que indicava que algum procedimento incomum havia ocorrido, o carro foi encontrado no meio de uma encosta gramada, bem longe da estrada principal, com o capô enterrado em alguns arbustos, como se tivesse saído de controle". 

Mistério da vida real 

Era o início de um enigmático desaparecimento que mobilizaria o país, sendo amplamente noticiado e levando cerca de 15 mil pessoas a se voluntariarem para ajudar nas buscas.

Foto de recorte de jornal da época / Crédito: Divulgação/ NationalArchives.uk

Naquela época, vale mencionar, a autora já estava fazendo grande sucesso no mundo literário com seus romances recheados de mistério, crime e suspense. Seu mais recente lançamento havia sido "O Assassinato de Roger Ackroyd", que foi o sexto livro de Agatha Christie

Assim, surgiram muitas teorias que tentavam explicar seu desaparecimento. Enquanto alguns sugeriam que ela havia sofrido com alguma tragédia, por exemplo, tendo se afogado de forma acidental ou até mesmo sido assassinada pelo marido, outros acreditavam que era tudo uma manobra publicitária para aumentar suas vendas. 

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O suspense chegou ao fim no dia 14 de dezembro, quando a escritora britânica foi descoberta em um quarto de hotel com um estado mental precário: ela se encontrava desorientada e não se lembrava nada a respeito dos últimos onze dias. 

Um detalhe importante do caso é que Christie havia se registrado no estabelecimento com o nome de "Teresa Neele". O sobrenome desta persona chamou a atenção do público por ser o mesmo da amante do marido da escritora. Archie a havia traído com uma mulher chamada Nancy Neele e pedido pelo divórcio em agosto daquele ano. 

Por esse motivo, aliás, houve ainda a especulação que a autora mentia para o público e, na verdade, sumiu de propósito na tentativa de parecer que havia sido assassinada pelo marido, assim buscando se vingar pelo caso extraconjugal dele.  

Em 2022, no entanto, o historiador e biógrafoAndrew Norman afirmou ter solucionado de vez o enigma

Fotografia de Agatha Christie / Crédito: Divulgação/ Joop van Bilsen/ Anefo/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

Trauma e amnésia 

Segundo o especialista na trajetória de Agatha Christie, ela havia entrado em "estado de fuga dissociativa", durante o qual indivíduos embarcam em viagens até lugares aleatórios em uma espécie de transe. Depois, "acordam" dessa dissociação sem saber como foram parar ali.

Trata-se de uma resposta a eventos traumáticos ou então situações de grande estresse, e a escritora inglesa de fato passava por um momento muito estressante em sua vida. Isso, pois ela não apenas precisava lidar com a perspectiva de se separar do marido e com as pressões da fama, como também havia perdido sua mãe recentemente.

Em 1926, Agatha era uma romancista de sucesso e estava sob muita pressão para continuar produzindo livros. Mas sua mãe morreu naquele ano e ela entrou em um episódio do que hoje seria descrito como depressão. Ela relatou esquecimento, choro, insônia, incapacidade de lidar com a vida normal. Seu estado mental piorou tanto que ela pensou em suicídio", explicou Andrew Norman em entrevista à BBC.  

O biógrafo lamentou a maneira como a Inglaterra tratou o caso na época, enxergando intenções maliciosas por trás das ações aparentemente inexplicáveis da escritora. "Isso não é incriminar seu marido traidor por assassinato, é viver com um problema de saúde mental realmente sério".

"E ainda assim a narrativa é que ela era de alguma forma uma pessoa má que estava pregando uma espécie de peça no mundo; para incriminar o marido ou chamar a atenção para vender romances", concluiu ao veículo.