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Matérias / Coluna

Quando Pelé fez a Guerra de Biafra parar: A trégua de 1969

Falecido nesta quinta-feira, 29, o maior nome do Santos deixou inimigos lado-a-lado em estádio durante um dos mais violentos conflitos da história

José Renato Santiago Publicado em 17/05/2019, às 06h00 - Atualizado em 29/12/2022, às 16h00

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Crédito: Reprodução
Crédito: Reprodução

Em janeiro de 1969, a equipe da Vila Belmiro, conduzida por seu maior nome, Pelé, falecido nesta quinta-feira, 29, embarcava para a África, onde faria partidas amistosas em vários países do continente. Corria então a Guerra de Biafra, um dos mais violentos conflitos da história da região.

A estreia aconteceu diante a seleção da República Democrática do Congo, na cidade de Brazzaville, no dia 19, vitória por 3 a 2. Para chegar a Kinshasa, na República do Congo, onde faria a sua segunda partida, a delegação santista precisaria atravessar o rio que separava essas duas cidades. Os países viviam em conflito e, por conta disso, essa passagem estava interrompida.

Concordaram em uma trégua temporária que permitisse a travessia da equipe brasileira. Tão logo o Santos chegou a Kinshasa, a travessia voltou a ser bloqueada. Após vencer a seleção local no dia 21, por 2 a 0, a delegação santista foi informada de que apenas poderia deixar a cidade após realizar uma nova partida, uma revanche, frente à mesma seleção. Uma providencial derrota por 3 a 2, com dois gols de Pelé, deu fim a essa primeira etapa da excursão no dia 23.

Chegando na Nigéria

Três dias depois, em 26 de janeiro, a delegação santista chegou à cidade de Lagos, na Nigéria. A torcida extasiada gritava de alegria cada vez que a bola ia em direção ao Rei, “um negro, como eles, que ganhara o reconhecimento mundial”. O sucesso da passagem de Pelé por Lagos fez com que autoridades locais quisessem que o Santos voltasse a jogar no país.

O local marcado para o jogo, no entanto, a cidade de Benin, inspirava muitos cuidados, uma vez que ela estava localizada na parte leste do país, próximo a Biafra, justamente na região onde os conflitos eram mais intensos.

Ainda que não tivesse muito conhecimento sobre o ambiente vivido por lá, os atletas santistas temiam pela partida, sobretudo pelo fato de os funcionários dos hotéis onde estavam hospedados terem os informado que a luz do local seria totalmente apagada durante a noite para que os inimigos não pudessem localizálos.

Sob esse clima, o tenente-coronel do governo nacional, Samuel Ogbemudia, garantiu que haveria feriado na cidade durante toda a tarde. Ele ainda autorizou que a ponte sobre o rio que ligava Benin à cidade de Sapele, onde havia muitos integrantes dos igbos, pertencentes às frentes inimigas, tivesse a passagem liberada para que todos pudessem assistir ao jogo.

No dia 4 de fevereiro, nigerianos, inimigos de guerra, sentaram lado a lado no estádio para festejar a presença de Pelé, na vitória do Santos por 2 a 1, frente a uma seleção nigeriana do Meio Oeste.

A excursão santista acabou no dia 9 de fevereiro, na Argélia. A Guerra de Biafra se estendeu até 15 de janeiro de 1970, após a morte de mais de 1.200.000 pessoas, com a rendição dos igbos e a reanexação da região de Biafra ao território da Nigéria. Pelé jogou até 1977 e foi considerado o maior atleta de futebol de todos os tempos.


Por José Renato Santiago, Doutor e mestre pela Escola Politécnica da Universidade de
São Paulo com pós-graduação pela ESPM. Autor de livros sobre a história do futebol, gestão do conhecimento e capital intelectual.