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Matérias / Carnaval

Rás Gonguila: Veja quem é o homem homenageado pela Beija-Flor no Carnaval

Levando a capital alagoana pela primeira vez para a Sapucaí, Beija-Flor de Nilópolis contará a história do 'rei dos carnavais', Rás Gonguila

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 05/02/2024, às 16h01 - Atualizado às 17h20

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Rás Gonguila em homenagem da Beija-Flor - Divulgação/Beija-Flor
Rás Gonguila em homenagem da Beija-Flor - Divulgação/Beija-Flor

A escola de samba Beija-Flor de Nilópolis será a segunda a desfilar no domingo de Carnaval, 10. Uma das mais conhecidas agremiações cariocas, a escola levará Maceió para a avenida este ano — sendo a primeira vez que a capital alagoana será homenageada na Sapucaí. 

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Com 14 títulos do Carnaval carioca, a escola azul e branco agora aposta no enredo 'Um delírio de carnaval na Maceió de Rás Gonguila'. Mas qual a história do personagem que será resgatada no desfile deste final de semana?

Rás Gonguila será homenageado pela Beija-Flor - Divulgação

A origem 

Eternizado como o rei dos carnavais, Rás Gonguila nasceu como Benedito dos Santos em Maceió, em meados do início do século passado — acredita-se que em 1905. Pouco se sabe sobre o início de sua vida e tampouco quem foram seus pais; a única certeza é que ele era analfabeto, mas isso não impediu sua grandeza. 

Os relatos mais antigos sobre Rás Gonguila remetem a década de 1930, quando o engraxate fundou a agremiação Cavaleiro dos Montes, que fez história na capital alagoana. 

Em 12 de novembro de 1933, o Diário de Pernambuco relatou as atividades carnavalescas do ano seguinte. Na matéria, o veículo informa: "O Clube Carnavalesco Cavaleiros dos Montes, iniciou ontem na sua sede social em Ponta Grossa, os ensaios de marchas para abrilhantar os festejos de Momo do próximo ano, sob a direção dos populares foliões Batista, José, Lanchas, Gonguila e Benedito".

Rás Gonguila - Reprodução

Segundo o portal da prefeitura de Maceió, o pequeno Benedito dos Santos sempre ouvia dos pais histórias de nobres de terras distantes que realizavam festas nos altos dos quilombos. Assim, adotou Rás como uma referência a uma possível origem nobre da Etiópia. 

Rás teria sido inspirado "pelo título nobiliárquico ou dignitário do Rei da Abissínia, na África, que na época estava em muita evidência; então o folião tomou-o para si, para ser muito reconhecido", descreve o historiador José Maria Tenório Rocha.

O portal da prefeitura também levanta uma possível passagem de seus antecessores, que seriam nobres africanos, pela República dos Palmares. Eles teriam fugido do ataque de 'paulistas' e conseguiram dar continuidade a linhagem real, herdada por Gonguila

Em Maceió o paraíso deu a luz a um menino / À beira-mar nasci um rei / E o senhor das ruas deu o meu caminho / Eu acreditei / Herdeiro da dinastia e das lutas de zumbi / De palmares as palmeiras e marés / Da cultura e bravura dos tupis e caetés", cantará a Beija-Flor na avenida. 

O início no Carnaval

Como engraxate, Gonguila ganhava a vida trabalhando com sua cadeira estacionada nas proximidades do Café do Cupertino, no Ponto Central de Maceió. E foi justamente isso que o ajudou a ser figura importante do carnaval alagoano. 

Afinal, os frequentadores do Café, portanto, clientes de Rás, eram pessoas de grande importância na cidade, como políticos, empresários, intelectuais, artistas — e até mesmo desempregados. 

Através desse contato com parte da elite econômica, o engraxate conseguiu contribuições para viabilizar sua agremiação. O Cavaleiro dos Montes foi inspirado nos filmes de faroeste norte-americanos e também no Alto do Farol, onde o bloco começava seus desfiles. 

No livro 'Corrupio, Memórias 2', Ednor Bittencourt descreve a agremiação como um "bloco da parte alta da cidade, isto é, Farol, e de lá saía, sob o comando de Rás Gonguila, não no estandarte [carregando-o] que ostentava um fidalgo cavaleiro montado num belo ginete e sobre um monte, mas tocando clarim, anunciando a sua passagem".

Por conta de sua influência à frente do grupo, aliás, Rás Gonguila foi contratado como recepcionista dos sócios do Clube Fênix de Alagoas, quando inaugurou sua nova sede na Avenida da Paz em 1936. 

Rás Gonguila e o Cavaleiro dos Montes nos anos 1960 - Reprodução

Vestindo um boné e túnica com botões dourados, Rás ainda utilizava seu tradicional clarim para receber os "foliões ricamente fantasiados, com muita animação, confete, serpentina e lança-perfume", prossegue Bittencourt, aponta o site História de Alagoas. 

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Registros da época também apontam que Gonguila não era responsável por promover festas carnavalescas. O Jornal de Alagoas de 7 de setembro de 1945, por exemplo, aponta anunciou que "no Clube Carnavalesco Cavaleiros dos Montes haverá uma festa íntima ao som de uma formidável orquestra" em celebração à data. 

O último soar do clarim 

Por sua popularidade e projeção popular, Rás Gonguila também era procurado por políticos para apoio eleitoral, o que gerava causos engraçados — mas nem sempre comprovados. 

Um desses, descrito pelo História de Alagoas, diz respeito ao encontro do carnavalesco com Arnon de Mello, pai do futuro presidente Fernando Collor de Mello. Quando Arnon era candidato a governador, seu assessor Theobaldo Barbosa teria combinado uma conversa com Gonguila

Na ocasião, o encontro, que aconteceu em um galpão mal iluminado, Rás Gonguila se aproximava da comitiva para se apresentar quando Arnon perguntou a Theobaldo o nome do negro alto e forte que estava chegando. 

"Gonguila", disse. No mesmo momento, porém, 'vivas' eram gritados em apoio a Arnon, que não conseguiu entender corretamente o nome do carnavalesco. O que gerou um episódio constrangedor. 

Boa noite, 'seu Gorila'", disse o candidato estendendo a mão para cumprimentá-lo. "Gorila é a puta que o pariu, Arnon! Meu nome é Gonguila! Rás Gonguila!", retrucou. 

A situação gerou diversas risadas, aliviando o clima do local. Por fim, o candidato se desculpou pela saia-justa e conseguiu seu apoio, sendo eleito governador do Estado logo em seguida. 

A trajetória de Rás Gonguila terminou em 21 de dezembro de 1968, quando o carnavalesco sofreu um ataque cardíaco fulminante enquanto estava na Rua do Comércio, no Centro de Maceió. Gonguila tinha 63 anos quando seu clarim soou pela última vez. Deixando cinco filhos, ele foi enterrado no Cemitério de São José, no Trapiche da Barra.