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Matérias / Arqueologia

Mais lidas: 398 anos depois, a descoberta da possível cabeça do rei Henrique IV

Encontrada em 2008 e identificada como do monarca em 2010, outra equipe de cientistas colocou a cabeça em uma controvérsia apenas três anos depois

Isabela Barreiros Publicado em 11/05/2022, às 10h06 - Atualizado em 14/05/2022, às 08h00

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Cabeça mumificada e o rei Henrique IV - Divulgação/Philippe Charlier / Frans Pourbus Filho via Wikimedia Commons
Cabeça mumificada e o rei Henrique IV - Divulgação/Philippe Charlier / Frans Pourbus Filho via Wikimedia Commons

Em 2008, foi descoberta uma cabeça mumificada extremamente antiga, porém bem preservada, na casa de um aposentado, gerando uma corrida entre os cientistas para obter o pioneirismo na identificação do dono decapitado.

Não demorou muito para que aquela cabeça fosse considerada nada mais nada menos que a cabeça autêntica do rei Henrique IV, supostamente perdida em meio ao caos da Revolução Francesa após sua morte em 1610.

Com o assassinato do rei conhecido como "o Bom Rei Henrique" pelo fanático católico Ravaillac, os restos mortais dele foram enterrados na Basílica Saint-Denis, túmulo em conjunto a outros monarcas franceses, próximo a Paris.

Quase dois séculos depois, o local foi violado por revolucionários, o que fez com que muitos esqueletos desaparecessem, ficassem incompletos e dificilmente fossem identificados de novo após a invasão de 1793.

Provavelmente foi o momento em que a cabeça de Henrique IV se desprendeu do corpo e demorou ainda mais tempo para ser encontrada novamente. Foi o explicou, na época da descoberta, Rodolphe Huguet, então presidente do Cendre (Círculo de estudos de necrópoles dinásticas e reais europeias), à AFP.

"O corpo foi atirado numa vala comum, junto com outros. Neste momento, a cabeça deve ter se separado. Após a Revolução, partes de restos reais reapareceram em casa de particulares — um osso, um dedo, cabelos, uma omoplata de Hugues Capet", destacou.

A cabeça de um rei

O estudo que identificou a suposta cabeça do rei contou com a colaboração de 19 pesquisadores, liderados por Philippe Charlier, médico legista e osteoarqueólogo conhecido como "o Indiana Jones dos cemitérios", além de um dos mais famosos historiadores de Henrique IV, Jean-Pierre Babelon.

Publicado na revista científica British Medical Journal (BMJ), em 2010, o artigo ressaltou o "muito bom estado de conservação" da amostra, que conta com impressionantes cabelos e restos de barba, como reportou o g1 na época.

"Está ligeiramente escurecida, com os olhos semicerrados e a boca aberta e apresenta vários sinais distintivos: uma pequena mancha de 11 mm abaixo da narina direita, um orifício atestando o uso de brinco na orelha direita, como era moda na corte dos Valois, e uma lesão óssea acima do lábio superior esquerdo, marca de uma estocada feita no rei por Jean Châtel, durante tentativa de assassinato em 27 de dezembro de 1594", descreveram.

Segundo relatou o portal científico Live Science, a equipe franco-espanhola realizou um exame forense para constatar o parentesco, encontrando um perfil genético comum ao validar evidências principalmente físicas do rei.

Os cientistas basearam-se no fato de que a cabeça da múmia tem uma verruga irregular na narina e uma orelha direita furada, características observadas em retratos contemporâneos do soberano conhecido como "o galante verde", por sua boa aparência.

Após a publicação do estudo e então identificação da cabeça mumificada, o infografista Philippe Froesch, sediado em Barcelona, foi responsável, ainda, por desenvolver uma reconstrução facial que mostra como o rei teria sido, baseado nos aspectos de seu crânio.

Controvérsias na ciência

Três anos após a confirmação pela equipe, outro estudo colocou a identificação em controvérsia ao realizar uma análise de DNA que descobriu que o material genético recuperado da cabeça não correspondia ao da linhagem de Henrique, a Casa de Bourbon.

Liderados pelo pesquisador Jean-Jacques Cassiman, da Universidade de Leuven, na Bélgica, os especialistas usaram marcadores no cromossomo masculino, ou Y, da cabeça para uma comparação com os dos três descendentes vivos do rei, em uma publicada no periódico científico Revista Europeia de Genética Humana.

"Para realizar uma identificação genética precisa de restos históricos, é necessária a tipagem de DNA de pessoas vivas, que são parentes paternais ou maternais com o suposto doador das amostras", escreveram no artigo.

Testagem de DNA antigo é um processo extremamente complexo, mas, segundo Cassiman, foi possível descartar a cabeça como sendo do rei. Ainda assim, o líder da primeira pesquisa, que o identificou, Charlier, não se convenceu com o estudo.

Ele argumentou que o fato de famílias reais possuírem grande ilegitimidade na linhagem real torna ainda mais difícil a identificação de DNA. "É inútil tentar combinar uma árvore genealógica e uma série de ligações genéticas [durante] um período tão longo", afirmou.