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Matérias / Rússia

Formado por mercenários: Entenda o que é o Grupo Wagner

Entenda os perigos sociais e econômicos envolvendo o grupo russo, que chama atenção após morte não confirmada do líder

Isabelly de Lima, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 23/08/2023, às 19h10 - Atualizado às 19h22

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Bandeira do Grupo Wagner sendo mostrada por soldados russos na Ucrânia - Reprodução / Vídeo / YouTube / DWEspañol
Bandeira do Grupo Wagner sendo mostrada por soldados russos na Ucrânia - Reprodução / Vídeo / YouTube / DWEspañol

Nos cantos mais obscuros do universo da segurança privada, um nome tem emergido com frequência nos últimos anos: Grupo Wagner. No entanto, este não é um grupo de artistas ou músicos, mas sim uma entidade mercenária que ganhou notoriedade por suas atividades em diferentes partes do globo. No entanto, sua origem e modus operandi estão envoltos em mistério e controvérsia.

O Grupo Wagner, muitas vezes referido como "Exército Wagner", é uma entidade paramilitar de origem russa, que ganhou destaque internacional por sua atuação em zonas de conflito. Seu nome foi inspirado pelo líder revolucionário alemão Richard Wagner, o favorito de Hitler. De acordo com relatos, o grupo foi fundado por Dmitry Utkin, ex-membro das forças especiais russas, conhecidas como Spetsnaz.

Yevgeny Prigozhin - Crédito: Reprodução/Vídeo/Youtube/The Times and The Sunday Times

+ Quem é Yevgeny Prigozhin? Líder do grupo Wagner teria morrido em queda de avião

Os primeiros sinais de sua existência são por volta de 2014-2015, no contexto das escaramuças no Donbass, o prelúdio do conflito atual na Ucrânia. Já os líderes e executivos são ex-oficiais militares do antigo bloco soviético.

Essa, por sinal, é uma característica desse tipo de atividade: o emprego de ex-militares como soldados e pessoas-chave. O Wagner se expandiu na intervenção russa na Síria em apoio a Bashar al-Assad, e depois passou a atuar na África, a convite de governos africanos, contendo revoltas locais e o Jihadismo.

De acordo com Ricardo Lobato, CEO e Analista-Chefe da EQUILIBRIUM Consultoria, Think Tank brasileiro especializado em análise de risco político, a influência do grupo é grande na Rússia, mas observada de perto pelo governo. Tanto que a malsucedida revolta no final de junho deste ano foi rapidamente contida e o grupo mudou suas operações, antes sediadas em São Petersburgo, para a vizinha Belarus.

A relação com Putin

Além do episódio de junho, a relação chama atenção. O Wagner, como qualquer empresa de segurança militar privada, possuía contratos com o Estado. O antigo líder do grupo, Yevgeny Prighozin, agora ao que tudo indica falecido devido à queda de um avião que ocorreu nesta quarta, 23, era (antes do Wagner) dono de uma empresa que fornecia refeições para o Kremlin e outros órgãos da alta administração, tal como um buffet. 

O presidente russo, Vladimir Putin - Crédito: Getty Images

O Wagner possui uma relação entre o Estado e também seu líder, já que o grupo também possui riqueza e poder. Lobato ainda ressalta que no conflito russo-ucraniano, o Wagner foi uma das peças fundamentais no avanço russo, ou seja, a espinha dorsal de combates importantes, como a tomada de Bakhmut. Em vídeo após o motim, o próprio presidente Putin disse que a Rússia pagou ao Grupo Wagner cerca de US$ 1 bilhão de maio de 2022 a maio de 2023.

No entanto, as atividades do Grupo Wagner são frequentemente envoltas em controvérsias. Relatórios indicam que eles operam com pouca supervisão oficial, segundo a BBC, e são acusados ​​de cometer abusos contra os direitos humanos em algumas regiões onde atuam. A falta de transparência e prestação de contas levanta questões sobre sua legitimidade e moralidade.

O motim de junho

A fim de explicar o conflito que ocorreu entre o governo russo e o grupo mercenário, Ricardo exemplifica com fatos históricos algumas situações que podem levar à compreensão da situação de 2023.

“A Rússia, por razões propriamente históricas - de Roma para Bizâncio, de Bizâncio para Moscóvia - é "A Nova Roma". Uma parte da identidade do país é fundada nessa sequência milenar da Cidade dos Césares. Os líderes russos, mesmo os soviéticos, tinham uma aura de César”, diz Lobato.

Ele também usou a Roma Imperial como exemplo:

A revolta do Wagner em junho foi uma tropa romana que voltava para casa com um comandante com demandas muito peculiares que, como todos sabem, não foram atendidas — tanto que tudo se encerrou em menos de 48h”.

Possível tensão

Ricardo divide os dois momentos de tensões em duas situações: a interna, do país, e a do conflito especificamente. Ele afirma que a economia da Rússia está indo bem e que o país continua crescendo, conforme informado pelo Banco Mundial, com muitas vagas de emprego e sem efeitos da guerra “no bolso”. “Ou seja, o presidente russo ‘ganhou’ mais essa batalha”, diz Lobato.

Em termos globais, a tensão geral vai continuar até que o conflito no campo de batalha cesse de vez, isso é um fato. Contudo, se confirmado o falecimento do líder do Wagner que — é importante dizer, já havia perdido seu poder e influência desde junho —, muitos analistas e líderes globais perceberão que as coisas são mais sérias (e complexas) do que imaginavam”.

O Grupo Wagner permanece como um enigma no mundo da segurança privada e do cenário geopolítico global. Sua atuação obscura, controvérsias e relações suspeitas com o governo russo lançam luz sobre os desafios que as atividades de grupos mercenários representam para a paz e a estabilidade em várias regiões do mundo.

Enquanto a comunidade internacional continua a observar suas atividades com cautela, o Grupo Wagner permanece como um exemplo preocupante das complexidades da segurança privada em um mundo em constante mudança.