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Chico da BBC: Francis Hallawell, a voz que imortalizou a participação brasileira durante a guerra na Itália

Com sua voz calma e empatia com os entrevistados, Francis Hallawell trazia um pouco de humanidade para a guerra

Coluna - Ricardo Lobato Publicado em 01/12/2020, às 08h00 - Atualizado em 04/10/2023, às 16h51

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Francis Hallawell durante a Guerra - Divulgação
Francis Hallawell durante a Guerra - Divulgação

É possível que um único indivíduo faça a diferença em uma guerra de proporções mundiais? Talvez possa liderar seu país no caminho para a vitória ou, quem sabe, ganhar uma grande batalha que mude o rumo da guerra.

Ou ainda, por meio de sua resiliência, inspirar seu povo a nunca se render, mesmo que os sacrifícios sejam muito grandes. Há, sim, diversas maneiras de se destacar em meio à agitação da guerra.

A de Francis Hallawell foi aproximar as famílias de seus entes queridos que combatiam além-mar. Francis, ou “O Chico da BBC”, se tornou a voz que imortalizou a participação
brasileira na guerra na Itália.

Brasileiro, Francis Hallawell era filho de pais ingleses. Mudou-se para a Inglaterra ainda na infância, onde estudou em colégios internos. Mas trabalhava no Brasil como engenheiro quando a guerra se iniciou na Europa.

Diante da agitação ocasionada pela invasão alemã da Polônia – que motivou a declaração de guerra pela Inglaterra e pela França –, Francis se apresentou à Embaixada Britânica no Rio de Janeiro.

Queria ser incorporado à Infantaria e ser mandado para o front. Apesar de ter sido recusado para essa função, foi-lhe oferecido um emprego no serviço brasileiro da BBC.

A rede de comunicação britânica inaugurara seu serviço no Brasil em 1938, justamente buscando coibir a crescente propaganda nazista no Cone Sul.

Por ser fluente em português e inglês, foi mandado para a matriz da emissora em Londres, de onde narrava boletins de notícias e programas infantis para o Brasil.

Foi apenas em 1944, com o envio de tropas pelo Brasil para combater no front italiano, que Francis veria seu primeiro combate. Foi selecionado para ser correspondente de guerra da BBC junto à FEB.

Ponto conquistado nos Apeninos defendido pela FEB com metralhadoras /Crédito - Associação dos Ex-Combatentes do Brasil

Como sua voz já se tornara conhecida, ao contrário de seus colegas repórteres, enviados pelos principais periódicos brasileiros para cobrir o conflito, Francis não iria apenas escrever sobre a guerra, também a iria narrar.

Auxiliado pelo engenheiro de som da BBC, Douglas Farley,Francis passou a gravar os ruídos da guerra. Operavam uma ambulância convertida em estúdio de gravação, de onde, com um Midget Disc Recorder – aparelho especialmente desenvolvido pelos engenheiros da BBC para uso de seus correspondentes de guerra –, gravavam os sons captados por um microfone em um disco especial de alumínio coberto por um laque de acetato, uma tecnologia extremamente avançada para a época.

Da Itália, esse material era mandado para a Inglaterra, de onde era regravado e transmitido para o Brasil. Foi assim que Francis Hallawell se tornou “o Chico da BBC”.

A saga

Entrevistava soldados, narrava a rotina dos combates, descrevia a vida nos acampamentos e a interação com a população civil e, principalmente, fazia com que as notícias de pais, maridos e filhos chegassem ao Brasil, tranquilizando suas famílias.

Fosse falando das “deliciosas receitas de um cozinheiro para os soldados”, ou do Natal ao som de Noel Rosa, sua voz e seu estilo se destacavam.

Mesmo com seu sotaque peculiar, era um excelente comunicador que, com sua voz calma e empatia com os entrevistados, trazia, em tempos de conflito, um pouco de humanidade para a guerra.


Ricardo Lobato é Sociólogo e Mestre em economia pela UNB, Oficial da Reserva do Exército brasileiro e Consultor-chefe de Política e estratégia da Equibrium – Consultoria, Assessoria e Pesquisa. 

**Esse texto não reflete, necessariamente, a opinião da Aventuras na História