O evento destruidor, que fez surgir uma labareda fantasmagórica no céu, ocorreu há 3,5 milhões de anos
Atualmente vivemos em paz na Via Láctea, a mesma galáxia em que reside o buraco negro supermassivo Sagitário A *. Essa região do espaço-tempo silenciosa hoje não nos ameaça. Só que recentemente um estudo revelou que essa tranquilidade toda não foi sempre realidade: há 3,5 milhões de anos, nossos ancestrais viram esse objeto cósmico explodir de modo assustador no céu.
Na época, nossos parentes australopithecus já andavam nas planícies africanas. Eles provavelmente viram o momento no qual uma enorme labareda com um brilho fantasmagórico tomou a visão deles. O flash de luz foi tão poderoso que era capaz de acender gás a 200 mil anos-luz de distância (considere que 1 ano-luz vale cerca de 9,5 trilhões de quilômetros).
A descoberta foi publicada no The Astrophysical Journal. Segundo o estudo, o que ocasionou a explosão do buraco negro foi uma grande nuvem de hidrogênio, com 100 mil vezes a massa do Sol.
Essa nuvem astuta invadiu o disco que ficava ao redor do buraco. Como resultado, ele explodiu (assim como quando alguém faz cócegas e você espirra catarro). Com essa explosão, luz intensa e plasma foram liberados do centro da Via Láctea. E até hoje continuamos a ver os efeitos desse fenômeno. Seus resquícios nos ajudam a estudar o que ocorreu no passado.
Na realidade pré-histórica, uma estrutura parecida com um halo tomou o céu noturno quando a explosão afetou as Nuvens de Magalhães (duas galáxias satélites anãs companheiras da Via Láctea, que são as únicas visíveis a olho nu).
Desse modo, durante até um milhão de anos nossos ancestrais puderam testemunhar esse acontecimento. Provavelmente, a explosão ficou visível em um ponto brilhante ao longo do arco da Via Láctea, na constelação de Sagitário. Era assim como uma tatuagem temporária, só que capaz de durar milênios e mais milênios no céu.
"O flash foi tão poderoso que iluminou [ o céu] como uma árvore de Natal - foi um evento cataclísmico!", descreveu Andrew Fox, do Instituto de Ciências do Telescópio Espacial Hubble, em comunicado. "Isso nos mostra que diferentes regiões da galáxia estão ligadas - o que acontece no centro galáctico faz diferença no que acontece na corrente de Magalhães. Estamos aprendendo como o buraco negro afeta a galáxia e seu ambiente".