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Notícias / Arqueologia

Novas descobertas em Portugal demonstram que homem moderno chegou à Península Ibérica 5 mil anos antes do que se pensava

O estudo confirma que humanos modernos coexistiram com as populações Neandertais na região

Joana Freitas Publicado em 13/10/2020, às 16h29

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Fotografia de ferramentas descobertas em Portugal - Divulgação/Jonathan Haws
Fotografia de ferramentas descobertas em Portugal - Divulgação/Jonathan Haws

Escavações arqueológicas levadas a cabo por uma equipe internacional, composta pela Universidade do Algarve e pela Universidade de Louisville, na Gruta da Lapa do Picareiro, na Serra de Aire, demonstram que o homem moderno chegou à Península Ibérica 5 mil anos antes do que se pensava anteriormente.

A presença humana na gruta da Lapa do Picareiro, datada por análises de radiocarbono aos fósseis, utensílios, ferramentas e sedimentos no solo da gruta colocam o homem moderno em território peninsular entre 41 mil a 38 mil anos.

Desta forma, há uma confirmação sem margem para dúvidas que os humanos modernos coexistiram com as populações Neandertais em território peninsular e por um período maior de tempo. No entanto, a verdadeira questão é compreender, na medida do possível, de que forma ambas as populações interagiram neste território.

Embora tivessem coexistido num mesmo território por milhares de anos, não existem provas materiais concretas desta interação. As tecnologias de fabricação de ferramentas e até de adornos eram diferenciadas e não se verificam evidências de trocas de conhecimento. Perto da gruta da Lapa do Picareiro existe outra, a gruta do Oliveira com vestígios de ocupação de Neandertais datado de à 37 mil.

Contudo, embora materialmente as provas de interação sejam nulas, os genes de Neandertal estão presentes no património genético dos europeus. Cada europeu tem entre 2% a 4% no seu código genético. Desta forma, a miscigenação é uma forte possibilidade e poderá ser a chave para o misterioso desaparecimento dos homens de Neandertal.

Já no final dos anos 90 do século passado, foi feita uma descoberta de extrema importância. Datado de à cerca de 24.500 anos, foi descoberto em Leiria, em Portugal, o esqueleto de uma criança do paleolítico superior com cerca de 4 anos. Embora anatomicamente moderna, a criança apresenta algumas características Neandertal.

A criança do Lapedo só poderia ter nascido do cruzamento de ambas as espécies, mas, atendendo à sua datação não podemos considerar um progenitor de cada espécie, um ser híbrido de primeira linha. Os Neandertais sobreviveram na península Ibérica por muito mais tempo em comparação com os outros territórios europeus, sendo este o local ideal para ocorrer contato e cruzamentos.

Sendo assim, a criança do Lapedo é o produto de cruzamentos que ocorreram milhares de anos antes do seu nascimento, com características de ambas as espécies se misturaram e perduraram no tempo. Por isso mesmo se pode considerar que o homem de Neandertal não se extinguiu simplesmente de um momento para o outro. As populações podem ter-se misturado e os neandertais foram-se diluindo lentamente.


Joana Freitas é formada em história na vertente de arqueologia pela faculdade de letras da Universidade do Porto e tem por áreas de maior interesse a evolução humana e a pré-história. Fora do campo de formação tem como disciplinas preferidas a antropologia e a paleontologia que no fundo complementam a sua formação de base.

Gosta de conhecer outros lugares, principalmente as suas gentes, ler e escrever. Embora tenha participado em diversas escavações de vários períodos históricos de diversos países, o local arqueológico que mais marcou o seu percurso e onde esteve presente em várias campanhas diferentes foi castanheiro do vento, um recinto pré histórico em Vila Nova de foz Côa, em Portugal.