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Notícias / Homem de Altamura

O homem de Altamura, neandertal que viveu há mais de cem mil anos na atual região da Itália

Descoberto em uma caverna do sul da Itália durante a década de 1990, o esqueleto do homem de Altamura tornou-se um "monumento intocável"

por Giovanna Gomes

ggomes@caras.com.br

Publicado em 17/05/2023, às 18h18

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O homem de Altamura - Divulgação / Ministero Dei Beni e Delle Attivitá Culturali e Del Turismo-Soprintendenza Archeologia Della Puglia
O homem de Altamura - Divulgação / Ministero Dei Beni e Delle Attivitá Culturali e Del Turismo-Soprintendenza Archeologia Della Puglia

Foi durante buscas por novas cavernas, no ano de 1993, que uma equipe de espeleologistas encontrou o esqueleto de neandertal que seria conhecido como o Homem de Altamura. A descoberta, como o próprio nome do fóssil humano sugere, se deu nas proximidades da pequena cidade de Altamura, localizada no sul da Itália.

Na época, os cientistas que desceram a caverna após os espeleologistas criaram a teoria de que aqueles seriam os restos mortais de um homem adulto que teria caído em um poço. Esse indivíduo teria sobrevivido à queda, mas acabou ficando paralisado, morrendo de fome.

De que espécie?

No entanto, como mencionou o portal El País, os profissionais não sabiam, àquela altura, de que espécie era o homem, nem mesmo quando viveu. Por outro lado, havia algo que pudessem confirmar: logo abaixo do crânio estavam muitos outros ossos do mesmo indivíduo, infelizmente impossíveis de serem retirados sem danificar o raro conjunto.

Em pouco tempo, o homem de Altamura se tornou um “monumento intocável”, de modo que as autoridades locais e regionais decidiram restringir a entrada na caverna de Lamalunga. Como consequência, a descoberta acabou por cair no esquecimento, onde permaneceria por longos 20 anos, até que, em 2013, uma nova equipe de especialistas decidiu estudar o esqueleto.

O estudo foi liderado pelo paleoantropólogo italiano Giorgio Manzi, pesquisador da Universidade de Roma La Sapienza, e tinha o objetivo de tentar descobrir quem foi o homem de Altamura.

Pesquisador durante visita à caverna onde foi encontrado o esqueleto / Crédito: Ministero Dei Beni e Delle Attivitá Culturali e Del Turismo-Soprintendenza Archeologia Della Puglia

De volta à caverna

Manzi e outros pesquisadores retornaram à caverna e, utilizando-se de um braço robótico, conseguiram extrair um pequeno fragmento da omoplata do hominídeo.

Em seguida, David Caramello, especialista em genética da Universidade de Florença e colaborador de Manzi, perfurou o osso com uma broca e enviou uma pequena quantidade do pó resultante ao seu colega Carles Lalueza-Fox.

Lalueza-Fox, um paleoantropólogo espanhol conhecido por sequenciar o genoma do neandertal, assumiu a tarefa de tentar extrair algum DNA desse fóssil. Ao mesmo tempo, outra equipe da Austrália analisou uma das pequenas formações calcárias que estava acima do osso, na tentativa de determinar sua data.

O que o DNA revelou

Os resultados, publicados no Journal of Human Evolution, apontaram que o homem de Altamura era um neandertal, o mais completo e antigo esqueleto da espécie que se tem notícia. A equipe também informou que ele teria vivido entre 130.000 e 172.000 anos atrás.

A recente revitalização científica do homem de Altamura também levantou questionamentos sobre como seria a melhor forma de lidar com esse tipo de descoberta.

No caso do fóssil em questão, o gotejamento lento da água e a ação do tempo cobriram parte do crânio e o restante do esqueleto com pequenas formações calcárias semelhantes a corais, transformando-o em um exemplar único.

Remover ou não

Os cientistas estão convencidos de que, ao remover os restos, poderão encontrar respostas para muitas outras questões sobre os neandertais, que foram extintos há 30.000 anos.

Manzi reconhece haver políticos regionais, autoridades locais e membros da sociedade que continuam considerando o homem de Altamura como um monumento e defendem preservá-lo em seu estado atual. Sua equipe ficou particularmente interessada no crânio, que é único na Europa devido à sua antiguidade e estado de conservação.

No entanto, para estudá-lo adequadamente, seria necessário extrair o crânio da grande coluna de calcita na qual está preso e remover cuidadosamente os nódulos que o cobrem, utilizando um vibroincisor, um martelo hidráulico em miniatura que requer habilidade para evitar danos ao fóssil e não consegue eliminar as impurezas, conforme afirma Antonio Rosas, especialista em neandertais do Museu Nacional de Ciências Naturais da Espanha (MNCN-CSIC).

DNA mitocondrial

De acordo com a fonte, Lalueza-Fox foi capaz de recuperar parte do DNA mitocondrial do indivíduo. Contudo, como esse tipo de DNA não passa das mães para os filhos, apenas a metade da linhagem do homem de Altamura pôde ser esclarecida. Conforme afirma o próprio especialista, o pouco que mostra é que é um DNA “característico dos neandertais”.

Para saber mais detalhes, são necessárias novas análises de DNA, principalmente do núcleo da célula, onde se encontra o grosso do genoma. Segundo DavidCaramello outros dois fragmentos de osso foram resgatados e mais material genético deve ser extraído.

+ Confira aqui o estudo completo.