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Personagem / Segunda Guerra

A história de Argemiro Toledo Filho, o último pracinha de Itapetininga

Combatente que participou da conquista de Monte Castelo, Argemiro Toledo Filho alterou idade em documento para lutar na 2ª Guerra

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 07/05/2023, às 17h00 - Atualizado em 23/05/2023, às 09h11

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O pracinha Argemiro Toledo Filho - Tiro de Guerra de Itapetininga
O pracinha Argemiro Toledo Filho - Tiro de Guerra de Itapetininga

Embora tenha se mantido neutro no início da Segunda Guerra Mundial, o Brasil passou a apoiar os Aliados após ter submarinos bombardeados no oceano Atlântico por tropas alemãs e italianas em fevereiro de 1942. 

Uma das principais contribuições da Força Expedicionária Brasileira (FEB) no conflito se deu durante a conquista do Monte Castelo — já nos últimos momentos da Guerra, em 1944. 

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Lutando contra as forças do Eixo, os Aliados tinha uma missão em mente: conquistar a cidade de Bolonha, da Itália, até no natal daquele ano. Assim, tropas brasileiras foram enviadas para reforçar o esquadrão. Os combatentes tupiniquins ficaram conhecidos como “pracinhas”

Argemiro Toledo Filho foi o último combatente de Itapetininga (SP) a morrer. O pracinha tinha 99 anos, quando faleceu em 29 de maio de 2022.

Memórias de um pracinha 

Embora os registro da morte de Argemiro apontam que ele faleceu aos 99 anos, seu documento na Força Expedicionária Brasileira (FEB) consta que o ex-combatente tinha 97 anos. Afinal, quando tinha 16, Toledo Filho falsificou um documento de identidade para poder integrar o 1º Regimento de Infantaria. 

"Meu avô tinha 16 anos quando se voluntariou. Ele queria muito ir para guerra, mas não tinha idade suficiente. Foi então que falsificou o RG para lutar", explicou a advogada Luciana Toledo, neta de Argemiro, ao G1. 

Somente na Itália descobriram a real idade dele. Já era tarde demais. No final, o grupo sempre tentou protegê-lo. Como ele era o mais novo, diziam que meu avô tinha que ficar vivo para contar a história", relembra. 

Registros da FEB, de 1941, apontam que o pracinha Entrou no Exército Brasileiro e fez parte do Regimento Sampaio, que seguiu para os campos de batalha na Itália. Argemiro lutou ao lado de outros 33 Itapetininganos.

Registro do pracinha Argemiro/ Crédito: Arquivo Pessoal

Ao londo de sua vida, o pracinha compartilhou poucas memórias da guerra com sua família. Mas sabe-se, porém, que o ex-combatente lutou contra o fascismo entre 1943 e 1945, fazendo parte do grupo que esteve nos conflitos de Collecchio, Fornovo Di Taro, Tomada de Monte Castelo e também na rendição dos nazistas. 

Ele não falava muito dos confrontos, não gostava", relata Luciana

A neta de Argemiro, porém, aponta que, nos últimos meses de vida do avô, ele passou a contar cada vez mais relatos do conflito. "Dava para ver que era uma coisa que ficou dentro dele. Acho que por isso para ele era tão importante ter tanto amor. Ele era uma pessoa muito amorosa."

Ao voltar para o Brasil, após o fim da Segunda Guerra, Argemiro Toledo Filho foi condecorado com a Medalha de Campanha. Posteriormente, acabou reformado no posto segundo-tenente do Exército Brasileiro. Em 2015, o Ministério da Defesa ainda lhe concedeu a Medalha Heróis do Brasil e a Medalha da Vitória.

Medalhas de Argemiro e foto do combatente/ Crédito: Tiro de Guerra de Itapetininga

Antiguerra e remorso

Luciana Toledo também recordou dois traços da personalidade de seu avô: Argemiro não só criticava a guerra como demonstrou arrependimento pela sua participação no conflito. "Ele não gostava de falar dos confrontos. Dizia que guerra é a coisa mais absurda do mundo".

Só depois que a minha avó faleceu que ele começou a se abrir mais. Disse que sentia culpa pelas vítimas, mesmo sabendo que era questão de sobrevivência. Nessa época, meu avô começou a se confessar na igreja", resgata. 

Em uma dessas confissões, aponta a advogada, o pracinha relatou arrependimento. "Ele disse ao padre que ele tinha muito remorso pelas vidas que tinha tirado. O padre o consolou, dizendo que graças ao que ele fez, hoje todo mundo é livre e ele não teve opção, que ele não estava em pecado."

Inocência em meio a destruição

Por fim, Luciana recordou de uma história cômica contada por seu avô, que acabou virando uma grande piada. Para ela, Argemiro confidenciou como foi a primeira vez que teve contato com uma lata de cerveja, algo desconhecido no Brasil naquela época. 

"[Meu avô dizia] que um caminhão alemão derrubou uma latinha de cerveja e aí os soldados brasileiros foram pegar e ninguém conhecia. Todo mundo em choque e saiu todo mundo correndo, achando que era granada", diz. 

O pracinha Argemiro/ Crédito: Arquivo Pessoal

Registros oficiais de Argemiro Toledo Filho, antes de sua morte, apontaram que o ex-combatente alternava entre um estado de sanidade de demência. O pracinha chegou a ser internado em uma casa de repouso em decorrência de suas crises nervosas. 

Meu ‘vô’ é um orgulho pelo homem que ele foi, não só pelo que ele representa da história. Eu digo que pra mim é uma perda dupla porque eu perdi um herói de guerra, que não é só meu, é do Brasil", finalizou a advogada.