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Personagem / Neerja Bhanot

Neerja Bhanot: A comissária de bordo que se tornou heroína durante sequestro

Quando o Pan Am 73 foi sequestrado, em 1986, Neerja Bhanot fez de tudo para salvar os passageiros, mesmo que isso custasse sua vida

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 21/10/2023, às 13h00

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A comissária Neerja Bhanot - Arquivo Pessoal
A comissária Neerja Bhanot - Arquivo Pessoal

Neerja Bhanot foi contratada como comissária de bordo pela Pan American World Airways (Pan Am) em 1985 — ano em que a companhia aérea decidiu ter uma tripulação formada apenas por indianos em suas rotas de Frankfurt para a Índia.

Cerca de um ano depois, Neerja Bhanot já era vista como uma funcionária modelo, não só por sua dedicação, mas pela forma de tratar os passageiros e também por sua capacidade de manter a calma sob momentos de pressão. Em 5 de setembro de 1986, Neerja também se tornou heroína.

O sequestro

Na data em questão, ocorreu uma das mais célebres tentativas de sequestros de uma aeronave da história: o Pan Am 73 (que era um Boeing 747). O voo partiu de Mumbai, na Índia, e tinha como destino a cidade norte-americana de Nova York. A aeronave transportava 361 passageiros e 19 tripulantes.

+ A guerrilheira que sequestrou um avião para fugir da ditadura militar 

Por volta das 6 horas da manhã, o voo fez uma escala em Carachi, no Paquistão; de lá ainda faria outra em Frankfurt antes de seguir para seu destino. Foi justamente neste momento que quatro terroristas — Wadoud Muhammad Hafiz al-Turki, Jamal Saeed Abdul Rahim, Muhammad Abdullah Khalil Hussain arRahayyal e Muhammad Ahmed al-Munawar — assumiram o controle da aeronave após se disfarçarem de seguranças. Eles anunciaram o sequestro do voo ainda antes da decolagem.

O Pan Am 73/ Crédito: aussieairliners.org via Wikimedia Commons

Os terroristas faziam parte da Organização Abu Nidal, grupo que defendia a causa palestina e fora apoiado pela Líbia; o mesmo que um ano antes havia sequestrado o voo 648 da EgyptAir — que resultou na morte de 60 pessoas.

A intenção dos extremistas era de que a aeronave fosse até o Chipre e depois voasse para Israel. Nos dois países, membros da facção que estavam presos seriam recolhidos. O principal pedido deles era a libertação de seus aliados.

Momentos de tensão

Conforme relembra a rede indiana de televisão RDTV, é justamente neste cenário que Neerja Bhanot se tornou uma heroína. Diante do perigo que aumentava gradualmente, ela conseguiu ter coragem e manter todos em calma.

Enquanto os terroristas se espalharam pela aeronave e começavam a render os passageiros, Bhanot conseguiu enviar uma mensagem para a cabine do voo; o que permitiu que o piloto, copiloto e engenheiro de voo deixassem a aeronave pela janela do avião e avisassem as autoridades.

Como resultado, agentes de segurança cercaram o Boeing e uma longa negociação se iniciou. O grupo tinha a intenção de identificar e executar todos os passageiros norte-americanos que faziam parte do voo (43 pessoas ao todo).

Para isso, ordenaram que Neerja recolhesse os documentos de todos. No entanto, eles não contavam que a comissária fosse esconder os passaportes dos principais alvos sob o assento de um banco e na rampa de lixo.

A tripulação do Pan Am 73/ Crédito: Arquivo Pessoal

Incapazes de identificarem as nacionalidades dos passageiros, os terroristas passaram a pressioná-los. Foi então que Rajesh Kumar, de 29 anos, se identificou. Ele era um indiano que, recentemente, havia se naturalizado americano. Rajesh foi arrastado até a porta da aeronave e baleado na cabeça. Seu corpo foi jogado para o pátio do aeroporto como sinal do que o grupo era capaz.

Passado quatro horas do início do sequestro, os terroristas decidiram usar uma mesma tática que o grupo realizou no sequestro do voo 648: a cada 15 minutos um passageiro aleatório seria morto, da mesma maneira que fizeram com Kumar. Para acalmá-los, Neerja Bhanot ofereceu água e sanduíches. O ato postergou o início de um massacre.

Tragédia inevitável

O sequestro durou 17 horas e a tensão dentro da aeronave ficou ainda maior quando o fornecimento de energia do avião foi cortado. No meio da escuridão, os terroristas passaram a atirar para assustar os passageiros. Durante a confusão, uma granada acabou explodindo e abrindo um buraco na fuselagem da aeronave.

Diante do caos, Bhanot aproveitou para abrir uma saída de emergência e começou a ajudar os passageiros e tripulantes a fugirem. Mas, enquanto ajudava na fuga de três crianças, Neerja acabou sendo alvejada pelos terroristas. Apesar de ser socorrida, ela morreu no hospital, apenas dois dias antes de completar 23 anos.

O ato terrorista culminou com a morte de 20 pessoas. Os sequestradores, porém, saíram com vida, mas acabaram presos enquanto tentavam fugir. Os quatro foram condenados à morte no Paquistão, entretanto, uma reportagem do The Quint aponta que os homens receberam a liberdade e acabaram deportados para o território palestino. Em 2001, a inteligência paquistanesa anunciou a morte de Jamal Saeed Abdul Rahim. Mas, a falta de confirmação o mantém na lista de mais procurados do FBI.

Heroína póstuma

A coragem de Neerja Bhanot foi reconhecida com homenagens póstumas. Ela se tornou a mais jovem vencedora do Prêmio Ashok Chakra, alta condecoração indiana por atos de bravura. O Paquistão também a logrou com o Tamgha-e-Insaniyat pelo seu gesto de bondade humana.

Segundo o One India, uma das crianças que Neerja ajudou, que tinha apenas sete anos na época, se tornou capitão de uma grande companhia aérea. Ele afirmou que a comissária foi sua grande inspiração e que deve sua vida aos seus atos.