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Matérias / Arqueologia

A curiosa descoberta do jovem enterrado com um coração de ouro no Egito Antigo

Encontrada em 1916, intrigante múmia com coração de ouro ficou guardada por mais de um século

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 18/03/2023, às 19h00 - Atualizado em 19/10/2023, às 15h50

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Tomografia de múmia descoberta com coração de ouro no Egito - Cortesia S.N. Saleem, S.A. Seddik, M. El-Halwagy
Tomografia de múmia descoberta com coração de ouro no Egito - Cortesia S.N. Saleem, S.A. Seddik, M. El-Halwagy

No Egito, ainda hoje múmias são descobertas em escavações de locais que possuem uma longa história a ser contada. Porém, em 1916 um grupo de pesquisadores encontraram uma múmia que, somente mais de um século depois, viria a intrigar a comunidade científica.

O corpo, que teria pertencido a um jovem de idade entre 14 e 15 anos, foi mantido guardado nos depósitos do Museu Egípcio do Cairo, junto a dezenas de outras múmias, desde que fora encontrado até mais de um século depois, sem que tivesse sido examinado de perto por especialistas. A descoberta foi divulgada e repercutida pela imprensa em janeiro deste ano.

Foi quando uma equipe liderada por Sahar Saleem, da Universidade do Cairo, decidiu verificar a múmia com um tomógrafo que a descoberta arqueológica finalmente intrigou a todos. Isso porque, a partir das imagens obtidas, os pesquisadores identificaram 49 amuletos de 21 tipos diferentes, muitos feitos de ouro, no corpo do menino.

Como resultado, em artigo publicado na Frontiers in Medicine, a múmia foi batizada como "Golden Boy", ou "Menino de Ouro". Confira mais sobre a curiosa descoberta.

Tomografia em que é possível identificar coração de ouro em múmia de menino de 14 a 15 anos
Tomografia em que é possível identificar coração de ouro em múmia de menino de 14 a 15 anos / Crédito: Cortesia S.N. Saleem, S.A. Seddik, M. El-Halwagy

Menino de ouro

A partir dos exames, conforme repercutido pela BBC, foi possível determinar que o adolescente pertencia a alta classe da antiga sociedade egípcia, pois "tinha ossos e dentes sãos, sem indícios de desnutrição ou doença". Além do mais, sua mumificação teria sido de "alta qualidade, que incluiu a remoção do cérebro e das vísceras."

Porém, o que mais chamava atenção definitivamente não era a classe social a qual o garoto pertencia. Isso porque as imagens mostraram também que as mortalhas que cobriam o corpo do adolescente escondiam um objeto ao lado do pênis, além de uma língua dourada em sua boca e um objeto semelhante a um coração, também de ouro, abaixo da cavidade torácica.

No estudo, Saleem explica que a população do Egito Antigo tinha o costume de colocar amuletos junto a seus cadáveres para "proteger e dar vitalidade" a eles na vida pós-morte. "A língua de ouro dentro da boca procurava garantir que o morto pudesse falar na vida após a morte", exemplificou. Além desses amuletos, também foram identificados junto ao corpo do jovem, sandálias, guirlandas de samambaias e uma máscara dourada.

Datada do final do período ptolomaico (332 a.C. - 30 d.C), a múmia foi encontrada na cidade de Edfu, ao sul do Egito. O corpo estava protegido por dois sarcófagos, contendo inscrições em grego do lado de fora, e cujo interior era feito de madeira.

Sarcófago do "Menino de Ouro"
Sarcófago do "Menino de Ouro" / Crédito: Cortesia S.N. Saleem, S.A. Seddik, M. El-Halwagy

Por que a demora?

"O Egito passou por extensas escavações no século 19 e início do século 20 que resultaram na descoberta de milhares de corpos antigos preservados, muitos ainda embrulhados e dentro de seus caixões", afirma Sahar Saleem, segundo a BBC. "Desde sua inauguração em 1835, o Museu Egípcio no Cairo serviu como um depósito para esses achados e seu porão está repleto de muitas dessas múmias que ficaram trancadas por décadas sem serem estudadas ou exibidas."

Logo, como o número de descobertas era muito grande, e no passado era comum a dissecação desses cadáveres — tanto para fins de pesquisa quanto para entretenimento —, demorou mais de um século para que os intrigantes artefatos juntos à múmia fossem descobertos.

Porém, as tecnologias mais recentes de tomografia computadorizada permitem que esses restos mortais sejam examinados sem que sejam danificados, permitindo aprofundar "mais sobre a saúde, as crenças e as habilidades dos humanos na antiguidade."

A tomografia computadorizada representa um avanço significativo na radiologia. Em vez de usar uma única imagem, centenas de projeções de cortes finos (cortes) do corpo podem ser combinadas para criar um modelo tridimensional completo", conclui Sahar Saleem na pesquisa.