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Matérias / Carnaval

A história dos Yanomami, homenageados pela Acadêmicos do Salgueiro

Com o samba-enredo 'Hutukara', escola carioca nove vezes campeã do Carnaval homenageará um dos maiores povos indígenas da Amazônia

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 06/02/2024, às 15h13

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Índigena Yanomami - Marcos Corrêa/Palácio do Planalto
Índigena Yanomami - Marcos Corrêa/Palácio do Planalto

Nove vezes campeão do Grupo Especial do carnaval do Rio de Janeiro, a Acadêmicos do Salgueiro se apresentará esse ano com o samba-enredo 'Hutukara', em homenagem aos indígenas Yanomami. 

"Há mais de mil anos os Yanomami vivem na maior Terra Indígena (TI) do país, em um território ao norte do Brasil e sul da Venezuela, nos estados do Amazonas e Roraima, nas bacias do Rio Negro e do Rio Branco. Ou seja, quinhentos anos antes dessas duas nações existirem, eles já estavam lá. Viver na floresta é um ofício que requer uma sabedoria ancestral, não fabricada em laboratório, nem encontrada nas páginas dos livros do ‘povo da mercadoria’. Viver na floresta como Yanomami é ser parte dela. É conviver com seres humanos e não humanos, animais, plantas, vento, chuva e milhares de espíritos", diz a Salgueiro em seu site oficial.

Na Marquês de Sapucaí, a escola vermelha e branca pretende exaltar a mitologia Yanomami. 'Hutukara', inclusive, na língua dos povos originários, significa "o céu original a partir do qual se formou a terra". 

+ Carlos Drummond Andrade já falava sobre a causa Yanomami na década de 1970

Além disso, o desfile da escola servirá para reforçar a importância da luta pela defesa da Amazônia. "A gente precisa conscientizar todo o povo sobre o que é a devastação, o que ela tá trazendo para esse povo. Aliás, ela está matando os nossos povos", disse o carnavalesco Edson Pereira ao G1. Mas o que você sabe sobre os Yanomami?

Quem são os Yanomami?

Segundo o Instituto Socioambiental (ISA), o contato dos Yanomami — coletivo de caçadores-agricultores — com grupos não-indígenas é relativamente recente. Embora mais de 180 deles habitem a floresta amazônica, eles só se conectaram com outros indígenas no final do século 19. No Brasil, esse contato só aconteceu há cerca de um século, em meados dos anos 1910 e 1940. 

Atualmente, existem cerca de 665 aldeias Yanomami entre Brasil e Venezuela, conforme dados do relatório Território e comunidades Yanomami Brasil-Venezuela do ISA — que conta com a organização de grupos indígenas como a Hutukara Associação Yanomami. 

Essas aldeias podem ser separadas em, pelo menos, quatro grupos adjacentes que possuem línguas ramificadas da mesma família: yanomami, yanõmami, sanima e ninam, explica o National Geographic Brasil. 

Esses povos, além disso, habitam um território de cerca de 192 mil quilômetros quadrados no norte da floresta amazônica, que abrange a região de vales entre os rios Orinoco (Venezuela) e Amazonas (Brasil), aponta o acervo socioambiental do ISA. 

Para se ter uma ideia de sua grandeza, em 2011, sua população era estimada em 35 mil pessoas nestes dois países. Dados mais recentes, de 2019, da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), ligado ao Ministério da Saúde do Brasil, apontam que só no Brasil existam 28 mil yanomami

Grande parte vive na reserva ambiental chamada Terra Indígena Yanomami, que foi homologada em 1992 através de um decreto federal. A área destinada a eles é de 9 milhões, 664 mil e 975 hectares (96 mil e 650 km²) — o que seria maior que o tamanho de Portugal, por exemplo. 

Índios Yanomami/ Crédito: Ludwig Winklhofer via Wikimedia Commons

Ainda de acordo com estudo do ISA, por meio de um levantamento feito por geneticistas e linguistas, os yanomami atuais seriam descendentes de um grupo indígena que se manteve isolado há pelo menos um milênio.

O grupo teria ocupado Orinoco e a região roraimense de Parima. Por lá, eles teriam começado, há 700 anos, um processo interno de diferenciação linguística. 

A Serra Parima (que fica na fronteira de nosso país com a Venezuela), aliás, seria historicamente o local central ocupado pelos Yanomami, segundo diz a tradição oral e registros históricos. A região, aponta o ISA, é a mais densamente povoada do território. 

Yanomami e a preservação

Como tratado no samba-enredo da Salgueiro, a preservação dos povos originários também possui uma estreita ligação com a preservação do meio-ambiente. Afinal, as áreas mais preservadas do país são justamente as terras indígenas. 

Pelo menos é isso o que mostra um estudo divulgado em 2021 organizado pela MapBiomas — que produz um mapeamento anual da cobertura e uso de terra no Brasil através de uma rede colaborativa de universidades, startups de tecnologia e ONGs — que utilizou imagens de satélite e dados de inteligência artificial entre os anos de 1985 e 2020. 

Isso se explica muito por conta da relação dos Yanomami com a natureza. Afinal, para eles, a floresta, a terra e tudo mais (ou, como eles chamam, 'urihi') foi dada por uma entidade (Omama) para que eles cuidassem e vivessem de geração em geração. Desta forma, aponta o ISA, a terra que foi dada viverem é chamada de 'floresta dos seres humanos' (yanomae thëpë urihipë).

Nossa visão, do povo yanomami, é ficar de olho na nossa terra-planeta. É muito importante", disse o líder e xamã yanomami Davi Kopenawa ao National Geographic.

"Omama que está nos protegendo e à floresta que sustenta a nossa sobrevivência hoje e a das futuras gerações. Nossos filhos vão continuarão a sustentar a floresta", finalizou, explicando a missão que os povos têm em cuidar da terra e passá-la de geração em geração.