Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / Curiosidades

5 pessoas que fingiram a própria morte

Seja para fugir dos alemães depois da Segunda Guerra ou até mesmo para saciar o próprio ego, eles encontraram na morte uma nova maneira para recomeçar — ou não

Fabio Previdelli Publicado em 13/12/2019, às 14h33

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Cena do filme O Auto da Compadecida - Reprodução
Cena do filme O Auto da Compadecida - Reprodução

1. ‘Lord’ Timothy Dexter: O excêntrico egomaníaco

Nascido em Newburyport, Massachusetts, Timothy Dexter foi uma das figuras mais excêntricas que passou pela América no século 18. No final da década de 1770, Timothy, que se autodenominava Lord baseando-se nos méritos que ele mesmo determinou, conseguiu fazer uma bela riqueza comprando moedas desvalorizadas e as revendendo depois.

Assim, Dexter construiu uma luxuosa mansão à beira do mar com 40 grandes estátuas de herói — incluindo ele próprio. Em baixo de sua representação havia uma placa com os seguintes dizeres: "Eu sou o primeiro no Oriente, o primeiro no Ocidente e o maior filósofo do mundo ocidental". O que mais chamava atenção nisso tudo é que, apesar de ter concluído sua educação formal aos oito anos de idade, nunca havia estudado filosofia.

"Dexter se entregou aos seus caprichos, estava na maior parte do tempo em estado de intoxicação e constantemente fazia coisas estranhas", escreveu William Cleaves Todd em seu livro, de 1886, intitulado Timothy Dexter: Uma investigação sobre sua vida e seu verdadeiro caráter.

A estranheza e a egomania de Dexter não se manifestavam apenas em títulos falsos e ídolos covardes. O homem também recrutou seu próprio poeta laureado para segui-lo e exaltar as virtudes dúbias de sua extravagante casa e de sua carruagem dourada.

Em uma atitude ostensiva que, no entanto, reconheceu seu status de homem mortal e não de deus, Dexter instalou um mausoléu completo em sua mansão. O belo e refinado caixão artesanal de mogno seria o local do funeral de lorde Timothy Dexter.

Mas ele estava impaciente, já que não suportava a ideia de milhares de pessoas se reunirem para lamentar sua morte e nem ao menos teria o prazer de ouvir todos os elogios que, sem dúvida, seriam amontoados em seu corpo sem vida.

‘Lord’ Timothy Dexter e seu cachorro / Crédito: Creative Commons

Então Dexter fez o que qualquer pessoa excêntrica faria: ele organizou seu próprio funeral falso.

Todd observou os detalhes do serviço: “Alguém foi contratado para oficiar como clérigo, cartões foram enviados para convidar os enlutados, e Dexter observou as pessoas para ver como elas foram afetadas. Ele ficou satisfeito com tudo, exceto que sua esposa não derramou tantas lágrimas quanto ele pensava. Dessa forma, como ficou marcado na história, ele a atacou severamente após a cerimônia”.


2. Aleister Crowley: O mago ocultista

Em setembro de 1930, ocultista britânico de 54 anos e autoproclamado Grande Besta, Aleister Crowley, viajou para Portugal com sua namorada Hanni Jaeger, uma alemã de 19 anos que foi a mais recente iniciada em seu reino de magia.

Enquanto estava lá, Crowley conhece e se aproxima bastante do poeta português Fernando Pessoa. Apesar da relação com Pessoa estar cada dia melhor, o mesmo não parece acontecer com Hanni, com quem tem algumas brigas, o que faz que a moça o deixe sozinho em Portugal.

A partir daí, surge a mirabolante ideia do ocultista de encenar sua própria morte na Boca do Inferno, uma formação rochosa à beira mar com uma violenta torrente de água. Apesar de parecer uma insanidade, o plano ganha a ajuda do poeta português.

Em sua nota de suicido, que foi endereçada para Jaeger, Crowley escreveu: “Não posso viver sem ter você. A Boca do Inferno vai me levar, mas ela não será tão quente quanto a sua”.

A notícia do suposto suicídio logo se espalhou. Com a ajuda do jornalista Augusto Ferreira Gomes, Fernando Pessoa consegue fazer com que a carta escrita pelo ocultista seja publicada no jornal, o que dá mais credibilidade ao fato. Depois disso, Pessoa ainda dá algumas entrevistas relatando a triste perda do amigo.

Aleister Crowley / Crédito: Getty Images

A “farsa” só é revelada três semanas depois, quando Crowley aparece em Berlim onde inaugurou uma exposição de pintura em Outubro de 1931. Ninguém sabe ao certo o motivo do falso suicídio. Alguns dizem que tudo foi uma estratégia premeditada para alavancar as visitas na Exposição, já outros afirmam que a história serviu para o mago não pagar a hospedagem do hotel.


3. Juan Pujol Garcia: O agente duplo

Durante a Segunda Guerra Mundial, Juan Pujol Garcia foi um agente secreto para os Aliados (sob o codinome "Agente Garbo") e para os alemães (que o conheciam como "Arabel"), e desempenhou um papel fundamental na queda de Hitler.

Em 1944, logo após a invasão da Normandia, Pujol recebeu condecorações militares da Grã-Bretanha e também da Alemanha — apesar de seu serviço de desinformação, os nazistas ainda desconheciam os enganos magistralmente executados pelo agente duplo.

No entanto, o fim do conflito não significou o fim das histórias de mentiras de Garcia para os alemães. Ele ainda precisava enganá-los pela última vez: fingindo sua própria morte. Com medo do que os alemães pudessem fazer caso o tivessem em suas mãos, o agente contou com a ajuda do MI5 para o sucesso em seu plano. Em 1949, o embaixador britânico na Espanha anunciou que Pujol havia sucumbido à malária em Moçambique.

Juan Pujol Garcia / Crédito: Reprodução

Libertado de sua vida anterior, Garcia se mudou com seus familiares para a Venezuela, onde viveu uma vida normal durante algumas décadas. Sua vida como agente só voltou aos holofotes em 1984, quando Pujol visitou as praias da Normandia para prestar homenagem à batalha que ele ajudou a planejar e ganhar. Juan Pujol Garcia morreu pela segunda, e última vez, em 1988, aos 76 anos.


4. John Stonehouse: O político surtado

Em 20 de novembro de 1974, o político trabalhista britânico John Stonehouse desapareceu de uma praia de Miami. Uma pilha de suas roupas era tudo o que restava do homem, fazendo com que as autoridades concluíssem que ele havia se afogado ou até mesmo morto por um tubarão.

Cinco semanas depois, Stonehouse, vivo e bem, foi preso na Austrália. Inicialmente, um policial o confundiu com outro britânico desaparecido, Lord Lucan, que também foi “morto” em novembro de 1974, após o assassinato de sua babá. Lucan era conhecido por ter uma grande cicatriz na coxa direita, assim, a polícia ordenou que o ‘morto-vivo’ abaixasse suas calças para que pudesse ser identificado adequadamente.

Depois de descobrirem que John era um político britânico, a polícia local o deportou de volta para o Reino Unido. Stonehouse foi convocado para a Câmara dos Comuns para explicar a lógica por trás de seu dramático desaparecimento.

Entre algumas das maluquices ditas nos mais de 13 minutos de declaração, o político disse: “Sofri um colapso mental completo, o que um psiquiatra australiano classificou como suicídio psiquiátrico. Isso tomou a forma de um repúdio à vida de Storehouse, porque ela se tornara intolerável para mim. Eu assumi uma nova personalidade paralela que tomou conta de mim, que era estranha para mim e que desprezava a farsa dos últimos anos de minha vida”.

Descrevendo-se como um “homem quebrado” com “ideais perdidos”, John continuou a exercer sua função política até ser condenado por fraude em agosto de 1976, quando foi condenado a sete anos de prisão.

John Stonehouse / Crédito: Getty Images

Liberado da prisão em 1979, depois de ter três ataques cardíacos, acabou falecendo em 1988 por maiores complicações em seu coração. Documentos divulgados em 2010  revelaram que ele passou boa parte da década de 1960 operando um espião para a Tchecoslováquia enquanto servia como ministro britânico.

5. Marcus Schrenker: O consultor financeiro falido

Em 2009, o consultor financeiro Marcus Schrenker passava por uma grave crise financeira. Seus negócios deixaram inúmeras dívidas e todo o problema parecia não ter fim. Todos esses problemas pareciam ter uma única solução: sua morte.

Em 11 de janeiro de 2009, ele decolou de um campo de pouso em Indiana em um avião monomotor, seu destino era a Flórida. Enquanto estava no Alabama, Schrenker emitiu um pedido de socorro alegando que para-brisa havia sido danificado e ele estava sangrando profusamente.

Quatro jatos militares foram enviados para interceptar o avião. Cegando nas coordenadas indicadas, eles se depararam com o monomotor voando com a porta aberta e sem nenhum piloto. Schrenker havia desaparecido e o para-brisa estava totalmente intacto.

O turboélice acabou ficando sem combustível e acabou caindo no Panhandle da Flórida. A essa altura, Marcus já estava em solo firme depois de ter saltado de paraquedas nos confins do Alabama.

Caption

Apesar da fuga, ele acabou sendo capturado em acampamento na Flórida. Por ter fraudado valores mobiliários, enganado a guarda militar e destruído ilegalmente uma aeronave, ele acabou sendo preso até 18 de setembro de 2015.

Em setembro deste ano seu período de liberdade condicional se encerrou. Atualmente, Marcus Schrenker dirige vários programas para ajudar aqueles que precisam de reabilitação e aconselhamento.