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Matérias / Rússia

Crucial para a revolução que derrubou o czar: A marcha das mulheres russas

Fartas de serem oprimidas e exploradas, as operárias russas foram importante para a derrocada do czarismo e a ascensão do socialismo em 1917

Raphaela de Campos Mello Publicado em 25/03/2023, às 08h00 - Atualizado em 24/08/2023, às 16h12

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Parte de um cartaz feito na época da Revolução Russa - Domínio Público
Parte de um cartaz feito na época da Revolução Russa - Domínio Público

"Ninguém, absolutamente ninguém – podemos afirmar categoricamente baseando-se em todos os documentos consultados – supunha que o dia 23 de fevereiro marcaria o início de um assalto decisivo contra o absolutismo.” A ênfase desta afirmativa trepida ante a emoção da surpresa. Por meio dela, o intelectual e revolucionário bolchevique Leon Trotsky fez jus ao colossal evento que revirou a cidade de Petrogrado (atual São Petersburgo) no dia 8 de março de 1917 (23 de fevereiro no calendário juliano, adotado,
então, pela Rússia). 

No dia, 90 mil operárias, a maioria do ramo têxtil, iniciaram uma greve geral e tomaram as ruas da então capital do Império Russo.

Elas tinham um punhado de motivos para tanto: as terríveis condições de trabalho nas fábricas, a fome, a participação do país na Primeira Guerra Mundial, conflito que exterminou maridos, filhos e parentes, além do czarismo, regime monárquico absolutista liderado pelo czar Nicolau II, calcado na concentração de privilégios e na opressão das classes populares.

Fúria feminina

Nicolau II presumia que a guerra seria breve e que a Rússia sairia vitoriosa. Porém, em
1917, cerca de 5 milhões de soldados tinham morrido, desaparecido, sido presos ou feridos. Além disso, a reivindicação popular por pão, paz e terra se espalhou, o que contribuiu para abater o patriotismo russo do início do conflito e incitar a eclosão de rebeliões, greves operárias e levantes contra oficiais”, explica Luciene Carris, doutora em História Política pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro
(UERJ) e coautora da obra "Russos em Revista: A Revolução Russa nas Revistas Ilustradas Brasileiras" (Gramma Editora).

Testemunha ocular do redemoinho social daqueles dias, a líder revolucionária e teórica
marxista Alexandra Kollontai assim descreveu a fúria feminina: “O protesto das mulheres
trabalhadoras era tão ameaçador que mesmo as forças de segurança czaristas não ousaram tomar as medidas usuais contra as rebeldes e observavam atônitas o mar turbulento da ira do povo”, ela registrou no artigo "Da História do Movimento das Trabalhadoras na Rússia", publicado em 1920.

É preciso lembrar que, nos anos anteriores à Primeira Guerra, hordas de mulheres camponesas migraram para as fábricas urbanas. Impelidas pela pobreza, elas vislumbravam um futuro melhor na esteira da modernização. Só que, uma vez instaladas no coração do “progresso”, se depararam com a intensa mecanização fabril e com empregos desoladores. Sem falar que a preferência dos patrões por trabalhadores “submissos” provocou a escalada do número de mulheres labutando na produção de
linho, seda, algodão, lã, cerâmica e papel. Elas apinhavam os galpões. Sem qualquer lampejo de satisfação. Uma hora a indignação transbordaria feito leite fervido.

Pressão e convencimento

Batizada de “Pão e Paz”, a histórica marcha fora organizada pela Liga da Igualdade de Direitos das Mulheres, importante frente feminista criada em 1907. De tão impactante e desestabilizador, o protesto é considerado o estopim das Revoluções Russas de Fevereiro, que derrubou a monarquia e instaurou um Governo Provisório, e de Outubro, que implantou o socialismo naquele país.

Arremessando paus, pedras e bolas de neve nas vidraças das fábricas, as insurgentes forçaram a invasão desses espaços, exigindo a solidariedade dos homens, especialmente os metalúrgicos, tidos como os politicamente mais conscientes e a força de trabalho socialmente mais poderosa da cidade. Ainda buscaram o apoio dos soldados encarregados de abafar o levante.

“As mulheres trabalhadoras desempenham um importante papel na relação entre trabalhadores e soldados. Elas sobem até os cordões com mais coragem do que os homens, agarram os rifles, suplicam, praticamente ordenam: ‘Abaixem suas baionetas – juntem-se a nós’. Os soldados estão empolgados, envergonhados, trocam olhares ansiosos, vacilam; alguém se decide primeiro e as baionetas se levantam com ares de culpa por cima dos ombros da multidão que avança”, narrou Trotsky.

Foi assim que soldados que faziam guarda nos depósitos de bondes foram convencidos
pelas trabalhadoras do setor a se juntarem a elas dentro do prédio. Os veículos, por sua vez, foram tombados para serem usados como barricadas contra a polícia. Valendo-se de estratégias como essas, as trabalhadoras protagonizaram um feito de proporções épicas, principalmente se pensarmos no que era esperado delas naquele tempo: obediência e submissão. “A intrusão feminina em outras esferas representava o desvio da regra, uma anomalia ao tradicional lugar da mulher na sociedade russa, uma vez que o espaço da política não era o seu lugar”, lembra Luciene Carris. Isso explica a desconfiança de muitos trabalhadores e revolucionários homens.

Revoluções femininas

Mas aquela não tinha sido a primeira insurreição das mulheres russas. Na Revolução de 1905, operárias têxteis, de tabaco e de doces juntaram-se às trabalhadoras domésticas e de lavanderia, decretaram greve e tentaram formar seus próprios sindicatos. Em 1913, nova erupção: elas se manifestaram nas ruas de Petrogrado durante o I Dia Internacional das Trabalhadoras pelo Sufrágio Feminino. Porém foram reprimidas. De modo que a rotina de exploração e descontentamento seguiu seu curso. Até o calendário avisar que o ano de 1917 reconfiguraria aquela sociedade como nunca antes.

Mais tarde, em 1921, na Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, o 8 de março – data da célebre marcha – se firmou como símbolo da luta pelos direitos femininos. Dali em diante, gerações ergueram suas vozes para garantir que as mulheres tivessem seu espaço e sua existência respeitadas onde quer que desejassem pisar. Em 1975, a efeméride foi oficializada pela Organização das Nações Unidas (ONU).

Pôster mostrando mulher no 8 de março da greve geral - Domínio Público

Que mulheres eram essas?

As valentes que se uniram na marcha jamais esquecida eram intelectuais, estudantes, professoras, enfermeiras, escritoras, mas, sobretudo, a chamada “mulher de fábrica”, “oprimida, marginalizada, escravizada pelo excesso de trabalho, politicamente despreparada, vista com desprezo e soberania até mesmo pelas mulheres da classe média urbana, evitada pelas camponesas apegadas aos velhos costumes”, na definição de Alexandra Kollontai.

As circunstâncias falam por si mesmas. Na Rússia do início do século, 20,6 milhões de proletárias trabalhavam turnos de 12 horas em ambientes insalubres, por salários miseráveis – mais baixos do que os dos homens –, convivendo com a fome, com doenças e com humilhações persistentes, incluindo assédio sexual. Era comum elas esconderem a gestação até darem à luz no chão da fábrica.

Como não explodir contra o poder dos proprietários e a escravidão do capital? Somava-se a esse quadro lamentável “a ausência de qualquer ajuda por parte do Estado ou da sociedade no caso de doença, gravidez ou desemprego, bem como a incapacidade de autogestão, uma vez que o governo czarista perseguia brutalmente quaisquer tentativas dos trabalhadores de se organizarem”, acrescenta a líder revolucionária e teórica marxista.

Teoria e prática

Até o início do século 20, quando o marxismo já havia se infiltrado no cerne do movimento trabalhador russo, as proletárias participavam do movimento apenas isoladamente. Mesmo assim, delas emanou a força motriz para a eclosão da Revolução Russa. As mulheres letradas, pertencentes às classes superiores, também atuaram de forma decisiva para as transformações consolidadas naquele período. “A Rússia e a União Soviética foram precursoras no que se refere à luta das mulheres pela emancipação e às suas conquistas. Desde o século 19, as russas se organizaram para estabelecer instituições como os cursos superiores para mulheres, fundados a partir de 1872”, destaca Graziela Schneider na apresentação da obra A Revolução das Mulheres: Emancipação Feminina na Rússia Soviética (Boitempo).

Cada qual munida com sua ferramenta, as russas se uniram porque seguir caladas seria o mesmo que compactuar com um sistema massacrante. Por isso, para elas, era crucial demolir o status quo e criar do zero uma novíssima sociedade. “O movimento de mulheres da Rússia se difere das conquistas das mulheres ocidentais dentro do liberalismo, que reivindicavam a igualdade de direitos em relação aos homens, sem propor uma mudança abrupta nos padrões sociais, enquanto na Rússia pré e pós-revolucionária a transmutação do papel e dos costumes impostos à mulher era crucial”, destaca Graziela.

As demandas se empilhavam, tamanha era a carência de dignidade, qualidade de vida, direitos sociais e jurídicos, igualdade e liberdade. Mesmo as mulheres menos instruídas sabiam que a luta era indispensável. “Apesar da falta de uma formação mais teórica, as mulheres russas compreendiam muito bem a origem dos problemas que enfrentavam e a importância da união dos trabalhadores e do convencimento dos soldados que apoiavam o czar Nicolau II para que combatessem a favor da causa”, frisa Luciene.

Debaixo de tiros

À marcha de 8 de março seguiram-se meses caóticos. Com a aniquilação da monarquia, um Governo Provisório fora arquitetado, porém o descontentamento das massas persistia. De maneira que no mês de outubro de 1917 a Revolução se acirrou para que o socialismo, enfim, se consolidasse como o novo regime. E lá estavam as mulheres novamente. Milhares de heroínas anônimas lutaram ao lado de operários e camponeses. Com roupas puídas e cabelos cobertos por panos, elas se dirigiram para o front, abnegadas e assertivas, na direção de um futuro mais justo.

“Jovens e velhas, operárias e soldadas, camponesas e donas de casa, da camada pobre da cidade. Raras, muito mais raras naqueles dias eram as mulheres empregadas, da intelligentsia. Mas também havia mulheres desta categoria entre aqueles que carregaram a bandeira vermelha na vitória de Outubro: professoras, funcionárias de escritórios, jovens universitárias, estudantes ginasiais, médicas”, descreveu Alexandra. Já as mulheres do Partido Bolchevique prestaram assistência médica e se encarregaram das comunicações entre as localidades, ao passo que outras coordenaram o levante em diferentes áreas de Petrogrado enquanto colegas mais aguerridas integraram a Guarda Vermelha.

Dentre as combatentes, estavam, por exemplo, Varvára Nikoláievna Iákovleva, uma rocha. “No fogo das batalhas de barricadas, ela demonstrou uma rigidez digna de um líder do partido. Muitos camaradas diziam na época que sua firmeza e inabalável coragem faziam voltar o vigor aos que estavam abalados e inspirava os que perdiam o ânimo a irem em frente, até a vitória”, lembra Alexandra. Também participaram Vera Slútskaia, trabalhadora abnegada, morta por uma bala de cossacos no primeiro
front vermelho perto de Petrogrado, e Evgenia Boch, sempre disposta a dar tudo de si nos confrontos. Até morrer em ação.

Sem contar a condutora de bonde A.E. Rodionova, responsável por garantir que dois bondes com metralhadoras partissem do depósito para o assalto ao Palácio de Inverno, além da agitada Vária, das oficinas ferroviárias de Moscou, e da sorridente trabalhadora têxtil Fiódorova, de Leningrado, que, na hora mais bruta, permaneceu nas barricadas debaixo de tiros.

Excerto de pôster retratando as mulheres da Revolução Russa - Domínio Público

Revolução Russa

Como sabemos, o sacrifício dessas e de tantas outras mulheres não foi em vão. A Revolução Russa sagrou-se vitoriosa e uma nova sociedade, alinhada aos princípios socialistas, começou a ser desenhada sob o comando de Vladimir Ilyich Ulianov, mais conhecido pelo pseudônimo Lenin. Em meio à guerra civil que perdurou até 1922, um espaço notável se abriu para os debates sobre a libertação feminina. Logo em 1917 fora concedido o sufrágio universal. O novo regime também legislou pela igualdade entre homens e mulheres, legalizou o aborto seguro e gratuito, implantou creches em período integral, licença-maternidade e o direito ao divórcio. Além disso, construiu lavanderias e refeitórios coletivos, regulamentou a jornada de 8 horas diárias de trabalho e fomentou a participação das mulheres nos estudos e na vida pública.

“Os bolcheviques assumiam cada vez mais a organização e a politização das mulheres – em parte, aprendendo com os começos explosivos de fevereiro; mas também, devido à tenacidade das próprias mulheres do partido, dentre elas, Kollontai, Krupskaia, Armand, KonkordiiaSamoilova e Vera Slutskaia. Elas argumentavam há muito que o partido deveria fazer esforços especiais para organizar as trabalhadoras e desenvolver sua formação política”, observa Megan Trudell num artigo sobre o centenário da Revolução Russa, organizado pela revista Jacobin.

Cotidiano equânime

As mulheres lutavam pela igualdade não somente perante a lei, mas em relação à vida cotidiana como um todo. “Muitos estudos foram realizados após a Revolução sobre o trabalho e o tempo, sobre a quantidade de horas que mulheres e homens da classe trabalhadora dedicavam ao trabalho doméstico. Era nítido que os homens podiam se desenvolver como seres humanos, ao passo que as mulheres serviam à família. Os
revolucionários russos, portanto, avançaram nesse sentido socializando o trabalho doméstico por meio de lavanderias, creches e restaurantes públicos, reduzindo-o assim ao mínimo possível”, relata a historiadora Diana Assunção no prólogo da obra Mulher, Estado e Revolução, de Wendy Goldman (Boitempo).

Uma mulher sobrecarregada pela maternidade e pela manutenção da casa jamais poderia se desenvolver enquanto um ser humano desejante e dotado de talentos diversos, os quais lhes dariam condições materiais e econômicas para tomarem seus destinos em suas mãos e, consequentemente, o do coletivo. A transformação almejada teria que atingir as entranhas das relações. “A opressão milenar às mulheres não poderia ser transformada de um dia para o outro, e todo um processo de ‘revolução dentro da revolução’ deveria avançar. Por isso, reflexões acerca das formas de relação social, da criação coletiva das crianças e do amor foram tema de debates calorosos entre os pensadores revolucionários da Rússia pós-1917”, expõe Diana.

Verdadeira emancipação

O que estava em questão naquela sociedade, enfatiza a historiadora, não era somente a conquista de mais direitos ou de maior liberdade individuais, mas também a possibilidade de as mulheres administrarem o Estado operário, dirigindo os sovietes. “Essa ideia confrontava diretamente o que o capitalismo relegava às mulheres. Não era uma questão de opressão somente, mas a noção de que a própria alienação do trabalho doméstico impede as mulheres de qualquer desenvolvimento”, sublinha Diana.

Na época, Trotsky chegou a fazer tal ressalva: “A Revolução de Outubro inscreveu em sua bandeira a emancipação da mulher e produziu a legislação mais progressista na história sobre o matrimônio e a família. Isso não quer dizer, no entanto, que imediatamente a mulher soviética conquistou uma ‘vida feliz’. A verdadeira emancipação da mulher é inconcebível sem um aumento geral da economia e da cultura, sem a destruição da unidade econômica familiar pequeno-burguesa, sem a introdução da elaboração socializada dos alimentos e sem educação”.

Apesar de demonstrarem que podiam contribuir enormemente para a vida coletiva, as russas não se livraram facilmente do sexismo. Ele continuou a rondar, sobretudo, os espaços de poder. Mesmo assim, suas atitudes obrigaram muitos homens a repensarem os rótulos atrelados ao gênero feminino. “O papel das mulheres trabalhadoras na Revolução de Fevereiro e sua contínua importância como parte da classe operária de Petrogrado ajudaram a mudar a visão de muitos homens bolcheviques, que acreditavam que focar nas ‘questões femininas’ era ceder ao feminismo e que a revolução seria liderada pelos trabalhadores (homens) mais qualificados e politicamente conscientes”, destaca Megan Trudell.

Cartaz de Aleksandr Rodchenko retratando Lilya Brik, uma das mulheres que teve um papel essencial na revolução de 1917; no cartaz, ela grita "livros", em defesa da educação feminina - Ródchenko/Domínio Público

Coletânea de retrocessos

Após a morte de Lenin, em janeiro de 1924, ventos impiedosos começaram a soprar na Rússia. Josef Stalin, secretário-geral do Partido Comunista, foi amealhando poder até se converter em líder supremo dos soviéticos. Posição que perdurou até sua morte, em março de 1953, há exatos 70 anos. Conhecido pela repressão política e social, o ditador implementou políticas retrógradas, as quais implodiram as recentes conquistas femininas.

Para se ter ideia, a seção feminina do partido foi dissolvida em 1929; voltaram a ser penalizados a homossexualidade (1934) e o aborto (de 1936 a 1955); a educação foi novamente segregada entre mulheres e homens; as condições de obtenção do divórcio se complicaram, reacendendo a moral e a família tradicionais. Além disso, a igualdade salarial entre homens e mulheres caiu por terra, assim como o acesso à educação técnica e superior e a criação de jardins de infância, escolas, lavanderias e restaurantes comunitários. Toda uma estrutura montada para amenizar o extenuante trabalho doméstico, tradicionalmente feminino, virou pó.

Depois da luta e da esperança, o amargo das perdas. “O peso das tradições e costumes centenários permaneciam arraigados naquela sociedade, como bem revelou, em 1924, a pedagoga e crítica literária russa Nadiéja Konstantínovna Krüpskaia, integrante do Comitê Central do Partido Comunista. Ela afirmou que ‘os vestígios da antiga desigualdade, dos antigos preconceitos, ainda são profundos, e é preciso trabalhar incansavelmente para eliminá-los da vida cotidiana, familiar e social’”, pontua Luciene.

Exclusão e recuperação

Antes promissoras e capazes, as mulheres russas foram se apagando em face dos obstáculos reerguidos. Além da falta de formação e de tempo disponível para a atividade política, pairava a dúvida sobre o comprometimento delas na esfera pública, pois muitas continuavam se dividindo entre a labuta doméstica, com a casa e o cuidado com os filhos, e o trabalho nas fábricas. “Considerava-se necessário o engajamento contínuo na vida política, não bastava uma consciência política. Assim, elas foram excluídas de cargos importantes de instituições administrativas recém-criadas, bem como de conselhos de suas aldeias e das lideranças dos comitês das fábricas, entre tantos outros espaços, que continuaram marcadamente masculinos”, explica.

Somente na Segunda Guerra Mundial as russas recuperaram o protagonismo usurpado pelo stalinismo. Foram elas as primeiras aviadoras, motoristas de tanques e atiradoras de elite nos combates contra os nazistas. O mundo, boquiaberto, teve de reconhecer o alcance da potência feminina. Reatava-se ali o elo com as bravas e estrategistas revolucionárias de 1917.