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Matérias / David Hahn

David Hahn: O jovem que tentou criar um reator nuclear em casa

Na década de 1990, David Hahn impressionou e assustou autoridades dos Estados Unidos com tentativa científica arriscada

Ingredi Brunato, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 20/11/2022, às 20h00

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Fotografia de David Hahn quando ainda jovem - Reprodução/The Nuclear Boy Scout
Fotografia de David Hahn quando ainda jovem - Reprodução/The Nuclear Boy Scout

Em 1995, um jovem escoteiro de Michigan, nos Estados Unidos, chamado David Charles Hahn, chamou bastante atenção de autoridades locais por uma situação bem específica, mas extremamente preocupante: a tentativa de construir um reator nuclear funcional dentro de sua casa.

Fascinado pela ciência desde sua infância, o jovem Hahn realizava diversos tipos de experimentos químicos em um galpão de quintal, improvisando com os materiais que tinha sempre ao seu alcance. Então, em 1995, a tentativa de construir um reator nuclear foi bem-sucedida, embora o resultado tenha sido menor que o pretendido, chamando atenção.

Confira a seguir um pouco sobre a história de David Hahn, o jovem escoteiro que ficou conhecido como 'Escoteiro Radioativo' ou 'Escoteiro Nuclear'.

David Charles Hahn, jovem escoteiro que chamou grande atenção na década de 1990 por tentativa de construir reator nuclear em casa
David Charles Hahn, jovem escoteiro que chamou grande atenção na década de 1990 por tentativa de construir reator nuclear em casa / Crédito: Reprodução/The Nuclear Boy Scout

Jovem prodígio

David Hahn tentou construir seu reator nuclear caseiro quando tinha apenas 17 anos, de acordo com os registros do FBI, como informado pelo portal All That's Interesting. Conduzidos no quintal de sua madrasta em Commerce Township, Michigan, os experimentos foram realizados quase em segredo.

Hahn começou a estudar química aos 10 anos e fabricou nitroglicerina aos 14. Antes de tentar construir seu reator, o jovem manchou seu quarto com seus experimentos, até que seus pais mudaram seus trabalhos para o porão, antes de se instalarem no galpão.

Para conseguir atingir o objetivo, Hahn reuniu informações com diversas ligações à Comissão Reguladora Nuclear, com detalhes sobre todas as etapas na construção de um reator. Na maioria dos casos, ele conseguiu reunir as informações de que precisava com a ajuda de pseudônimos e histórias de capa.

O interesse do jovem Hahn cresceu exponencialmente com o decorrer dos anos. Ele não deixava de estudar sobre diversos assuntos, mas mais especialmente energia atômica — o que lhe rendeu até mesmo uma medalha de mérito em 1991, quando já sabia manipular reações. Ele complementou sua pesquisa prática com longas sessões de estudo em sua biblioteca local.

Então, aos 17 anos, David Hahn finalmente tentou realizar a façanha que viria a torná-lo conhecido pelos Estados Unidos na década de 1990: utilizando utensílios domésticos e um bloco de chumbo como reator substituto, coletou tório de lanternas, rádio de relógios, trítio de miras de armas e lítio de baterias que comprou, além de ter utilizado filtros de café e potes de picles para lidar com produtos químicos perigosos e potencialmente mortais.

Porém, os experimentos não alcançaram seu objetivo esperado, e acabou criando, assim, uma fonte de nêutrons rudimentar. E embora fosse incapaz de produzir combustível fissionável na mesma taxa que outros reatores, o experimento do escoteiro já estava espalhando radiação detectável.

Atenção indesejável

O galpão que David Hahn utilizava para seus experimentos foi descoberto depois que a polícia parou o jovem por carregar materiais suspeitos em seu porta-malas. Na ocasião, o jovem, que acreditava não estar fazendo nada de tão arriscado, simplesmente informou as autoridades que o que transportava era radioativo, e logo tudo foi descoberto e informado à Agência de Proteção Ambiental.

David Hahn em frente ao galpão em que realizava seus experimentos
David Hahn em frente ao galpão em que realizava seus experimentos / Crédito: Arquivo Pessoal

Depois disso, todo o experimento de Hahn foi desmontado por autoridades competentes. Porém, já era tarde, e além do próprio adolescente, que manuseava os materiais sem a proteção adequada, residentes próximos também foram colocados em risco.

Depois de descoberto, as autoridades passaram a insistir em avaliar Hahn clinicamente, visto os longos períodos em que esteve exposto aos materiais radioativos sem proteção mínima necessária. Porém, ele se recusou a fazê-los — sabe-se que ele realmente teve sua expectativa de vida diminuída.

Últimos anos de vida

O colapso de seu experimento, a turbulência de um relacionamento fracassado e o suicídio de sua mãe contribuíram para que David Hahn desenvolvesse depressão, ao longo de sua vida, segundo a Ars Technica. Então, tentando encontrar um novo rumo à sua vida, tentou se matricular em uma faculdade e se alistar nas forças armadas.

No entanto, enquanto servia a Marinha dos Estados Unidos, no Corpo de Fuzileiros Navais, apenas encontrou mais complicações para seu quadro de saúde mental. Em 2007, uma década depois da desmontagem de seu laboratório caseiro, ele foi preso novamente por roubar alguns detectores de fumaça — de onde poderia tirar amerício radioativo —, que levantaram suspeita para uma segunda tentativa de construir um reator, dessa vez escondido dentro de seu congelador.

Após sua captura, ele se declarou culpado de tentativa de furto de um prédio e foi condenado a 90 dias de prisão. Porém, quase uma década depois, em 27 de setembro de 2016, David Charles Hahn morreu, aos 39 anos, devido a uma combinação de álcool, difenidramina e fentanil.