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Matérias / Arqueologia

O que se sabe sobre primeira evidência de uso de drogas na Idade do Bronze

Evidências diretas de uso de drogas na Idade do Bronze foram apontadas após análise de fios de cabelo encontrados em cemitério na Espanha

Éric Moreira, sob supervisão de Fabio Previdelli Publicado em 17/04/2023, às 10h22 - Atualizado às 11h00

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Fios de cabelo que revelaram uso de drogas durante Idade do Bronze - Divulgação/Universidade de Valladolid/P. Witte
Fios de cabelo que revelaram uso de drogas durante Idade do Bronze - Divulgação/Universidade de Valladolid/P. Witte

Sabe-se que o uso de drogas e substâncias psicoativasnão é recente na história da humanidade, embora não existisse provas concretas disso. Porém, recentemente, arqueólogos da Universidade de Valladolid, na Espanha, descobriram a primeira evidência direta de uso de drogas alucinógenas, derivadas de plantas, durante a Idade do Bronze.

A descoberta foi feita a partir da análise de fios de cabelo humano encontrados em um cemitério na caverna Es Càrritx, em Menorca (Espanha), conforme publicado em artigo na Scientific Reports. De acordo com a Revista Galileu, essa primeira evidência de uso de drogas na Europa pode estar relacionada a cerimônias ritualísticas do passado.

Como já mencionado, já se sabia da presença de substâncias com princípios psicoativos em períodos anteriores da história humana, na Europa, mas nenhuma delas evidenciava que as pessoas consumiam-nas, mas somente que elas eram conhecidas.

Porém, a partir da análise dos fios de cabelo encontrados no cemitério, Elisa Guerra-Doce, da Universidade de Valladolid, juntamente a outros pesquisadores, puderam apontar essa novidade.

Descoberta

Segundo o estudo, alguns dos indivíduos enterrados na caverna tinham os fios de cabelo tingidos de vermelho, e colocados dentro de recipientes de madeira e chifre decorados com círculos concêntricos.

Então, a partir da técnica de Cromatografia Líquida de Ultra Alta Performance e Espectroscopia de Massa de Alta Resolução, foi testada a presença de alcaloides nesses fios de cabelo, e foram descobertas três substâncias nas amostras: atropina, escopolamina e efedrina.

De acordo com a Revista Galileu, a atropina e a escopolamina podem ser encontradas naturalmente em diversas plantas psicoativas, e podem induzir delírio, alucinações e percepção sensorial alterada.

A efedrina, por sua vez, é um estimulante derivado de algumas espécies de arbustos e pinheiros, com capacidade para aumentar a excitação, o estado de alerta e a atividade física.

Conforme apontam os cientistas, a presença desses alcaloides nos fios de cabelo pode ser advinda do consumo de algumas plantas de beladona, como a mandrágora (Mandragora autumnalis), o meimendro (Hyoscyamus albus) ou a macieira (Datura stramonium) e o pinheiro comum (Ephedra fragilis). Todas elas podem ter servido, no passado, como plantas medicinais usadas em rituais realizados por um xamã.

Uma das características do achado arqueológico que reforçam a ideia de que as substâncias podem ter sido utilizadas em rituais é a presença dos círculos concêntricos nos recipientes de madeira, pois podem representar olhos — uma metáfora comum para a visão interior relacionada ao estado de consciência alcançado com o uso dessas drogas.

Por fim, os autores do estudo ainda apontaram que os recipientes de madeira foram provavelmente selados para preservar essas antigas tradições, após as grandes mudanças culturais que ocorreram na região há cerca de 2.800 anos.