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Matérias / Personagem

"Eu não tinha sentimentos": Gustav Wagner, o soldado da SS que buscou abrigo no Brasil

Encarregado de um campo de extermínio durante o Terceiro Reich, o homem era considerado um militar frio, cruel e impiedoso

Pamela Malva Publicado em 10/06/2020, às 08h00

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Gustav Franz Wagner em seu uniforme militar - Divulgação
Gustav Franz Wagner em seu uniforme militar - Divulgação

Entre os inúmeros soldados da SS, Gustav Franz Wagner sem sombra de dúvidas foi um dos mais cruéis e impiedosos. Considerado um puro ariano, o austríaco era dono de cabelos claros inconfundíveis para os padrões da época.

Integrante do Partido Nazista já aos 20 anos, foi preso por agitação nacional-socialista proibida na Áustria e, assim, fugiu para a Alemanha. No epicentro das atividades nazistas, Gustav garantiu sua participação na SA e na SS, ao fim da década de 1930.

Em maio de 1940, o soldado prestou serviços administrativos no programa de eutanásia da Ação T4. No projeto nazista, milhares de doentes mentais e deficientes físicos eram atirados nas câmaras de gás.

Pelo seu ótimo desempenho no projeto, Gustav foi escalado para o campo de extermínio de Sobibor, em março de 1942. Sob o comando de Franz Stangl, o soldado logo foi promovido à vice-comandante.

Soldados da SS em frente à entrada de Sobibor / Crédito: Divulgação

Um soldado frio

Uma vez admitido em Sobibor, Gustav ficou encarregado por decidir o destino dos prisioneiros recém-chegados. No geral, era ele quem encaminhava judeus para as câmaras de gás, ou para o trabalho escravo no campo.

Com tanto poder em mãos, o vice-comandante logo se tornou um homem cruel e sedento por violência. Para o sobrevivente Moshe Bahir, por exemplo, “ele era um animal selvagem” que arrancava a vida das pessoas com as próprias mãos.

No total, das cerca de 350 mil pessoas mortas em Sobibor, estima-se que pelo menos 200 mil delas tenham sido causadas por Gustav diretamente. Isso sem contar os espancamentos frequentes e injustificados.

Para o soldado, a tortura ia muito além do corpo físico. Segundo Eda Lichtman, Gustav obrigava os prisioneiros judeus a comer pedaços de pão durante o jejum de Yom Kippur e gargalhava frente ao desrespeito religioso.

Gustav ainda jovem e com suas roupas de soldado, respectivamente / Crédito: Wikimedia Commons/Divulgação

Falha no sistema

Em outubro de 1943, Gustav aproveitava suas férias ao lado da esposa, Karin, e da filha recém-nascida quando recebeu um comunicado urgente. Aproveitando a ausência do soldado cruel, centenas de judeus haviam fugido do campo de Sobibor.

Após o episódio, que ficou conhecido como Revolta de Sobibor, Gustav recebeu ordens de fechar o campo. Assim, a fim de esconder as evidências, judeus foram obrigados a demolir os prédios e, em seguida, foram assassinados.

Sem quaisquer resquícios do campo, Gustav Wagner foi transferido para a Itália, onde passou a supervisionar a deportação dos judeus. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, no entanto, os crimes nazistas começaram a ser julgados.

Junto de diversos outros comandantes da SS, Gustav foi condenado à morte por suas atividades ilícitas. Para escapar de seu destino fatal, então, ele fez as malas e, ao lado de Franz Stangl, fugiu para o Brasil.

Gustav (direita) durante entrevista já em terras brasileiras / Crédito: Wikimedia Commons

Ares internacionais

Gustav colocou seus pés em terreno brasileiro apenas em 12 de abril de 1950. Sob o nome de Günther Mendel, assumiu uma nova identidade e passou a trabalhar como ajudante em uma casa da elite de São Paulo.

Em mais de 20 anos escondendo-se no Brasil, o soldado nazista trabalhou como fabricante de postes de concreto e como agricultor. Como Günther, casou-se com uma viúva e assumiu os filhos dela. 

Entre 1967 e 1971, no entanto, perdeu sua nova esposa e viu-se solitário, morando nas ruas de São Bernardo do Campo. Recuperado economicamente, viveu uma vida simples no campo, até ser preso em 30 de maio de 1978.

Gustav dando uma de suas muitas entrevistas / Crédito: Divulgação

Em uma cela escura

Assim que Gustav foi capturado, oficiais brasileiros tiveram de rejeitar pedidos de extradição feitos por Israel, Áustria, Polônia e pela Alemanha Ocidental. Ainda assim, o antigo soldado foi solto, em 22 de junho de 1979.

A imagem de Gustav logo virou alvo da curiosidade de brasileiros que buscavam seu nome nos jornais. Em entrevista à BBC, fez uma de suas afirmações mais emblemáticas sobre Sobibor: “Eu não tinha sentimentos. Tornou-se mais um trabalho”.

Frio, cruel e calculista, Gustav afirmava que, à noite, nunca discutia sobre o trabalho com seus colegas, “[nós] apenas bebíamos e jogávamos cartas”. Tal frieza, todavia, sumiu quando o soldado foi encontrado morto, em São Paulo, em outubro de 1980.

Seu corpo foi descoberto em Atibaia, onde ele viveu grande parte de sua vida no Brasil, escondido de todos que pudessem o reconhecer. Ele tinha 69 anos e, para muitos, a faca encontrada no peito de Gustav Wagner indicava suicídio.


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