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Matérias / Personagem

Além de Dom Phillips e Bruno: Irmã Dorothy também deu a vida em prol da Amazônia

Norte-americana foi assassinada em 2005 por conta de seu ativismo; relembre sua trajetória e luta

Caio Tortamano, atualizado por Fabio Previdelli Publicado em 29/04/2020, às 18h00 - Atualizado em 16/06/2022, às 10h33

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Dom Phillips, Irmã Dorothy e Bruno Pereira - Divulgação/ Arquivo pessoal e Memorial da Democracia
Dom Phillips, Irmã Dorothy e Bruno Pereira - Divulgação/ Arquivo pessoal e Memorial da Democracia

Na tarde de ontem, 15, os irmãos Amarildo da Costa Oliveira (conhecido como ‘Pelado’) e Oseney da Costa de Oliveira (vulgo ‘Dos Santos’), confessaram estar envolvidos no desaparecimento e assassinato do jornalista britânico Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira — que desde o dia 5 de junho estão sumidos na região do Vale do Javari, na Amazônia.

A Polícia Federal informou que a dupla foi executada a tiros. Posteriormente, seus corpos foram queimados e enterrados. Ainda não se sabe o que motivou os crimes, entretanto, conforme adiantou a equipe do site do Aventuras na História, acredita-se que seja por denúncias envolvendo a prática de pesca e caça ilegais.

Além do mais, conforme aponta o G1, o Vale do Javari, onde o crime ocorreu, é a segunda maior terra indígena do país. Por lá, é frequente os casos de tráfico de drogas, roubo de madeira e avanço do garimpo.

Amarildo relatou em depoimento à PF que, no dia que Dom Phillips e Bruno Pereira foram mortos, ele não teve participação direta no assassinato, visto que disse ter ouvido apenas os barulhos de tiros.

Ao chegar ao local, conta que encontrou uma terceira pessoa, ainda não identificada pelas autoridades. Pelado revelou que ele e o irmão decidiram incendiar os corpos, esquartejar e enterrá-los.

Ainda na noite de ontem, Anderson Torres, ministro da Justiça e Segurança Pública, relatou, através das redes sociais, que a Polícia Federal achou "remanescentes humanos" no local das buscas indicado pelos irmãos. Entretanto, exames de DNA serão feitos para constatar se o material genético pertence ao jornalista inglês e ao indigenista. 

Embora brutal, a morte de Dom Phillips e Bruno Pereira, infelizmente, não trata-se apenas de um caso isolado. Diversas pessoas já pagaram com a própria vida em busca de lutar pela preservação da Amazônia

Um desses casos ocorreu em fevereiro de 2005, quando a norte-americana Dorothy Mae Stang, conhecida como irmã Dorothy, foi brutalmente morta. Relembre sua história e luta!

A vida de Dorothy Stang

Dorothy Mae Stang, uma missionária americana que caiu nas graças da população brasileira nasceu em Ohio, nos Estados Unidos. Ela entrou na vida religiosa com 19 anos, e passou de 1951 até 1966 como professora em escolas de sua congregação na sua terra natal.

Dois anos depois de se formar, em 1966, iniciou seu ministério em terras brasileiras, mais precisamente na cidade de Coroatá, no Maranhão, mas seria na Amazônia que as suas ações missionárias em prol do bem-estar social ficariam reconhecidas em grande proporção.

Chegou à Amazônia no início da década de 1970, onde atuava juntamente com trabalhadores rurais da região do Xingu (um dos cursos de água do Rio Amazonas), ou seja, nas regiões mais distantes do Brasil.

Sua pastoral ficou marcada pela busca de geração de empregos e renda na região por meio de projetos de reflorestamento, especialmente nas áreas mais degradadas do país.

Os beneficiados com os projetos eram os trabalhadores rurais que construíram a Transamazônica — rodovia federal que cruza o país do litoral até a Amazônia —, e buscava minimizar os conflitos decorrentes das disputas de terra na região, algo marcante em locais do Brasil com grandes extensões de propriedade privada.

Irmã Dorothy era muito próxima dos movimentos sociais do Pará. Quando começou com o projeto de desenvolvimento sustentável, na pequena Vila de Sucupira, que estava a 500 quilômetros de distância da capital Belém, com certeza não imaginava que o seu impacto seria do tamanho que foi.

A luta de irmã Dorothy

As passeatas em prol da redistribuição de terras e maior conscientização quanto ao desmatamento da Amazônia tomaram grandes proporções, o que levou Dorothy a uma posição de liderança que foi reconhecido em todo o país — e fora do Brasil também. 

O diálogo constante com lideranças do campo, da política e de instituições religiosas buscava uma reforma agrária para os trabalhadores da Transamazônica, sempre tratando de soluções pertinentes, que mudariam a condição social das pessoas.

Em 1975, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) fundou a Comissão Pastoral da Terra (CPT), para que pudesse discutir e organizar lutas pelos trabalhadores rurais nas áreas mais remotas do país — como era o caso de Vila de Sucupira.

Desde o momento de sua fundação, Dorothy Stang entendeu que essa seria a luta pela qual dedicaria a sua vida — e pela qual viria a morrer, como foi comprovado mais tarde.

A morte brutal de irmã Dorothy

A irmã acreditava na educação como forma primordial de se conseguir uma sociedade mais justa, muito por conta de sua formação pedagógica e de ter lecionado em escolas ainda nos Estados Unidos. Por isso, ela ajudou a fundar a primeira escola de formação de professores em toda Transamazônica, chamada de Escola Brasil Grande.

Porém, a luta de Dorothy não angariou somente admiradores e fãs. Por tratar de um assunto tão delicado da região, especialmente por envolver pessoas influentes e abastadas, o combate pela redistribuição de terras é marcada historicamente por mortes marcantes, como a de Chico Mendes.

Isso não abalava a mulher, que ao ser questionada sobre temer pela própria vida afirmou: “Não vou fugir e nem abandonar a luta desses agricultores que estão desprotegidos no meio da floresta. Eles têm o sagrado direito a uma vida melhor numa terra onde possam viver e produzir com dignidade sem devastar”.

A ideologia nobre de Dorothy acabou custando sua vida, depois de anos de luta. Em fevereiro de 2005, a irmã foi brutalmente assassinada pela manhã. Sua morte aconteceu em uma estrada alternativa, de difícil acesso. Ela recebeu seis tiros de um homem, um na cabeça e outros cinco espalhados pelo corpo.

Uma testemunha conta que antes de matá-la, o assassino perguntou se ela portava uma arma, ao que a religiosa respondeu “essa é minha arma”, e apontou para a bíblia que carregava junto a si.

Túmulo de Dorthy, em Anapu (PA) / Crédito: Wikimedia Commons

A morte só viria a ter culpados em 2019, quando a Polícia Civil do Pará prendeu o fazendeiro Regivaldo Pereira Galvão como o mandante do assassinato. Em 2020, o homem suspeito de ter efetivamente matado a religiosa foi preso no interior de São Paulo, em Itapetininga. O nome do preso não foi divulgado, e a polícia chegou até ele por meio de uma denúncia anônima — atualmente o criminoso cumpre 25 anos de pena.


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