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Matérias / Kangbashi

Kangbashi: A cidade fantasma da China

Criada para abrigar até um milhão de pessoas, Kangbashi, atualmente, possui cerca de 150 mil habitantes

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 25/02/2023, às 14h00

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Parte da cidade de Kangbashi - Reprodução/Video/YouTube
Parte da cidade de Kangbashi - Reprodução/Video/YouTube

No início do século, a economia da China estava em crescente graças à mineração de carvão e ao descobrimento de gás natural e de metais conhecidos como terras raras — visto como cruciais para a indústria — no distrito de Ordos, que fica do sudoeste da Mongólia.

Devido à riqueza da região, que passou a ser vista como uma das mais prósperas do país, o governo chinês aprovou um plano para a construção de uma nova capital sofisticada, em 2004. Assim surgiu Kangbashi, que teve custo superior a 160 bilhões de dólares na época (o que era condizente a R$518 bilhões). 

Kangbashi, além do mais, possui reservas abundantes de água, algo que faltava na antiga capital regional, Donsheng. Por conta disso tudo, acreditava-se que a cidade planejada para abrigar um milhão de pessoas se tornaria uma cidade-satélite. 

No entanto, atualmente, cerca de 153 mil pessoas vivem por lá. E, acredite, a situação é muito mais animadora do que já foi há alguns anos, o que fez Kangbashi ganhar o apelido de ‘cidade fantasma’. 

Kangbashi: A cidade fantasma

Segundo matéria publicada pela BBC Mundo, em 2015, a cidade de Kangbashi abrigava cerca de 50 mil pessoas. Embora os bulevares áridos e prédios vazios abandonados ajudassem a corroborar com a alcunha de ‘cidade fantasma’, os habitantes não se preocupavam com a falta de pessoas, afinal, gozavam de alguns benefícios que o resto do país não tinha: como o transporte público gratuito e contas de gás subsidiadas. 

A diferença gritante entre os 50 mil moradores e o milhão de pessoas esperados para viver por lá é um exemplo extremo da explosão da bolha imobiliária chinesa, conforme defende o economista Alistair Chan. "As cidades fantasma foram um dos mecanismos mais básicos da modernização da China". 

"O problema com Kangbashi foi um mau planejamento em termos da demanda que existiria para um lugar tão isolado. É uma amostra clara dos problemas deste tipo de urbanização planificada", disse à BBC. 

As cidades fantasmas

O fenômeno, todavia, não atinge especificamente a cidade de Kangbashi, visto que desde 2013 foram construídos dezenas de distritos semelhantes a ela. As edificações foram feitas sob o lema: "vamos construir primeiro e virão morar aqui depois". Mas será que isso é um sonho utópico? 

Pode até parecer, mas a China tem exemplos concretos e bem-sucedidos de regiões pouco habitadas que se transformaram em centros urbanos importantes economicamente. Como é o caso de Shenzhen, uma cidade de pescadores que se tornou um importante centro de exportação e importação no país. 

Pudong, em Xangai, também seguiu passos parecidos. Se hoje mais de cinco milhões de pessoas vivem por lá, no final dos anos 1990 o local era tão fantasma quando Kangbashi

"Quando começamos a construção em 2006, calculamos que a cidade teria cerca de 300 mil habitantes até o fim de 2020. Estamos no caminho. O problema é que os meios de comunicação não têm muita paciência", defendeu o encarregado de relações-públicas da cidade, Chai Jiliang, em entrevista ao jornal China Daily, em 2016. 

Expectativa x Realidade

Recapitulando os fatos. Em 2015, cerca de 50 mil pessoas viviam em Kangbashi, mas a expectativa era que até 2020 o número fosse de 300 mil. Entretanto, como já dito, atualmente, segundo dados do censo nacional mais recente, cerca de 153 mil pessoas vivem por lá. Isso significa que Kangbashi fracassou? A resposta é não!

Segundo matéria publicada pela Bloomberg no trecho final de 2021, as autoridades locais estavam convencidas de que as coisas estavam mudando, visto que cerca de 90% das casas do distrito estavam ocupadas. 

Um dado interessante é que após um ano de congelamento nas construções, o governo chinês aprovou seis projetos habitacionais em 2020, que previa a construção de 3.000 casas num período de 12 meses. 

Apartamentos em um novo empreendimento, por exemplo, são vendidos por 9.500 yans (cerca de R$7 mil) por metro quadrado — mas no centro da cidade os preços variam entre 15.000 e 16.000 (R$ 11 e 12 mil), aponta o corretor Liu Yueyue

Casas em uma cidade fantasma seriam vendidas a preços tão altos?”, questiona em entrevista à Bloomberg. 

Mas o que causou esse boom de vendas? Liu explica que a maioria dos novos moradores são pais que querem mandar seus filhos para escolas locais bem conceituadas. Em 2008, a cidade recebeu a inauguração de um campus universitário. Dois anos depois, a melhor escola secundária da cidade de Ordos foi transferida para a área.

“Estava vazio e deserto em todos os lugares quando me mudei para cá” em 2012, recorda Li Ning, de 35 anos, funcionário local do Banco da China. “Agora há muito mais instalações públicas, como ônibus, hospitais e escolas.” 

A estimativa habitacional mudou, muito mais plausível: o governo espera que até 2025, Kangbashi bata a marca dos 200.000 habitantes. Porém, vale ressaltar que a região ainda conta com prédios abandonados, empreendimentos comerciais inacabados e investimentos fracassados. Kangbashi ainda continua sendo uma ‘cidade fantasma’, visto sua magnitude, mas será que por muito mais tempo?