Busca
Facebook Aventuras na HistóriaTwitter Aventuras na HistóriaInstagram Aventuras na HistóriaYoutube Aventuras na HistóriaTiktok Aventuras na HistóriaSpotify Aventuras na História
Matérias / The Last Of Us

The Last of Us: É possível uma pandemia de fungos igual mostrada na série?

Adaptação da série de videogame estreou pela HBO de forma arrebatadora. Entenda a biologia por trás da trama!

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 16/01/2023, às 18h00

WhatsAppFacebookTwitterFlipboardGmail
Cena de The Last of Us - Divulgação/HBO Max
Cena de The Last of Us - Divulgação/HBO Max

Lançado exclusivamente para PlayStation 3 em 2013, The Last of Us marcou toda uma geração de jogos de videogame, estabelecendo um novo patamar no ramo do entretenimento virtual ao trazer uma experiência única que mistura sobrevivência, o desenvolvimento de personagens icônicos e um jeito singular de apresentar uma praga que dizimou a civilização moderna. 

O sucesso foi tamanho que a trama protagonizada por Joel e Ellie ganhou uma continuação, tão aclamada quanto, em meados de 2020. The Last of Us não só se tornou um clássico dentro dos videogames quanto parece que também conquistará o público com a adaptação para série que estreou no último domingo, 15, pela HBO.  

Estrelada por Pedro Pascal e Bella Ramsey, The Last Of Us terá sua primeira temporada dividida em nove episódios que irão ao ar todos os domingos, às 23 horas — com lançamento simultâneo ao serviço de streaming HBO Max

Mas quem está conhecendo o fantástico mundo de The Last of Us agora deve estar se perguntando: afinal, um apocalipse zumbi como mostrado na trama realmente é possível? Podemos ter um futuro igual mostrado na história ou tudo não passa de uma distopia? A reposta pode te surpreender!

O fungo devastador de The Last Of Us

Antes de mais nada, primeiro precisamos entender quem são e como agem os ‘monstros zumbis’ de The Last Of Us. A série televisiva começa, em 1968, apresentando um breve discussão entre epidemiologistas sobre futuras pandemias que poderiam devastar a população mundial

É então que um dos entrevistados aponta que um desses surtos poderia ser ocasionado por um simples fungo. Isso mesmo, nada de uma bactéria ou um vírus. Um Fungo que não busca matar seu hospedeiro, mas sim controlá-lo

Avançando mais um pouco no tempo, para o ano de 2003, um surto parece atingir a população dos Estados Unidos. Com ele, pessoas infectadas passam a ter comportamentos agressivos e até mesmo a atacarem outras saudáveis. Os infectados são irrefreáveis e pouco se sabe sobre eles. Exceto que seus ataques são avassaladores.  

Avançando duas décadas no tempo, a população mundial já sabe o que está enfrentando: a Infecção Cerebral por Cordyceps (chamada por também por CBI); uma infecção fúngica que se origina no cérebro e cresce, atingindo todo o sistema nervoso de um infectado, passando a controlá-lo. A infecção ainda consegue atravessar o crânio do hospedeiro, mutilando sua aparência. 

Após matá-lo, o fungo ainda cria uma espécie de ‘cogumelo’ que brota em talos no corpo do hospedeiro, espalhando esporos que conseguiriam mais infecções. A doença teria quatro estágios de infeção, como mostrados por um panfleto do jogo de 2013. Veja abaixo!

Estágio de infecção em The Last Of Us (2013)/ Crédito: Divulgação/Naughty Dog

Estágio 1: Nele os infectados são chamados de "runners" (ou 'corredores' em tradução livre), sendo a espécie mais comum. Nessa fase, o fungo já atingiu o cérebro e começou a se desenvolver, causando apenas poucas deformações faciais. Aqui, os hospedeiros já são hiperagressivos. 

Estágio 2: Os infectados são chamados de "stalkers" ('perseguidores'), e são também um dos mais perigosos, pois apresentam a velocidade e visão dos 'corredores', mas a agressividade e força dos infectados no estágio três. A aparência deles também não difere muito de um "runner", exceto pelo aumento do crescimento de fungos ao redor da cabeça.

Estágio 3: O infectado se tornará um "Clicker" ('estalador'), o que acontece após um ano de infecção, quando o fungo cobre e deforma completamente o rosto de sua vítima, tornando-o completamente cego. Aqui, o 'clicker' se localiza através de uma espécie de 'sonar' obtido por um barulho característico, daí o nome 'estalador'. 

Estágio 4: São chamados de bloaters, sendo o mais raros entre eles, por levarem anos a fio para se desenvolverem de tal modo. Aqui, os infectados são cobertos por espessos fungos, criando uma espécie de armadura natural que suporta diversos tiros e ataques com armas brancas.

Paralelo com a realidade

Como já dito, a pandemia em The Last of Us acontece por conta de um fungo chamado Cordyceps. O que poucos sabem, porém, é que ele existe no mundo real e inclusive serviu de inspiração para Neil Druckmann, criador da trama, desenvolver seu mundo pós-apocalíptico. 

Segundo aponta matéria do The Washington Post, os Cordyceps são estudados há anos pela comunidade científica e, inclusive, são encontrados em suplementos alimentares. Assim como a série mostra, o fungo parasita cresce e se desenvolve em um hospedeiro, mas na 'vida real' isso acontece apenas insetos

Aliás, existem cerca de 600 variações deles, cada qual especializado em uma espécie de inseto diferente, aponta o Memorial Sloan Kettering Cancer Center, dando enfase a uma variedade que cresce nas lagartas das mariposas (inseto icônico dentro dos jogos de The Last of Us). 

Os esporos de Cordyceps levam os insetos a comportamentos erráticos, aparentemente assumindo o controle de suas mentes e funções motoras e, assim, provocando a comparação com os zumbis.

No fim, os fungos acabam matando seu hospedeiro e fazendo crescer ‘brotos’ em seu cadáver infectado, que pode levar semanas para se desenvolver por completo. Assim que termina, esses ‘brotos’ liberam novos esporos de Cordyceps que infectaram outros insetos. E assim por diante. 

O fenômeno inspirado de Druckmann foi tema de um episódio do programa “Planet Earth” da BBC. Veja o vídeo abaixo!

O apocalipse zumbi é real? 

Mas calma, apesar dos Cordyceps existirem, eles só infectam insetos. Na verdade, aponta o The Washington Post, o fungo até mesmo é usado em medicamentos e suplementos de saúde, ajudando no revigor e resistência física, melhoramento da função renal e até no aumento do sistema imunológico.

Obviamente que tudo isso deve ser usado com a recomendação de um profissional médico. O Cordyceps é tão importante que vários estudos de câncer estão estudando-o como uma forma de retardar o crescimento do tumor

Como o fungo se espalha e sua função

Na 'vida real', os fungos são transmitidos pelo ar, por meio de esporos que atingem outros insetos. Em The Last of Uf, a coisa acontece da mesma forma, só que na ficção os infectados também podem transmiti-lo através da mordida

Apesar desse método ser comum em filmes e produções do gênero, ele também é biologicamente correto. Embora as infecções fúngicas normalmente não são transmitidas assim, alguns casos isso pode acontecer, como a esporotricose, contraída depois que um espinho ou agulha de pinheiro empurra os esporos sob a pele de uma pessoa.

Infectado em The Last of Us/ Crédito: Divulgação/HBO Max

Um fato interessante é que os Cordyceps, em nossa realidade, consegue devastar colônias inteiras de insetos. Mas isso não é necessariamente algo ruim. Afinal, eles são de suma importância ecológica para impedir superpopulações dessas espécies, como explica artigo do Guia dos Entusiastas da Ciência, da Universidade Federal do ABC.