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Matérias / Personagem

Mehran Karimi Nasseri, o refugiado que viveu por 18 anos em um aeroporto

Problemas burocráticos fizeram com que o iraniano ficasse meses sem poder voltar para casa

Fabio Previdelli Publicado em 26/04/2020, às 08h00

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O refugiado Mehran Karimi Nasseri - Divulgação
O refugiado Mehran Karimi Nasseri - Divulgação

Nascido em Masjed Soleiman, no Irã, em 1943, Mehran Karimi Nasseri viajou para o Reino Unido em 1973 com o objetivo de estudar na Universidade de Bradford. Como estudante, teria participado de protestos contra o xá Mohammad Reza Pahlavi. Por isso, quando retornou ao seu país natal, foi preso e exilado por atividades antigovernamentais.

Expulso de sua nação, Mehran solicitou asilo político do Irã depois de ser negado pelas capitais da Europa por quatro anos. Porém, finalmente, em 1981, o Alto Comissário das Nações Unidas de Refugiados na Bélgica deu a ele o estado de refugiado. Isso lhe permitia buscar cidadania em qualquer outro país do continente.

Assim, ele afirmou que sua mãe era britânica e, depois de passar anos na Bélgica, decidiu se estabelecer no Reino Unido, em 1986. Mas o caminho que teria de percorrer para chegar ao seu destino não seria tão fácil assim.

A estadia no aeroporto

O trajeto até Londres passaria por Paris, e foi justamente na cidade luz que sua história ganhou um capítulo inesperado. Na capital francesa, Nasseri disse que sua pasta — com todos seus documentos de refugiado — havia sido roubada em um trem. Então, quando chegou ao aeroporto de Heathrow, no Reino Unido, o controle de imigrantes o enviou de volta à França.

Mehran Karimi Nasseri sentado em uma poltrona / Crédito: Divulgação

Incialmente, o iraniano foi preso por autoridades francesas, no entanto, sua presença no aeroporto não era ilegal e ele foi libertado — contanto que não deixasse o local. Sem documentos e impossibilitado de voltar para seu país de origem, começava ali a estadia de Nasseri no Terminal 1 do Aeroporto Internacional Charles de Gaulle, na França.

A permanência do refugiado por lá passou de dias para semanas, e de semanas para anos. Com sua bagagem sempre por perto, passava o tempo todo lendo, estudando economia e escrevendo sua experiência num diário que passou de mil páginas.

Se alimentando regularmente no McDonald’s, o então indigente logo se tornou uma figura comum do terminal e os funcionários passaram a oferecer jornais e comida todos os dias. Com uma aparência bem cuidada, o iraniano se lavava no banheiro masculino e enviava suas roupas para a lavanderia do aeroporto.

Mehran Karimi Nasseri lendo um jornal no aeroporto / Crédito: Wikimedia Commons

Cidadãos regulares passaram a lhe enviar cartas encorajadoras. Uma delas dizia: “Por favor, deixe-o saber que esperamos que tenha um futuro seguro, confortável e feliz. Atenciosamente, um cidadão americano preocupado”. Com a correspondência, havia um anexo com uma ordem de pagamento de 100 dólares, que foi trocada pelo Dr. Philippe Bargain, diretor médico do aeroporto.

A luta pela liberdade

Nasseri também chamou a atenção do advogado francês de direitos humanos, Christian Bourguet, que passou a defender o iraniano. Bourguet decidiu que se a Bélgica pudesse reemitir os documentos para o sujeito, ele poderia ser novamente identificado como uma pessoa. Mas o país só poderia fazer isso casso o mesmo se apresentasse pessoalmente.

Karimi Nasseri no Terminal 1 do Aeroporto Internacional Charles de Gaulle / Crédito: Wikimedia Commons

A partir daí, seu problema passou a ser duplo: ele não podia viajar para obter documentação sem ter uma documentação; a lei belga também afirmou que um refugiado que deixou o país após ser aceito não poderia retornar.

Finalmente, em 1999, o governo belga concordou em enviar os documentos de Nasseri pelo correio e as autoridades francesas lhe deram uma autorização de residência. Mas Bargain disse que ele “não estava feliz".

O refugiado achava que os papéis eram falsos. Isso porque, os documentos originais tinham o nome de Sir Alfred Mehran, com a nacionalidade britânica. Já os novos tinham seu nome original: Mehran Karimi Nasseri e o listava como iraniano.

Sua longa estadia no aeroporto finalmente chega ao fim

Simplesmente assinar os papéis e depois mudar seu nome legalmente depois pode parecer a solução razoável. Mas, como se vê, morar em um aeroporto por anos pode causar um certo estranhamento psicológico em uma pessoa.

Em entrevista, em 2003, à GQ, Bourguet declarou que, talvez, Nasseri estivesse louco, mas argumentou: “Ele passou por diversas etapas severas”. O advogado disse que o homem estava “bastante lúcido ao contar sua história, mas que com o tempo ele se tornou 'livre da lógica' e, portanto, sua história continuou mudando”. Uma vez, o refugiado disse ser sueco, ao qual Bourguet perguntou como ele chegou da Suécia ao Irã, então respondeu sem pestanejar: “de submarino”.

Em 2006, Mehran Karimi Nasseri foi hospitalizado por uma doença não revelada, encerrando sua estadia prolongada no Aeroporto Internacional Charles de Gaulle. No ano seguinte, foi liberado do hospital e reencaminhado para um hotel perto do aeroporto.

A história de Nasseri serviu como inspiração para o filme O Terminal, dirigido por Steven Spielberg e estrelado por Tom Hanks (foto) / Crédito: Divulgação

Embora ele não tenha conseguido um voo para Londres, recebeu liberdade na França. Em 2008, passou a morar em um abrigo nos subúrbios parisienses, enquanto sua história já ganhara notoriedade após servir de inspiração para o filme O Terminal, dirigido por Steven Spielberg, em 2004.


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