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Matérias / Personagem

Newton Knight: o homem branco sulista que enfrentou os Confederados e venceu

Ensinado desde criança a se opor à Confederação, Knight lutou ao lado de escravos em uma revolta

Fabio Previdelli Publicado em 23/08/2020, às 08h00

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Retrato de Newton Knight - Wikimedia Commons
Retrato de Newton Knight - Wikimedia Commons

No sertão do Mississippi, existe um pequeno pedaço de terra chamado Jones Country, mais conhecido como Estado Livre de Jones, que foi estabelecido por Newton Knight, que fez uma das coisas mais impensáveis ​​que um homem branco sulista poderia fazer: enfrentou os Confederados e venceu.

A história Knight

Em 1864, um exército composto por fazendeiros locais e escravos fugitivos hasteava a bandeira dos Estados Unidos no tribunal do condado de Ellisville, em Jones County, Mississippi. O grupo então enviou uma carta ao general William Tecumseh Sherman, declarando sua separação aos Confederados. Assim, a terra em que se encontravam seria considerada um pedaço da União.

Embora a ocasião fosse importante, chegar a ela não foi fácil. Afinal, Newton Knight e sua improvável cavalaria lutavam pelo Estado Livre de Jones desde que Knight era criança, criado para se opor à Confederação e a tudo o que ela representava.

A Batalha de Antietam, a luta mais mortal de um dia da Guerra Civil / Crédito: Wikimedia Commons

Mesmo que seu avô paterno fosse proprietário de escravos, um dos maiores do condado, nem Knight nem seu pai eram escravistas. Em um desvio da normalidade sulista, ele e sua esposa, Serena, administravam sua fazenda somente com a ajuda dos filhos, livres de qualquer auxílio assomado de trabalhos forçados de negros.  

Mas apesar disso, Knight ainda era um orgulhoso cavalheiro sulista. Como um nobre homem do sul, quando chegou a hora de Knight se alistar na guerra, ele, ainda assim, se juntou ao Exército Confederado.

Logo, porém, se sentiu traído, e com razão. Enquanto todos do lado dos confederados estavam sofrendo com a escassez de alimentos e uma falta geral de suprimentos, os soldados de Jones Country se tornaram alvos especiais.

Naquele período, as esposas já achavam difícil o suficiente a tarefa de administrar as fazendas da família com a ausência dos maridos, quando a Confederação começou a levar cavalos e outros animais das propriedades da região para seu próprio uso.

Ao saber o que o exército estava fazendo, Newton Knight decidiu por um basta nessa situação. Junto com vários soldados de Jones Country, ele abandonou a Confederação e voltou para sua cidade natal, onde formou seu próprio exército rebelde.

A Aliança Rebelde

Conhecido como Companhia Knight, o exército guerrilheiro acolheu toda e qualquer pessoa que desejasse apoiar a União: escravos fugitivos, outros desertores confederados e até mesmo as esposas e filhas de outros soldados se juntaram a eles. Os rebeldes construíram esconderijos ao longo do Leaf River e em todo o sertão, usando senhas e falando em código para evitar que seus locais fossem comprometidos.

Aqueles que eram fisicamente aptos a combater, passaram seu tempo esquivando dos soldados confederados, ajudando os demais a não serem capturados e tentando romper as linhas confederadas para se juntar ao exército da União. Já aqueles que não podiam lutar, contribuíram para os esforços da Companhia de outras maneiras: servindo como vigias, cozinhando, limpando e cuidando dos feridos.

Os logros da Companhia

Desde sua formação, por volta de 1862, até sua aquisição do Estado Livre de Jones, a Companhia Knight lutou cerca de 14 escaramuças contra a Confederação. Rumores de um poderoso contingente de civis com a capacidade chocante de derrubar soldados treinados começaram lentamente a chegar aos ouvidos de vários generais, embora nenhuma ajuda tenha sido enviada aos combatentes confederados.

Na época em que os combatentes de Newton Knight tomaram Ellisville, o capitão confederado Wirt Thomson havia escrito uma carta ao secretário da Guerra afirmando que "o país está inteiramente à sua mercê".

Newton Knight e um de seus filhos com Rachel Knight / Crédito: Arquivo Público

A tomada de Ellisville marcou o início do fim da Guerra Civil. Os confederados se retiraram de Jones Country e, eventualmente, recuaram totalmente. A Companhia se desfez e os soldados voltaram para suas respectivas fazendas, tentando reconstruir o que havia sido perdido durante a guerra. O condado recebeu pouco financiamento para a reconstrução, já que os soldados faziam parte de uma organização militar não oficial. Porém, mesmo assim, conseguiram se reconstruir.

Posteriormente, Newton Knight voltou para casa e começou a trabalhar para libertar crianças negras de escravagistas brancos, que se recusavam a emancipá-las. Porém, em vez de voltar a morar com sua esposa, ele passou a viver com uma das ex-escravas de seu avô, Rachel.

Juntos, eles tiveram cinco filhos, a maioria dos quais se casou com alguns dos nove filhos da primeira esposa de Newton, Serena. Em pouco tempo, a cidade era quase inteiramente composta de crianças mestiças com pelo menos um ramo de sua árvore genealógica remontando às raízes de Newton Knight.

A história contemporânea

Hoje, o Estado Livre de Jones voltou a ser conhecido como Condado de Jones Country e é uma área rural pantanosa, cercada de igrejas e estabelecimentos operários. Embora já tenha sido o local da rebelião mais revolucionária da Guerra Civil, seus residentes, agora, preferem uma abordagem mais conservadora.

O tribunal do condado de Ellisville, por exemplo, tem até um monumento confederado ao lado dele, e qualquer indicação de sua parte na história anti-confederada foram ‘apagadas’.

Já residentes do Jones Country, em sua maioria, evitam a cidade de Soso, onde vivem os descendentes de Knight. Afinal, as gerações mais velhas ainda pensam em Newton Knight como um traidor, mais pelo fato dele ter se casado com uma mulher negra do que pelo fato de ter traído a Confederação — embora isso nunca tenha sido inteiramente admitido.

Tribunal de Jones Country em Ellisville, Mississippi / Crédito: Wikimedia Commons

Para um estranho, a cidade se parece com qualquer outra cidade do sul, orgulhosa de sua herança confederada e ainda desconfiada do liberalismo. Mas por toda a cidade, ainda há quem se lembre dos contos de Newton Knight, de sua Companhia e do legado que ele deixou para a cidade.


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