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Matérias / Mistério das Máscaras de Chumbo

Entre Óvnis e drogas psicodélicas: O misterioso caso das Máscaras de Chumbo

Em agosto de 1966, dois corpos foram encontrados no Morro do Vintém (RJ), as vítimas usavam apenas um sobretudo preto e máscaras de ferro; e ninguém nunca soube explicar o que aconteceu com elas

Fabio Previdelli e Joseane Pereira Publicado em 01/12/2019, às 08h00 - Atualizado em 06/11/2022, às 00h00

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Uma das máscaras encontradas com os corpos - Wikimedia Commons
Uma das máscaras encontradas com os corpos - Wikimedia Commons

O cenário é digno dos filmes de ficção-científica mais surrealistas que exitem. Estamos no Rio de Janeiro da década de 1960. Auge do crescimento urbano, dos veículos tomando as ruas, dos altos prédios erguidos. Uma modernização já vista em outras partes do país. 

Mas aquele 20 de agosto de 1966 possui um elemento diferente de qualquer outra coisa já vista antes em território tupiniquim. Na encosta do Morro do Vintém, em Niterói, o jovem Jorge da Costa, de 18 anos, busca um espaço para a prática de seu hobby predileto: soltar pipas.  

Entretanto, tudo mudou quando, ao atravessar um terreno acidentando, ele encontrou os corpos de duas pessoas estiradas no chão. O que torna tudo isso bizarro é o fato delas usarem um sobretudo preto e estranhas máscaras feitas de chumbo. 

Os corpos

Talvez nem mesmo o melhor roteirista de cinema seria capaz de desenhar um script daqueles. Segundo matéria do jornal O Dia, um garoto, que caçava passarinhos, chegou a encontrar os cadáveres dois dias antes. Em estado de choque, avisou as autoridades que pensaram se tratar de uma brincadeira. Assim, o caso não foi investigado. 

Os homens encontrados no Morro do Vintém / Crédito: Wikimedia Commons

Esse meio tempo, porém, pode ter sido essencial para que o caso ganhasse tons tão enigmáticos. É bem verdade que a polícia chegou a identificar as vítimas: eram os técnicos Manoel Pereira da Cruz e Miguel José Viana, residentes da vizinha Campos dos Goytacazes. Mas a putrefação dos corpos impediu que algo maior fosse descoberto. Mas vamos por partes. 

Bilhete enigmático

Se as trajes não eram inusitadas por si só, um detalhe deixou tudo mais confuso. No bolso de um dos homens foi encontrado uma nota escrita à mão. Com letra cursiva, a carta dizia: “16:30 Hs está local determinado. 18h30 Hs ingerir cápsula após o efeito, proteger metais aguardar sinal máscara”.

O misterioso bilhete encontrado na cena do suposto crime / Crédito: Wikimedia Commons

Num outro bloco de notas, mais coisas escritas. Agora com códigos de referência para válvulas eletrônicas. Duas toalhas molhadas também estavam perto dos corpos, assim como uma garrafa de água vazia.

O caso logo gerou um reboliço por toda a comunidade. Não havia quem não falasse sobre o Mistério das Máscaras de Chumbo, como o caso passou a ser conhecido. Cada vez mais e mais relatos chegavam através de ouvintes em programas de rádio ou em denúncias para polícias. Como se tudo não fosse intrigante o bastante, até mesmo uma relação com óvnis foi levantada. Explicaremos isso mais para frente. 

Os últimos passos

Segundo a reconstituição feita pelas autoridades, Manoel Pereira e Miguel Viana haviam deixado sua cidade natal em 17 de agosto, dizendo às esposas que iam comprar materiais de trabalho em São Paulo. 

De ônibus, eles teriam desembarcado em Niterói por volta das 14h30. Por lá, foram até uma loja de ferramentas, onde compraram capas impermeáveis. Logo em seguida, se dirigiam até uma loja de conveniência, onde adquiriram a tal garrafa d’água. 

De acordo com uma garçonete do estabelecimento, que trabalhava no bar, Miguel parecia muito ansioso e olhava o relógio a todo instante. Como se tivesse hora marcada para fazer algo ou encontrar alguém. 

Algumas das provas do caso insólito / Crédito: Divulgação/Youtube

Curiosamente, a polícia nunca realizou um exame toxicológico nos corpos dos dois homens, sendo impossível saber se eles realmente ingeriram alguma cápsula estranha. Não havia sinais de violência, nem armas nos arredores. O estado de putrefação dos corpos também impediu alguma resolução mais completa. Será que se eles tivessem sido analisados dois dias antes as coisas seriam diferentes? Impossível determinar.

As teorias 

Com o passar do tempo, inúmeras teorias ganharam vida. Muitos disseram que os homens estavam envolvidos em venda ilegal de material radioativo. Manoel e Miguel teriam sido mortos por compradores insatisfeitos. Será mesmo? 

Outros vão além e tem certeza de que eles foram mortos por seres extraterrestres. Afinal, parecia óbvio que eles usavam máscara de ferro para se proteger da radiação das naves. Conforme as investigações avançavam, mais relatos surgiam na comunidade que apontavam para o lado interplanetário. 

Havia quem jurasse de pé junto que avistou um óvni sobrevoar o morro na noite em que os dois foram mortos. Relatos ainda detalhavam as cores da nave, seu formato e até mesmo o tempo que ela pairou sob o local. Outros já diziam que aquela tarde/noite estava chuvosa e com o tempo fechado. Quem sabe eles não foram atingidos por um raio? 

O O Dia relata que Padre Quevedo, aquele mesmo que ficou famoso por desvendar casos paranormais, afirmou que a dupla foi vítima de um ritual de ocultismo. A pista fundamental eram suas máscaras de chumbo, que coincidiam com as usadas em alguns tipos de seitas. 

Uma das máscaras de chumbo encontradas com os corpos / Crédito: Wikimedia Commons

Por suspeita de que as máscaras, sobretudo e toalhas molhadas revelassem uma tentativa de se proteger contra radiação, os corpos dos dois foram escaneados à procura de material radioativo. Nada foi encontrado. 

Por fim, uma outra teoria se tornou a mais aceita para o caso. Apresentada por um amigo dos falecidos, especulou-se que Manoel e Miguel eram membros de uma seita religiosa científico-espiritualista, envolvida na experimentação de drogas psicodélicas.

Como a morte ocorreu nos anos 60, quando o uso recreativo dessas substâncias estava em alta, é possível que eles tenham embarcado em uma forte e infeliz viagem psicodélica, no terreno acidentado do Morro do Vintém. Os corpos chegaram a ser exumados em 1967, mas o caso foi arquivado pela Justiça brasileira dois anos depois.