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Matérias / Brasil

Preconceito escancarado: o insano caso do "homem errado" em Porto Alegre

O “homem errado”, como ficou conhecido, foi vítima da Polícia Militar

Larissa Lopes, com supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 30/01/2021, às 10h00

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Banner do documentário “O caso do homem errado” - Divulgação/Globoplay
Banner do documentário “O caso do homem errado” - Divulgação/Globoplay

Há quase 34 anos, o operário negro Júlio César de Melo Pinto foi assassinado por policiais militares, no dia 14 de maio de 1987. A morte dele ficou conhecida como “O caso do homem errado”, e deu origem ao documentário de mesmo nome, lançado em 2017. 

O responsável por esclarecer o assassinato do operário foi o repórter fotográfico Ronaldo Bernardi, do jornal Zero Hora. Em suas fotos, o jornalista capturou o momento em que Júlio César fora confundido com um assaltante, e depois algemado e colocado numa viatura da Brigada Militar, na Av. Bento Gonçalves, em Porto Alegre.

Uma hora depois do ocorrido, Ronaldo registrou a chegada do corpo do homem a um Hospital de Pronto Socorro (HPS) da cidade, vítima de um tiro no abdômen. Na época, a imprensa ajudou na investigação do crime ao exercer pressão e reforçar a verdade: Pinto não era culpado.

Em entrevista ao GaúchaZH, o jornalista Bernardi relembrou a noite de 14 de maio de 1987: “O que me chamou a atenção foi que havia uma pessoa algemada, sendo colocada com violência na viatura. Os policiais tentaram me afastar. Júlio César tinha uma expressão de horror”.

Além do jornalismo, grupos de movimentos sociais também foram importantes. Com o caso do “homem errado”, a Polícia Militar da época foi vista como ‘racista’. 

Imagem meramente ilustrativa de polícia. Crédito: Getty Images.

Investigação

O ano de 1987 caracteriza o processo de redemocratização do Brasil, já que fazia apenas 2 anos em que o país estava livre da ditadura. Na data da morte de Júlio César, um assalto havia acontecido em um supermercado do centro de Porto Alegre, resultando em tiros trocados entre a polícia e criminosos. 

Júlio, assim como outras pessoas das redondezas, foi atraído para a confusão, e acabou sofrendo um ataque epilético. Ao invés de receber socorro, ele foi levado pela Brigada Militar como culpado, sendo 'confundido' com um dos assaltantes.

Conforme noticiado pela Revista Afirmativa, o homem foi colocado em uma viatura e teria apanhado ao ser conduzido para a delegacia. Contudo, seu corpo chegou ao hospital como um cadáver, e apresentando dois tiros. 

O jornalista Ronaldo disse que cumpriu sua missão enquanto profissional da imprensa. “Depois de 30 anos, entendo que minha ida para aquele local foi algo superior a mim. Se não fossem as fotos, não se teria esclarecido o que aconteceu”, contou.

O caso de Júlio César Pinto passou por julgamento duas vezes, por meio do Tribunal de Justiça Militar do Estado do Rio Grande do Sul. Na primeira oportunidade, dois tenentes da PM foram condenados - com 14 anos de prisão -, bem como dois cabos e quatro soldados - a 12 anos.

Já na segunda vez, um dos tenentes que fora acusado recebeu a liberdade. Os policiais condenados não cumpriram suas penas por inteiro, mas foram expulsos da corporação.

Violência

De acordo com o Atlas da Violência de 2020, em 2018 a taxa de homicídio de negros no Brasil - por 100 mil habitantes - foi de 37,8, contra 13,9 de pessoas não negras. Para o Atlas, em quase todos os estados brasileiros um negro tem mais chances de ser morto do que um não negro. Portanto, quando o assunto é violência, a população negra vive uma realidade diferente.