Em 1980, Bob Marley veio pela primeira vez ao Brasil, e jogou futebol com Chico Buarque, Alceu Valença e outros artistas
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 27/08/2022, às 17h00 - Atualizado em 23/09/2022, às 13h00
Em 1980, enquanto gravava seu álbum de estúdio Uprising, que viria a ser seu último trabalho lançado em vida, o músico jamaicano Bob Marley recebeu um convite de Ramón Segura, diretor geral da Ariola, para vir ao Brasil no lançamento da gravadora alemã em território tupiniquim.
Apaixonado pela Seleção Brasileira de Futebol, tricampeã mundial na época, o convite foi irrecusável para Marley. Assim, aos 34 anos o maior nome do reggae do mundo veio ao Brasil pela primeira vez — e sequer pisou em palcos ou gravadoras pensando em trabalho.
Rivelino, Jairzinho, Pelé... A Jamaica gosta de futebol por causa do Brasil", disse o músico já em solo brasileiro, como informado pelo g1.
No entanto, Bob Marley não veio ao Brasil sozinho: vieram também o guitarrista Junior Marvin — da banda The Wailers —, o cantor Jacob Miller — do Inner Circle —, o executivo Chris Blackwell, fundador da Island Records — gravadora jamaicana —, e sua mulher, a atriz e modelo Nathalie Delon.
No dia 18 de março de 1980, por volta das 18h30, Bob Marley finalmente desembarcou no Rio de Janeiro — inclusive, ainda no saguão do aeroporto Santos Dumont, o músico comentou sobre ter vontade de conhecer Gilberto Gil, que havia gravado, no ano anterior, 'Não Chore Mais', sua versão do Hit 'No Woman, No Cry', do cantor jamaicano.
O reggae tem a mesma raiz, o mesmo calor e o mesmo ritmo do samba", declarou aos repórteres na época.
No entanto, nem só com música Marley ocupava seu tempo livre, sendo também um grande amante de futebol — a ponto de que tinha vários times de coração, dependendo do país em que estivesse. No Brasil, por exemplo, ele torcia para o Santos — e chegou até mesmo a ganhar uma camisa 10 diretamente do Pelé.
Além disso, em sua visita às terras brasileiras ele também pôde conhecer o jogador Paulo Cézar Caju, companheiro de Pelé quando conquistou a taça na Copa do Mundo de 1970.
Então, não demorou muito para tudo se desenrolar, e estava combinado de Marley jogar uma 'pelada' com outros artistas: na única vez que o músico jamaicano veio ao Brasil, ele sequer pisou em palcos ou gravadoras, mas não perdeu a chance de jogar futebol.
A partida ocorreu no Centro Recreativo Vinícius de Moraes, no Km 18 de Avenida Lúcio Costa, antiga Sernambetiba, no Recreio dos Bandeirantes, no Rio de Janeiro. Lá funciona, até hoje, a sede do Politheama, time fundado pelo cantor Chico Buarque — que obviamente não perderia a oportunidade de jogar com o ídolo do reggae.
No fatídico dia em que Bob Marley viria jogar futebol, outros artistas brasileiros também se juntaram ao time de Chico Buarque, como Toquinho, Moraes Moreira e Alceu Valença, todos recém-contratados pela nova gravadora Ariola. No fim, dentre todos os presentes na partida, o único profissional era Paulo Cézar Caju mesmo.
Toquinho, em entrevista ao O Globo, contou também, bem humorado, que Bob Marley era ruim com a bola nos pés. Já Carlinhos Vergueiro, por sua vez, nega a fala e diz que o jamaicano "jogava muito bem" — no fim, a partida terminou em um 3 a 0, com a vitória do time de Marley, que fez um dos gols, junto a Caju e Chico Buarque.
Após o evento, Caju ainda levou Marley para realizar dois desejos que o jamaicano tinha: comer peixe cru — o que foi fornecido por um amigo do jogador, dono de um restaurante no Leblon — e tomar suco de frutas. Antes de voltar ao seu país, ainda, o músico comprou materiais esportivos e alguns instrumentos musicais, que comprou em uma loja em Copacabana.
Infelizmente, Marley não pôde voltar ao Brasil depois disso. No dia 11 de maio de 1981, cerca de um ano e dois meses depois de sua visita ao Rio, a lenda do reggae veio a falecer, aos 36 anos, vítima de um câncer.
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