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Matérias / Personagem

O poeta que vivia em situação de rua e reencontrou a família: A história de Raimundo Sobrinho

Vivendo nessa situação por mais de 30 anos, o poeta reencontrou os familiares de maneira surpreendente

Fabio Previdelli Publicado em 02/08/2020, às 09h00

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O antes e depois de Raimundo Arruda Sobrinho - Divulgação/ Facebook/ Raimundo Arruda Sobrinho
O antes e depois de Raimundo Arruda Sobrinho - Divulgação/ Facebook/ Raimundo Arruda Sobrinho

Raimundo Arruda Sobrinho, atualmente com 82 anos, viveu em situação de rua em São Paulo por mais de 30 anos. Porém, em setembro de 2011, aos 73 anos, acabou reencontrando sua família depois que uma página para ele foi criada no Facebook.

Seu perfil na rede social foi feito por Shalla Monteiro, moradora da região onde Raimundo ficava, no Alto de Pinheiros, zona oeste de São Paulo, que acabara se tornando sua amiga. Assim, um de seus quatro irmãos, Francisco Tomaz Arruda, que vive em Goiânia, encontrou, por acaso, sua página na internet.

Raimundo não entrava em contato com seus familiares desde a metade da década de 1980. Apesar de não terem informações precisas sobre sua localização, seus parentes jamais deixaram de procurá-lo.

Nesse meio tempo, ele acabou aparecendo em revistas, jornais, programas de TV e até mesmo em documentários. “Mas a maioria do material era antigo e não informava sua localização exata”, contou Josangela Roberta, mulher de Francisco, em entrevista ao G1 na época.

Cartaz promovendo a página de Raimundo e uma foto dele no encontro com seu irmão Francisco / Crédito: Arquivo Pessoal

Mas porquê Raimundo parou de se comunicar com sua família?

Ele se mudou para São Paulo, na década de 1960, com o objetivo de dar continuidade aos estudos do Ensino Médio. Nascido em Piacá, Tocantins, uma cidade rural e sem muita estrutura, ainda passou por Carolina, Maranhão, onde morou na casa de amigos de seus pais.

Por lá, ficou por alguns anos, mas como o casal se mudou da cidade, acabara ficando sozinho. “Ele escrevia muitas cartas amorosas para os meus pais, uma vez por mês. Ele chegou a mandar presentes para a minha mãe. O último foi uma máquina de costura. Depois, ele sumiu”, conta Francisco.

Já em São Paulo, Raimundo trabalhou como vendedor de livros e jardineiro. “Na página do Facebook têm pessoas que lembram quando ele foi jardineiro da família”, relata Shalla, que explica que Raimundo pagava 1,6 mil cruzeiros de aluguel para morar em um quartinho. “Mas chegou um momento em que a renda era menor que o aluguel. Quando Raimundo se deu conta disso, foi morar na rua”.

A família de Raimundo na década de 1960 / Crédito: Arquivo Pessoal

Na década de 1980, acabou participando de um programa de TV, quando foi reconhecido por um amigo de sua família, que se dispôs a pagar a passagem de avião para que Raimundo fosse até Goiânia, onde viria Francisco pela primeira vez. “Ele ficou na cidade quase 20 dias, mas não gostou e pediu para voltar para São Paulo”, relata seu irmão.

Assim, a família acabou comprando uma passagem para que voltasse a capital paulista e, desde então, eles perderam contato novamente. “Antes do reencontro em 2011, quando você questionava Raimundo se ele tinha família, ele respondia que era uma pessoa só. Depois, quando Shalla mostrou uma foto dos irmãos e colocou na mão dele, Raimundo reconheceu na hora, mesmo após anos sem vê-los, principalmente Francisco e sua irmã gêmea, que eram bebês quando ele saiu de casa”, conta Roberta.

O poeta Raimundo

Apesar de sempre escrever poemas, Raimundo nunca se autodenominou um poeta. “Eu o considero um poeta da vida. Ele inclusive tem um estilo literário nas minipáginas em que escreve. Raimundo sempre assina do mesmo jeito e todos os poemas são datados”, explica Shalla.

A mulher diz que o sonho do amigo sempre foi publicar um livro, mas conta que por vezes lhe faltara oportunidade. “Ele escreve o mesmo poema em diversas minipáginas e coloca um número de série atrás”, relata. Segundo Shalla, essa foi uma das maneiras que Raimundo encontrou para “publicar” seu livro, entregando o mesmo poema para diversas pessoas diferentes.

Outro ponto curioso é que o poeta sempre assina seus poemas com a data de 1999 mais o número que, somado a ele, chegue ao ano atual correspondente (um poema de 2012, por exemplo, seria assinado com data de 1999+13).

Shalla e Raimundo e um poema que ele escreveu / Crédito: Arquivo Pessoal

Shalla revela que um dos objetivos ao criar sua página no Facebook, era para divulgar o trabalho de Raimundo. “Eu queria usar a tecnologia das redes sociais para aproximar esses mundos diversos, para que as pessoas observem os moradores de rua com outros olhos, para que elas prestem atenção que é possível encontrar outros talentos como Raimundo”.

O reencontro

Porém, por sorte, o perfil serviu para além desse intuito e duas semanas depois do primeiro contato na rede social, Francisco desembarcou em São Paulo para rever o irmão depois de mais de 20 anos. “O Facebook foi muito útil, pois quem criou o perfil tentou ajudá-lo”, celebrou Roberta.

Então, Francisco passou dois dias com o irmão, que se disponibilizou a voltar para Goiás, junto da família. “No momento que cheguei lá, ele disse que não queria voltar para não dar trabalho, pois já está velho”, conta Roberta.

Entretanto, a família já tinha tudo pronto para recebê-lo, com toda a estrutura necessária, inclusive um computador. “Ele me disse que é um ser estragado socialmente e que não consegue mais conviver em um ambiente familiar”, explicou a amiga.

Mesmo assim, Raimundo acabou voltando para perto dos parentes em 2012. Com um novo visual depois de cortar o cabelo e fazer a barba, ganhou uma festa de aniversário em comemoração aos 74 anos que fazia na época.

Mas, ainda assim, nutria um desejo de retornar para as ruas onde viveu. “Se pudesse, eu voltava nesse instante para viver da maneira que vivia e, assim, não dar trabalho a ninguém”, revela. “Estou aqui porque me trouxeram. Meu irmão tem seus afazeres e eu estou aqui dando trabalho. Isso que não gosto. Bom é cada um ser válido. Eu sou um inválido, não sirvo para nada nas condições que estou”.

Raimundo com sua família / Crédito: Arquivo pessoal

Porém, não é dessa maneira que Francisco o enxerga. “É uma alegria muito grande. Vamos estar juntos sempre, somando um ao outro. É um momento da vida extremamente feliz e que é ímpar”.

“Antes de minha mãe falecer, ela pedia para achar o Raimundo. Eu prometi que um dia ia achá-lo e, quando isso acontecesse, iria cuidar dele. São, ao todo, cinco irmãos. É um rebanho. Mas estava faltando um e a felicidade só seria completa quando achasse o último”, revela o irmão.


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