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Matérias / Nazismo

Os arquivos que mostram a ligação nazista do tio de Elizabeth II

Edward VIII não só visitou a Alemanha nazista como também orientou ataque contra Aliados e foi personagem de plano para tomar o trono

Fabio Previdelli

por Fabio Previdelli

fprevidelli_colab@caras.com.br

Publicado em 11/02/2024, às 13h00

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Edward VIII, Wallis Simpson e Adolf Hitler - Wikimedia Commons
Edward VIII, Wallis Simpson e Adolf Hitler - Wikimedia Commons

Filho mais velho do rei George V e da rainha Mary, Edward VIII se tornou rei do Reino Unido em 20 de janeiro de 1936 — após a morte de seu pai. No entanto, 326 dias depois, em 10 de dezembro do mesmo ano, o monarca abdicou do trono. 

O motivo? Wallis Simpsons!  Socialite americana divorciada, Wallis conheceu Edward em 1930. Membros do mesmo círculo social, a relação dos dois foi aumentando com o tempo. Em 1934, Edward já estava completamente apaixonado pela mulher. 

Fotografia do Rei Edward VIII com sua esposa Wallis Simpson - National Media Museum/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

No entanto, quando se tornou rei, a Igreja da Inglaterra não permitia que um monarca britânico se casasse com uma mulher divorciada. Ao ter que decidir entre o poder e paixão, Edward abriu mão do trono

+ Carta inédita expõe escândalo em casamento do rei Edward VIII

Achei impossível carregar o pesado fardo da responsabilidade e cumprir meus deveres como rei como gostaria de fazer sem a ajuda e o apoio da mulher que amo", disse em discurso público no qual anunciou sua decisão. 

Mas essa não é nem de perto a maior polêmica de sua vida. Desde antes do início da Segunda Guerra Mundial, em 1939, a relação entre família real britânica e o nazismo já tem sido questionada. E é justamente Edward VIII o principal personagem desta história. 

Encontro com o Führer

Após abdicar do trono, Edward VIII foi rebaixado para Duque de Windsor. Ele não se importava, afinal, em seu exílio forçado na França, acabou se casando com Wallis em 3 de junho de 1937

Embora o casal vivesse na terra da Torre Eiffel, eles sempre faziam viagens para diversos países da Europa. Uma dessas paradas aconteceu em outubro de 1937, quando foram convidados de honra da Alemanha nazista e passaram algum tempo com Adolf Hitler

Na ocasião, o casal esteve em Berlim e jantou com Hermann Göring, ministro do Interior do Reich, e Joseph Goebbels, ministro da propaganda. Além disso, conforme repercute matéria da Veja, eles passaram uma temporada em Berghof — no refúgio de Hitler nos Alpes da Bavária.

Agradecendo toda a hospitalidade que recebeu, Edward chegou até mesmo a escrever uma carta em alemão. O documento foi revelado pelo historiador Andrew Lownie. Um trecho da mensagem diz: 

Ao deixar a Alemanha, a duquesa e eu agradecemos sinceramente pela grande hospitalidade que nos concedeu e pelas muitas oportunidades de ver o que está sendo feito para o bem-estar dos trabalhadores alemães."
Trecho da carta escrita por Edward - Reprodução/Andrew Lownie

Essa foi apenas a ponta do iceberg. Logo, o encontro gerou uma série de conflitos entre o duque e a família real. Rumores que o rei abdicado era simpatizante nazista passaram a correr pelo mundo. Quando a Segunda Guerra começou, de fato, Edward se tornou um risco para a realeza. 

Em 'Traitor King: The Scandalous Exile of the Duke & Duchess of Windsor', Lownie afirma que "Edward VIII atuou ativamente para favorecer a Alemanha". 

Afinal, embora tenha abdicado, o duque manteve sua patente militar, o que lhe permitiu ser convidado pelo governo para inspecionar a linha de defesa do país. Edward escreveu quatro relatórios apontando problemas que seguiam desde falta de liderança até certos pontos onde as tropas sofriam de baixa moral. 

Os ingleses não deram muita bola. Mas, como registra uma correspondência do embaixador alemão em Haia em 1940, Edward repassou as mesmas informações para Charles Bedaux, colaboracionista franco-americano que havia patrocinado sua visita a Hitler

Como resultado, em 10 de maio de 1940, a Alemanha exterminou a linha de defesa francesa e acabou ocupando Paris. Wallis e Edward se mudaram para Portugal — que, até então, era comandada por Salazar, que simpatizava com os nazistas. 

Operação Willi

Em maio de 1945, as tropas americanas descobriram no Schloss Marburg, na Alemanha, uma coleção de registros nazistas ultrassecretos de mais de 400 toneladas. Os Arquivos de Marburg, como ficaram conhecidos, pertenciam ao Ministro das Relações Exteriores da Alemanha nazista, Joachim von Ribbentrop.

O acervo foi levado até o Castelo de Marburg para ser avaliado pelas forças dos Estados Unidos, que descobriram cerca de 60 páginas que continham informações e correspondências entre o Duque de Windsor e a Alemanha Nazista. Os documentos foram chamados de Arquivo Windsor

Os relatos apresentam evidências definitivas do relacionamento entre Edward VIII com membros do alto escalão nazista.

Wallis, Duquesa de Windsor e o Duque no dia de seu casamento - Wikimedia Commons

Uma das informações mais chocantes contidas nos arquivos dizia respeito a um plano alemão conhecido como Operação Willi. Em suma, a estratagema visava sequestrar o Duque e a Duquesa de Windsor e fazê-los trabalhar ao lado de Hitler e dos nazistas para alcançar a paz entre a Grã-Bretanha e a Alemanha

Uma vertente mais ousada do plano buscava reintegrar Edward VIII como rei da Grã-Bretanha. Considerado um aliado ambivalente, o abdicado monarca seria uma marionete do Eixo dentro da monarquia

Em 'Operation Willi: The Plot to Kidnap the Duke of Windsor', Michael Bloch descreve que o plano incluía o sequestro do duque e da duquesa enquanto eles deixavam a Europa para viajar para as Bermudas, onde ele acabara de ser nomeado governador.

Telegramas contidos nos Arquivos de Marburg afirmam que o casal não só sabia de tudo como também Wallis se mostrou uma grande fã da ideia. 

Quando [um] agente observou que o curso da guerra pode produzir mudanças até mesmo na constituição britânica, a Duquesa, em particular, ficou muito pensativa", afirma um telegrama. 

Em outro telegrama, declarações alegadamente feitas pelo próprio Edward diziam que ele estava "convencido de que se tivesse permanecido no trono, a guerra teria sido evitada". Afinal, segundo repercutiram os jornais da época, ele era "um firme defensor de um compromisso pacífico com a Alemanha".

A traição do duque chegou a níveis tão grandes que ele até mesmo sugeriu ao diplomata espanhol Javier Bermejillo que a Alemanha atacasse seu país. "[O] Duque acredita com certeza que a continuação dos bombardeios pesados ​​deixará a Inglaterra pronta para a paz", diz em um telegrama. De fato, em 7 de setembro de 1940, os nazistas bombardearam Londres e atingiram até mesmo o Palácio de Buckingham

Para conter a crise instaurada por Edward, o então primeiro-ministro, Winston Churchill, o nomeou governador das Bahamas em 1940, o ameaçando de corte marcial em caso de desobediência. A contragosto, o casal ficou no Caribe até o final do conflito. 

Polêmica em The Crown

Os Arquivos de Marburg foram explorados no sexto episódio da segunda temporada de The Crown, intitulado Vergangenheit (que seria algo como 'passado' em alemão). Na trama, a rainha Elizabeth II (vivida por Claire Foy) reage à descoberta da correspondência de seu tio com os nazistas.

A trama também mostra como a monarquia e o governo britânico tentaram aliviar a situação. Naquela época, Churchill queria "destruir todos os vestígios" dos telegramas nazistas e dos seus planos para reintegrar Edward como rei. O premiê acreditava que as mensagens alemãs capturadas eram "tendenciosas e pouco confiáveis".

Temendo que sua divulgação fosse prejudicial, Churchill contactou o então presidente norte-americano Dwight D. Eisenhower, pedindo para que os arquivos da seção Windsor não fossem divulgados por "pelo menos 10 ou 20 anos".

Acatando a sugestão, a inteligência dos EUA também optou por acreditar que o Arquivo Windsor não era uma representação lisonjeira do duque, tratando a correspondência como "obviamente inventada com alguma ideia de promover a propaganda alemã e enfraquecer a resistência ocidental", repercute o All That Interesting. Ainda, a inteligência dos EUA acrescentou que os arquivos eram "totalmente injustos".

Quando os telegramas foram finalmente tornados públicos em 1957, o duque denunciou as suas reivindicações e chamou o conteúdo de "invenções completas".