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Matérias / Independência do Brasil

Por trás da longa restauração do mais famoso quadro da Independência do Brasil

'Independência ou Morte' é o quadro mais famoso que retrata a Independência do Brasil, feito por Pedro Américo

Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 02/09/2022, às 12h11

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Quadro 'Independência ou Morte', de Pedro Américo, que retrata o momento da proclamação da Independência do Brasil por Dom Pedro I - Domínio Público via Wikimedia Commons
Quadro 'Independência ou Morte', de Pedro Américo, que retrata o momento da proclamação da Independência do Brasil por Dom Pedro I - Domínio Público via Wikimedia Commons

Quando se pensa no processo da Independência do Brasil — que completa 200 anos na próxima quarta-feira, 7 — uma das primeiras imagens que se vem em mente de grande parte da população brasileira é o quadro 'Independência ou Morte', do romancista, poeta, cientista e pintor Pedro Américo.

Isso se deve porque, de fato, o quadro de Américo é a representação visual mais memorável que se tem da proclamação da Independência, trazendo um Dom Pedro I acompanhado por uma comitiva de dezenas de homens — mesmo que nem todas as informações sejam verídicas —, de forma a trazer tom heroico e épico à imagem do primeiro imperador brasileiro.

A pintura foi feita, por sua vez, já há bastante tempo, em 1888, sob encomenda da família imperial brasileira, em homenagem ao momento histórico que marcou justamente a queda do Brasil-Colônia, e início do Brasil-Império.

No entanto, a ação do tempo acabou levando problemas à pintura, que ficou prejudicada, suja e alterada, e por isso foi necessário um processo de restauração da obra.

'Independência ou Morte', de Pedro Américo
'Independência ou Morte', de Pedro Américo / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

A obra

A pintura 'Independência ou Morte', feita por Pedro Américo, foi exposta pela primeira vez em 7 de setembro de 1895, sete anos após sua produção, na inauguração do Museu Paulista da Universidade de São Paulo — também chamado de Museu do Ipiranga.

Feita com uso da técnica de óleo sobre tela, e medindo mais de 4 metros de altura, por mais de 7 metros de comprimento, ela é até mesmo maior que as portas e janelas do local, e por isso foi montada ali dentro, e nunca foi retirada.

A pintura de Pedro Américo esteve inserida no movimento da arte neoclássica, e fez dele um dos mais importantes pintores acadêmicos do Brasil, como informado no site Ciclo22, da USP. 

Autorretrato de 1895 de Pedro Américo
Autorretrato de 1895 de Pedro Américo / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Já o Museu do Ipiranga, onde o quadro pode ser encontrado, é uma instituição científica, cultural e educacional com atuação no campo da História, com grande acervo em seu interior. O edifício estava fechado desde 2013, devido ao risco de queda do forro, mas será reaberto ainda este mês, para celebração do bicentenário da Independência do Brasil.

Fotografia de 2006 do Museu do Ipiranga
Fotografia de 2006 do Museu do Ipiranga / Crédito: Foto por Delma Paz pelo Wikimedia Commons

Restauração

Devido ao longo tempo em que o quadro 'Independência ou Morte' existe, e sua exposição ao ambiente, alguns sinais de desgaste foram percebidos na obra. Com isso, uma equipe de nove profissionais, sob o comando da especialista em restauração de obras de arte do Museu do Ipiranga, Yara Petrella, foi formada, com objetivo de reviver a beleza original da pintura.

Para isso, os restauradores passaram por diversas etapas e enfrentaram um longo processo, para devolver à pintura suas cores originais: retiraram a sujeira acumulada com o tempo, recompondo pontos de perda na camada pictórica original e retirando vestígios de restauros antigos, como um amarelado indevido em certa região do céu.

Primeiro, em 2017 foi necessário fazer um levantamento dos documentos sobre a obra, com detalhes sobre as cores originais e as áreas retocadas em outros processos de restauração — tendo sido o último em 1972.

Então, com uma reflectografia em infravermelho foi possível visualizar os traços iniciais, a grafite ou carvão, que Pedro Américo recobriu depois com camadas de tinta.

Em seguida, técnicas espectroscópicas por fluorescência de raios X possibilitaram determinar a paleta de cores utilizada originalmente e, assim, foram sugeridos os pigmentos do artista. A técnica ainda permite identificar pigmentos alterados ou que possam ter sido utilizados em outras restaurações.

Porém, como alguns elementos químicos podem ser encontrados em mais de um pigmento diferente, o processo de identificação pode causar dúvidas sobre qual o material exato que foi utilizado por Pedro Américo no momento em que fez a pintura.

Para resolver tal problema, a etapa em que passa pela microscopia Raman existe: nela, fragmentos microscópicos do quadro são analisados, e sua composição química é determinada.

Então, com todas as informações obtidas que se pode iniciar o processo definitivo de restauração da obra, aplicando uma nova camada de tinta, com respeito aos devidos detalhes de aspectos, materiais e técnicas empregadas. Para a restauração dessa obra, especificamente, foram utilizados pigmentos com Paraloid B72 ou tintas prontas para retoque, que são mais reversíveis do que a tinta a óleo e facilitam possíveis restaurações futuras.

Por fim, após a restauração, a última etapa consiste em cobrir a obra com verniz, por resistir a muitos anos sem que desenvolva tons amarelados, como informado pelo Ciclo22, da USP.