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Matérias / Brasil

A melancólica despedida de Dom Pedro II após o fim da monarquia

Além da instauração do presidencialismo no Brasil, a Proclamação da República marcou o exílio da família imperial brasileira

Fabio Previdelli Publicado em 14/11/2020, às 09h00 - Atualizado em 15/11/2022, às 13h00

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D. Pedro II em fotografia de Joaquim Insley Pacheco - Domínio Público via Wikimedia Commons
D. Pedro II em fotografia de Joaquim Insley Pacheco - Domínio Público via Wikimedia Commons

Todo 15 de novembro, o país relembra os 131 anos da Proclamação da República. Além da instauração do presidencialismo, com Marechal Deodoro da Fonseca sendo o primeiro presidente do país, a data também marca quando os membros da Família Imperial brasileira seguiram para o exílio na França e no Império Austro-húngaro.  

Quando a proclamação foi declarada, Dom Pedro II, que deixou de ser imperador do Brasil, estava na Cidade Imperial. Foi em solo carioca, inclusive, que ele recebeu um telegrama informando a queda da Monarquia no país.  

"Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Manifestando seu descontentamento, Pedro II chegou a escrever uma carta, que foi destinada ao Governo Provisório, em 16 de novembro. No documento, ele também deseja prosperidade ao Brasil. Confira: 

"A vista da representação que me foi entregue hoje, às três horas da tarde, resolvo, cedendo ao império das circunstâncias, partir com a minha família para a Europa, amanhã, deixando assim a pátria, de nós estremecida, à qual me esforcei por dar constante testemunhos de entranhado amor e dedicação durante meio século que desempenhei o cargo de Chefe do Estado. Na ausência, eu, com todas as pessoas da minha família, conservarei do Brasil a mais saudosa lembrança, fazendo ardentes votos, por sua grandeza e prosperidade". 

Carta assinada por D. Pedro II foi enviada ao Governo Provisório / Crédito: Divulgação/ Museu Imperial/ Projeto Dami

A carta foi endereçada a Deodoro, do qual recebeu a seguinte resposta: “...o Governo Provisório espera do vosso patriotismo o sacrifício de deixardes o território brasileiro, com a vossa família, no mais breve termo possível. Para esse fim se vos estabelece o prazo máximo de vinte e quatro horas, que contamos não tentareis exceder”. 

Em entrevista ao G1 em 2018,Maurício Vicente Ferreira Júnior, historiador e direto do Museu Imperial, localizado em Petrópolis, na Região Serrana do Rio, disse que antes de receber a resposta do Marechal, Pedro II fez uma anotação demonstrando seu desejo de ficar por aqui. “Os documentos mostram que ele queria permanecer no Brasil”, explica. 

Poema escrito por Pedro II sobre o momento político do Brasil/ Crédito: Divulgação/ Museu Imperial/ Projeto Dami

Em outro documento ele diz: "Até hoje de manhã esperava poder me conservar em paz no país que tanto amo. Infelizmente, desde poucas horas, acho-me sob o peso da profunda mágoa de ver-me privado da liberdade, que nunca neguei a nenhum brasileiro...". No próprio dia 15, ele chegou a escrever um poema em seu diário discorrendo sobre o momento político do país (o trecho pode ser visto na imagem acima). 

O exílio 

Apesar dos seus desejos, Dom Pedro II, sua esposa Teresa Cristina, junto de Isabel, seu esposo D. Gastão e os filhos D. Pedro de Alcântara, D. Luís e D. Antônio Gastão, além de Pedro Augusto, filho mais velho da falecida Leopoldina, partiram até o cruzador Parnaíba e, de lá, foram até a enseada de Abraão, na região de Angra dos Reis, quando se dirigiram até o vapor Alagoas — que os traria para a Europa.  

O trajeto de volta até o velho continente durou 20 longos dias. No primeiro deles, Maria Amanda, chamada de Amandinha no círculo imperial, esposa de Franklin Américode Meneses Dória, barão de Loreto, que acompanharam, por vontade própria, o imperador durante o exílio, relatou em seu diário como foi o percurso. “O mar estava um pouco agitado e, temendo enjoo, que me é inevitável, fui entrinchei­rar-me no beliche, onde me deitei com vivas saudades e lembranças de origens diversas”. 

Gravura da família imperial brasileira / Crédito: Getty Images

Pelos escritos da baronesa, é possível notar o sentimento de conformidade entre a família real. Quando discutiam política na embarcação, por exemplo, a palavra mais dita entre eles era “saudade”. Para tentar esquecer o que passou, Pedro II criou o hábito de rodas noturnas de leitura.  

No novo capítulo, era possível notar a família imperial com traços de simplicidade. Sem desfrutar de banquetes ou festas. Um dos únicos momentos requintados ocorreu em 2 de dezembro, aniversário de Pedro II. Naquele dia, uma garrafa de champanhe foi aberta em uma celebração. “Brindo à prosperidade do Brasil”, declarou ou imperador ao erguer a taça. 

Generosidade e surtos de Pedro Augusto 

Apesar de Dom Pedro II não se importar com a sofisticação, segundo os relatos da baronesa, muitos de seus costumes não mudaram, como a generosidade. Em uma escala na ilha de São Vicente, em Cabo Verde, por exemplo, ele fez uma generosa doação a um padre local para que ele distribuísse aos pobres.  

Apesar disso, um dos pontos que mais chamou a atenção na viagem foi o comportamento estranho de Pedro Augusto, neto mais velho do imperador, que desde seu nascimento estava sendo preparado para assumir o trono. O jovem, entretanto, tinha tendências paranoicas e sofreu surtos psicóticos durante a viagem. 

Navio Alagoas foi usado pela família imperial brasileira / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Amandinha, assim como todos que estavam na embarcação, atribuíram os surtos de Pedro Augusto à movimentação do navio. “Todas essas manobras só têm servido para assustar o príncipe dom Pedro Augusto, que, desde ontem, sofre de superexcitação nervosa, se acha possuído de pânico e pensa que estamos todos perdidos e não chegaremos a Lisboa. O seu estado é lastimável”, narra. 

A chegada a Lisboa, no dia 7 de dezembro, porém, não foi uma das mais prósperas para a família imperial. Três semanas depois, dia 28, a imperatriz Teresa Cristina pereceu devido a um infarto. Segundo a baronesa, a fatalidade foi culpa da República. “Desde que saiu do Brasil, ela mostrava-se impressionada pelos horrorosos acontecimentos tão sabidos. Eles, sem dúvida, concorreram para a sua morte”. 

A constatação é corroborada com as palavras ditas pela própria imperatriz em seu leito de morte. “Não morro de doença. Morro de dor e de desgosto". "Sinto a ausência das minhas filhas e de meus netos. Não posso abençoar pela última vez o Brasil, terra linda ... não posso lá voltar". 

A despedida de Teresa Cristina, inclusive, foi o momento mais marcante descrito pela baronesa. Apesar das amantes que teve, Pedro II tinha uma intensa relação com a imperatriz. Sua morte lhe causou profunda tristeza.  

“Antes de soldar-se a urna, o imperador quis despedir-se da imperatriz e mandou chamar a todos nós para fazermos também nossas despedidas”, escreveu Amandinha. “Não se pode descrever a dor dos príncipes e a nossa. Beijamos-lhe a mão e choramos copiosamente sobre o seu corpo sem vida”. 

Desembarque de Dom Pedro II em Lisboa / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

Conhecido por ser discreto, Dom Pedro II não conseguiu segurar suas emoções, chorando copiosamente. “Ele abraçou a sua muito amada esposa soluçando e foi logo retirado dali pelo Mota Maia [médico da família]. A princesa beijou sua santa mãe repetidas vezes; o mesmo fizeram os príncipes, e nós beijamos a mão de nossa imperatriz, que fora sempre tão boa e carinhosa”.


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