Com pelo menos 4.800 anos, árvore de Pinus longaeva existe desde antes do Império Romano
Éric Moreira, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 04/06/2023, às 09h00
A humanidade tem sua história contada há milênios, tendo vivido as mais diversas situações de grande relevância histórica em seu desenrolar. Porém, uma única pessoa é capaz de presenciar um número bastante restrito de eventos ao longo de sua vida, isso ainda se considerar que consiga viver tanto quanto o jabuti Jonathan, o animal terrestre mais velho. Já as árvores, possuem uma expectativa de vida ainda maior.
Antes mesmo da formação do glorioso Império Romano, do nascimento de Jesus na Bíblia ou da construção das pirâmides, as árvores já habitavam a Terra. Porém, como qualquer outro tipo de ser vivo, possuem seus dias contados — mas num ritmo completamente diferente. Por isso, algumas podem chegar a viver até por um milênio, se não ainda mais.
Em meio às Montanhas Brancas da Califórnia central, a cerca de 3 mil metros de altitude e em um deserto árido e quase inóspito, contrariando a expectativa de que nenhum ser vivo pode existir nesse tipo de ambiente, vivem bosques inteiros de pinheiros da espécie Great Basin bristlecone (Pinus longaeva). Mas o mais surpreendente não é onde vivem, mas sim desde quando: estudos apontam que alguns exemplares já existem há quase 5 mil anos.
Na região, é possível se maravilhar com incontáveis troncos multicoloridos e distorcidos, que se dobram em ângulos que parecem mais improváveis quanto mais se observa, com ramos sem folhas que se estendem em direção ao céu. E essa paisagem singular não é indigna das árvores mais antigas do planeta.
Vale mencionar que os pinheiros de Bristlecone não são as únicas árvores impressionantes possíveis de se encontrar na Califórnia, estado que abriga também as mais altas, como a sequoia Hyperion, de 115 metros de altura, e as maiores em volume, como a General Sherman, no Parque Nacional das Sequoias. E o número estimado para a idade de Methuselah (Matusalém), o mais antigo pinheiro bristlecone, é de aproximadamente 4.855 anos.
Aqueles que ousam caminhar pela Floresta Nacional Inyo, nos Estados Unidos — em uma trilha que só é possível a pé mesmo —, podem se deparar, em certo ponto, com estranhas árvores retorcidas agarradas a uma encosta rochosa. Quando se deparar com esta cena, saiba que você encontrou o intrigante bosque Methuselah, onde vive não só a mais antiga árvore do planeta, como também algumas parentes tão longevos quanto, se não até mais.
Sim, existe uma certa dúvida sobre a afirmação de que Methuselah seja, efetivamente, a árvore mais antiga do mundo. Porém, a chance de o espécime mais velho existir no bosque Methuselah é maior, visto que a afirmação foi tomada a partir de árvores analisadas, e diversas outras não foram observadas de maneira tão detalhada. Mas ainda assim, o Serviço Florestal americano não revela qual é, de fato, a velha árvore, para evitar o vandalismo.
Constance Millar, ecologista que estuda os pinheiros bristlecone há mais de 30 anos, afirma ainda que reconhecer a árvore mais longeva — mesmo que seja outra que não a considerada atualmente — não é uma tarefa simples, visto que ela sequer possui um indício disso em sua aparência.
Vale esclarecer que, para que seja descoberta a idade de uma árvore, é necessário extrair uma amostra cilíndrica de seu tronco, de forma a possibilitar a contagem de seus anéis. Além disso, a espessura dos anéis também pode conter informações sobre os níveis anuais de precipitação da região, bem como a temperatura e erupções vulcânicas, de acordo com a Folha de S. Paulo.
Acredita-se que a chave para que os pinheiros bristlecone terem uma vida tão longa seja justamente seu crescimento lento. Isso pode ser notado, pois, embora as sequoias sejam árvores enormes que cresceram por muito tempo para alcançar tais proporções, o Pinus longaeva se expande somente uma polegada a cada cem anos, aproximadamente, o que faz de sua madeira bastante compacta, fornecendo proteção extra contra insetos e a decomposição.
Além disso, o ar da Floresta Nacional de Inyo é extremamente seco, o clima local é frio e o solo rochoso é tão árido, que são poucas as outras plantas, animais ou pragas que são capazes de conviver com essas árvores milenares.
