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Matérias / Arqueologia

Relembre a descoberta de um antigo perfume do Império Romano

Em 2019, arqueólogos descobriram na Espanha uma tumba funerária que revelou como pode ter sido o cheiro dos antigos romanos

Antigo frasco de perfume romano e interior de tumba funerária - Divulgação/Ayuntamiento de Carmona
Antigo frasco de perfume romano e interior de tumba funerária - Divulgação/Ayuntamiento de Carmona

Na semana passada, o mundo da arqueologia voltou sua atenção à notícia de que foi constatado que um líquido encontrado num recipiente, descoberto em uma tumba funerária romana na Espanha, era o que temos hoje como o vinho mais antigo já encontrado no mundo, até o momento. Porém, a tumba em questão guarda outros tesouros.

O vinho, conforme apurado pela equipe Aventuras na História, estava num frasco de vidro, em uma das urnas funerárias do local. Nela, também havia os restos mortais cremados de um homem, um anel de ouro decorado e, em uma descoberta quase tão surpreendente quanto a do vinho, um frasco que ainda continha um perfume utilizado há 2 mil anos.

Arqueólogos durante escavação de tumba na Espanha / Crédito: Divulgação/Ayuntamiento de Carmona

Passado romano

A tumba em questão foi descoberta em 2019, durante obras numa residência em Carmona, na província de Sevilha, no sul da Espanha. Dentro, havia oito nichos (onde urnas são depositadas), e seis urnas feitas de materiais como calcário, arenito ou vidro com chumbo, cada uma com restos de um único indivíduo. Em duas delas, vale mencionar, era possível identificar os nomes "Hispanae" e "Senicio".

Carmona foi um dos principais municípios da província romana da Bética entre os séculos 1 e 2 d.C., contando com edifícios, instituições e costumes semelhantes a qualquer grande cidade do Império Romano.

Por isso, não é incomum que achados arqueológicos referentes aos antigos romanos sejam feitos na região; que abriga, por exemplo, o maior complexo funerário já descoberto na Península Ibérica.

Câmara funerária

A câmara funerária, descoberta na cidade, chama atenção por datar de 2 mil anos atrás, dos primeiros anos "depois de Cristo". Por ser esculpida em pedra, e pela sorte de nunca ter sido saqueada, resistiu ao tempo.

Assim, foi possível encontrar artefatos bem preservados, como o vinho ainda em estado líquido — que, apesar da coloração marrom-avermelhada, era um vinho branco — e o pequeno frasco de cristal de quartzo, com uma massa sólida em seu interior.

Antigo frasco de perfume romano descoberto na Espanha / Crédito: Divulgação/Ayuntamiento de Carmona

"Os vasos de quartzo eram itens de luxo raros. Normalmente, eles não eram esculpidos, mas [formados com calor]. O frasco era, portanto, um achado arqueológico bastante invulgar… e ainda mais invulgar era que estava hermeticamente selada e tinha uma massa sólida no seu interior", explicaram pesquisadores da Universidade de Córdoba em estudo publicado na revista científica suíça Heritage.

Por isso, os pesquisadores já puderam supor que a tumba pertencesse a uma família com algum status social. Mas, ao analisarem a massa encontrada no frasco, se depararam com algo ainda mais intrigante: aquilo nada mais era que um antigo perfume romano.

Perfumes romanos

Com a descoberta, foi a primeira vez que pesquisadores puderam descobrir, afinal, como seria o "cheiro" dos romanos de 2 mil anos atrás. O que se sabia dos perfumes da época provinha apenas de receitas de figuras como o médico Pedanio Dioscórides Anazarbeo (40-90 d.C.), que usava óleos aromáticos em perfumes e em remédios, e o escritor Plínio, o Velho (23-79 d.C.), que descreveu como prepará-los, repercutiu o El País. 

No entanto, conforme destacam os pesquisadores no estudo, "as receitas detalhadas pelos autores clássicos eram muito vagas ou confusas, no que diz respeito às proporções dos componentes e aos procedimentos para prepará-los". Por isso, a descoberta de restos de perfume foi capaz de revelar com precisão os componentes da fragrância romana.

Cheiro

A partir das análises, eles descobriram que o frasco permitiu o "magnífico" estado de conservação por ser selado com betume. E a composição do perfume em si ia, de fato, de acordo com as receitas descritas por Plínio: uma base aglutinante, que preservava os aromas, com uma essência.

A base utilizada, neste caso, era um tipo de óleo vegetal. Os mais comuns extraídos pelos romanos na época eram de gergelim, de raiz-forte, amêndoa, mas o principal (e provavelmente utilizado aqui) era o azeite, da azeitona. Já a essência identificada era do patchouli.

Os romanos cheiravam a patchouli", afirmou a análise.
Patchouli (Pogostemon cablin) / Crédito: Foto por Valérie75 pelo Wikimedia Commons

O patchouli (Pogostemon cablin), para os que não conhecem, é uma planta de origem indiana amplamente utilizada na perfumaria contemporânea.

Porém, vale ressaltar que na era romana não era tão comum assim por aquela região, sendo mais um indicativo de que aquela família pertencia a uma classe social mais elevada.