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Matérias / Boate Kiss

Série sobre tragédia da Boate Kiss escancara a impunidade do caso e a dor dos familiares

'Todo Dia a Mesma Noite', da Netflix, retrata a dura saga dos familiares das vítimas do incêndio que abalou o país há 10 anos

Redação Publicado em 26/01/2023, às 12h00

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Cena da série 'Todo Dia a Mesma Noite', da Netflix (2022) - Divulgação/Netflix
Cena da série 'Todo Dia a Mesma Noite', da Netflix (2022) - Divulgação/Netflix

Era 27 de janeiro de 2013 quando pais se mobilizaram em desespero até o endereço da boate Kiss, localizada em Santa Maria, Rio Grande do Sul. Naquela noite, confiaram no estabelecimento para que seus filhos pudessem ter uma noite de diversão.

No entanto, o que encontraram foi um cenário de caos, pânico e uma fila de mortos. Um incêndio ocorrido na casa noturna foi responsável por tirar a vida de 242 pessoas e deixar mais de 600 feridas naquela noite. 

Exatos 10 anos depois, a luta dos familiares e sobreviventes da tragédia é retratada com maestria na série 'Todo Dia a Mesma Noite', lançada pela Netflix na última quarta-feira, 25. Ficcional, a série é baseada no livro de mesmo nome da jornalista e escritora Daniela Arbex e tem direção-geral de Julia Rezende, além da direção de Carol Minêm e o roteiro de Gustavo Lipsztein.

Não podemos jamais esquecer o que aconteceu. Este projeto é um passo importante para a construção da memória coletiva do país”, disse Daniela, que é consultora criativa da série.

Além de reproduzir nos primeiros dois episódios o incêndio e o luto encarado por familiares e amigos das vítimas, a série mostra um lado pouco comentado nas redes sociais: a falta de condenação para os responsáveis pelo incêndio que tirou a vida de 242 pessoas há 10 anos.

Na série da Netflix, é possível ver com intensidade a maneira como os familiares dos sobreviventes lutaram por justiça e acabaram encarando a impunidade para os responsáveis durante quase uma década.

Também chama atenção que os próprios familiares foram alvo de processos de calúnia e difamação, enquanto os donos da casa noturna e os integrantes da banda Gurizada Fandangueira esperavam o julgamento em liberdade por anos. 

"Estamos contando uma história baseada em fatos. Mas, no fundo, no fundo, é uma ficção, e uma ficção que vem a serviço de uma causa que ainda está inacabada", disse a atriz Débora Lamm em entrevista ao Splash, do UOL. "Acho que o nosso lugar principal é de extremo respeito. Queremos que o nosso trabalho sirva para que a história deles possa se resolver, que isso possa levar a luta à luz", finalizou a atriz de 'Todo Dia a Mesma Noite'.

A falta de justiça

Não muito diferente do que é mostrado série, exatos 10 anos depois, a impunidade reina. Em dezembro de 2021, um julgamento parecia ter definido o destino dos responsáveis pelo episódio, que encarariam a prisão em regime fechado.

Elissandro Spohr, dono da Boate Kiss, fora condenado a 22 anos e 6 meses de prisão; Mauro Hoffman, o sócio da boate, 19 anos e seis meses; Marcelo de Jesus dos Santos e Luciano Bonilha Leão, vocalista e assistente da banda Gurizada Fandangueira, pegaram, cada, 18 anos. 

Já no mês de agosto de 2022, o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul anulou a condenação. De acordo com o G1, a decisão se deu após um recurso analisado por três desembargadores da 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul.

Na ocasião, advogados dos réus argumentaram que os condenados tiveram julgamentos 'injustos' e que o júri apresentava falhas. Um dos pontos discutidos é que quatro jurados acabaram sendo selecionados após o prazo legal.

Cena de 'Todo Dia a Mesma Noite', da Netflix (2022)

“Para sortear jurados, o juiz admite que criou uma regra. Foi obrigado a criar um sistema com três votações, sendo que uma delas quase emendada com a data do julgamento, cada vez mais jurados. Não se tinha a noção de quem seriam as pessoas”, disse Jader Marques, advogado de Spohr.

Segundo o Jornal Nacional, a defesa também alegou que a decisão dos jurados foi contrária às provas do processo, e que os responsáveis deveriam ser condenados por homicídio culposo (quando não há a intenção de matar), e não por dolo eventual. A decisão foi acatada por dois votos a um e os condenados, liberados da prisão. Foi determinado que um novo juri será marcado, contudo, cabe recurso.