Por duas décadas, o norte-americano Sixto Rodriguez não tinha noção de que poderia lotar ginásios com suas canções na África do Sul
No início da década de 1970, um rapaz natural de Detroit, no estado norte-americano do Michigan, tentava sua primeira cartada musical, pouco antes de completar seus 28 anos. Compositor de canções de folk, exatamente no ano de 1970, Sixto Rodriguez gravava suas músicas originais no álbum 'Cold Fact' e, no ano seguinte, ainda teria criatividade para encher um LP e lançar seu segundo álbum: 'Coming from Reality'.
Essas apostas, custeadas pela gravadora Sussex Blue Goose, contavam com subsídio da popular RCA, que não via retorno nas poucas vendas do estadunidense, avaliando prejuízos financeiros pela tiragem e gravação. Sixto acabou se desanimando e deixou para trás uma promissora carreira.
A gravadora, no entanto, decidiu tentar ao menos recuperar a quantia investida ao passar as cópias encalhadas de seus álbuns para outros dois grandes países que falavam a língua inglesa, sendo eles a África do Sul e a Austrália.
Simultâneo a isso, Sixto tentava outros modos de vida enquanto pausava o sonho. Ele chegou a trabalhar como pedreiro, como informou o professor de Música da Universidade de Passo Fundo, Alexandre Saggiorato.
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Doutor em História, Alexandre conta, em vídeo compartilhado no seu perfil oficial do Instagram, que totaliza mais de 46 mil seguidores, que enquanto o músico reposicionava a vida longe do sucesso e fama, suas canções ganharam notoriedade, especialmente no país africano
As pessoas começaram a fazer cópias por lá, e é aí que vem o poder da música; suas letras falavam sobre igualdade e liberdade. O movimento contra a segregação racial adotou suas composições como hinos contra o Apartheid", explica.
O sucesso, no entanto, não alcançou Sixto; enquanto ele seguia a vida, seu álbum de estreia ganhava disco de platina com vendas acumuladas nas duas décadas seguintes ao lançamento na África do Sul, como informa a Billboard.
Por lá, no entanto, nem mesmo o paradeiro do compositor era conhecido: "Existia uma lenda de que ele teria passado dessa para outra no palco, em um show", enfatizou o professor.
A resposta para os fãs sul-africanos só ocorreu com o advento da internet, no ano de 1998; naquele ano, dois fãs locais criaram uma página como memorial para homenagear seu trabalho, sendo encontrada pela filha do cantor, que vivia junto a ele nos Estados Unidos e, imediatamente, notificou o pai e os administradores com a surpresa.
A descoberta de que o homem estava vivo foi suficiente para comover a população sul-africana e mobilizar veículos de comunicação a levarem o homem para o país onde era idolatrado. Por lá, realizou apresentações em ginásios lotados, renascendo sua carreira com um álbum ao vivo, lançado no mesmo ano com o título Live Fact.
Na virada do século, conseguiu reaver parte dos direitos sobre as vendas numerosas, mas obteve ainda mais dinheiro com apresentações, chegando a lançar um compilado com suas melhores canções em 2005, este tendo os lucros das vendas destinados ao artista. Além disso, em 2012, sua história foi contada no documentário 'Searching for Sugar Man', que ganhou o Oscar de Melhor Documentário no ano seguinte.
