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Matérias / Wendy Carlos

Wendy Carlos: A música eletrônica tem uma pioneira trans

Wendy, uma mulher trans, tem criado música eletrônica desde a década de 60 e mudou o universo musical

Pedro Paulo Furlan, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 05/12/2021, às 10h00

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Wendy Carlos em entrevista para a emissora BBC Two (1989) - Reprodução / Youtube
Wendy Carlos em entrevista para a emissora BBC Two (1989) - Reprodução / Youtube

Atualmente, o gênero musical eletrônico é algo que faz parte do nosso dia a dia, subdividindo-se e infiltrando-se em vários outros tipos de música. No entanto, na década de 70, onde o mais eletrônico que alguma canção chegava era com uma guitarra eletrônica, Wendy Carlos mudou a trajetória da música internacional.

Ajudando na invenção de um dos primeiros sintetizadores do mundo, junto com o engenheiro Robert Moog, instrumento que até hoje é utilizado no universo musical, Wendy é ganhadora de três Grammys, um grande prêmio de música, e é considerada a mãe da música eletrônica.

Além de tudo, Carlos também é uma mulher trans, sendo uma das primeiras figuras públicas no mundo inteiro a se assumir trans e viver sua vida autenticamente, continuando a lançar música e colaborar em grandes projetos — porque, mesmo após sair do armário, ninguém podia negar seu talento e sua criatividade.

Nos dias de hoje, temos diversos nomes de mulheres trans na música eletrônica, como Arca, a venezuelana que já colaborou até com Bjork, e SOPHIE, que, mesmo falecendo no começo deste ano, é uma das produtoras mais influentes do século XXI. Mas, Wendy Carlos foi quem abriu o caminho para qualquer artista eletrônico.

Primeiras notas musicais

Wendy Carlos disfarçada de homem em entrevista para a BBC em 1970 - Foto: Reprodução / Youtube

Nascida em 1939, e ainda viva atualmente, mesmo que fora dos holofotes, Wendy lembra-se de saber desde o começo que se identificava como uma mulher, não entendendo o jeito que era tratada e tendo dificuldades em compreender as diferenças entre homens e mulheres, como contou à Playboy em 1979.

Eu me lembro de estar convencida que eu era uma garotinha, preferindo cabelos longos e roupas 'femininas', e não sabia porque meus pais não viam isto. Eu não entendia porque eles insistiam em me tratar como um garoto", explicou ela.

Desde muito pequena, seis anos de idade, a artista se envolveu com música, iniciando aulas de piano depois de encorajamento de sua mãe, compondo sua primeira obra com só dez anos. 

Neste momento de sua vida, Wendy também começou a interessar-se por ciência, em especial computadores, até ganhando um prêmio por construir um para uma feira de ciências aos quatorze anos. Pouco tempo depois, em 1958, iniciou seus estudos de física e música na Universidade Brown.

Mudando-se para Nova York e estudando na Universidade de Columbia, com seu mestrado em composição musical, a artista conheceu o engenheiro Robert Moog, que já estava fazendo suas pesquisas em cima do sintetizador Moog.

Ajudando Moog em seu projeto, Carlos conheceu de perto o equipamento e serviu como testadora do sintetizador, utilizando a tecnologia para seus próprios projetos.

Os dois profissionais tornaram-se muito amigos e muito próximos, como a futura mãe da música eletrônica contou à revista Mavericks no fim de 2003.

Bob Moog e eu tínhamos a mesma mente – ele era o engenheiro por trás disso e eu tinha mais as habilidades de performance da orquestra do compositor, mas nós dois falávamos a língua um do outro”, comentou.

Impacto sintetizante

Wendy Carlos em entrevista com Robert Moog - Foto: Reprodução / Youtube

Antes mesmo de sua transição, Wendy lançou, em 1968, o álbum que a tornaria famosa, “Switched-on Bach”, uma releitura de diversas faixas do compositor Bach no sintetizador de Moog. A obra foi um dos primeiros discos de música clássica a tornar-se platina e vendeu mais de meio milhão de cópias, garantindo a ela seus três Grammys.

Dois anos antes, em 1966, a produtora havia conhecido o médico Henry Benjamin, um destaque nos estudos sobre medicina trans, e começado a pensar seriamente em fazer sua transição, incluindo a cirurgia de reafirmação sexual. Em 68, ela havia iniciado seu tratamento com hormônios e teve de se fantasiar em aparições públicas.

Em 1972, ela fez a cirurgia e começou a viver completamente como uma mulher, em uma casa em Nova York, junto a sua amiga e colaboradora Rachel Elkind.

No entanto, mesmo que continuasse trabalhando e criando música, parou completamente de aparecer na mídia e contou de sua transição para poucas pessoas.

Isto se manteve até 1979, quando, após muita análise, Wendy Carlos apareceu na revista Playboy como uma de suas principais entrevistas, efetivamente saindo do armário como uma mulher trans, em um ato de extrema coragem.

Mesmo que eu tenha nascido homem, desde meus primeiros dias eu me senti mulher e o conflito finalmente se tornou tão ruim que eu tive de tomar o último passo, tornar-me uma mulher em corpo, além da minha mente", explicou na entrevista.

Continuando sua vida como uma artista musical, Wendy participou de projetos imensos e lançou diversos outros álbuns de música eletrônica, criando cada vez mais variedade neste gênero no qual foi pioneira.

Da trilha sonora de “Laranja Eletrônica” (1971) à música temática e clássica do filme “O Iluminado” (1980), a produtora mudou o mundo da música.

Atualmente nenhum de seus trabalhos autorais está liberado em plataformas de streaming, como Spotify ou Apple Music, apenas suas colaborações para as trilhas de “O Iluminado” e “Tron - Uma Odisseia Eletrônica” (1982), no entanto, sua participação na história da música é visível até hoje em dia, como a mãe da música eletrônica.