Imagem meramente ilustrativa de dicionário - Divulgação/ Pixabay/ Ogutier
Linguagem

Origem da 'palavra mágica': Como surgiu a expressão 'por favor'?

Considerado um sinal de respeito, o termo se desenvolveu com o tempo, a partir de verbos como “pedir” e “querer"

Redação Publicado em 11/07/2021, às 09h00

Expressões corteses estão presentes em todas as línguas, variando de acordo com tradições culturais e históricas, mas também com o contexto da conversa e o nível de formalidade e intimidade entre os falantes. Entre elas, a “palavra mágica”, que qualquer criança em fase de aquisição do idioma é capaz de responder: “por favor”.

Considerado um sinal de respeito essencial para a relação entre pessoas civilizadas, acredita-se que ele tenha surgido de forma gradual em diferentes idiomas, através da adaptação de verbos como “pedir” e “querer” e de outras expressões de amabilidade.

O mais antigo idioma que linguistas tentam reconstruir — considerado originário de quase todas as línguas faladas hoje no mundo ocidental — é o protoindo-europeu. Nele, existia tanto um verbo para “pedir” — *pre — quanto frases imperativas.

Em um texto reconstruído por meio do sânscrito, por exemplo, um rei pede ao deus Varuna: “Me dê um filho”. Assim, sem muitos rodeios. Isso não quer dizer que não existissem outras construções sintáticas que tornassem uma frase mais ou menos educada. Para situações ou pedidos de maior importância podiam ser usadas paráfrases, similares às que usamos no português moderno quando o “por favor” não é suficiente.

No lugar de pedir que alguém cante, por exemplo, poder-se-ia utilizar algo como: “Eu adoraria ouvi-lo cantar”. Entre os gregos antigos, requisições feitas por meio de comandos simples também eram recorrentes.

Representação do assassinato de Felipe II, da Macedônia / Crédito: Domínio Público/ Creative Commons/ Wikimedia Commons

 

Até o século 4 a.C., o imperativo — “Dê-me aquilo”, “Vá”, “Faça”, “Fale” — era usado tanto entre homens livres como com seus escravos e mulheres. Segundo Eleanor Dickey, pesquisadora da Universidade de Reading, no Reino Unido, apenas 12% das solicitações na literatura clássica grega utilizavam alguma construção indireta mais polida.

No século 3 a.C., isso mudou. Quando a então igualitária e democrática Atenas — em que todos os homens livres se tratavam como iguais — foi conquistada pelo rei macedônico Felipe II, o grego foi assumido como idioma oficial do Império.

O rei e seu filho, Alexandre, o Grande, levaram o idioma dos Bálcãs até a Pérsia e o norte do Egito, e incorporaram a ele não apenas a rígida hierarquia macedônica como também as estratificações sociais que se mantiveram entre os diversos povos dominados.

A perda da noção de igualdade fez com que os falantes de grego — que não mais se localizavam apenas nas cidades-estado — passassem a dizer “por favor” (parakalo) a todos, exceto aos considerados inferiores. Com isso, a utilização de um termo que amenizasse o imperativo tornou-se norma social.

Pintura de Alexandre, o grande na Batalha de Hidaspes / Crédito: Getty Images

 

No latim, foram identificadas ao menos seis palavras do tipo, que tinham seu uso adaptado à intensidade e importância do pedido: sendo quaeso o utilizado para pedidos mais comuns e rogo para os mais significativos.

Em Roma, eram usados tanto verbos centrados na ação do pedir como outros focados no efeito que o pedido causava em quem o recebia. Assim, além de “eu peço” (quaeso, rogo) ou “eu amaria” (amabo), surgiram também expressões como “sitibi videtur”, “si tibi erit commodum” (se for conveniente para você) ou apenas “sis”.

Diversas línguas latinas desenvolveram dessas expressões suas próprias versões — como o francês, que, já no século 11, utilizava a locução “s’il vous plaît” (se isto lhe agrada). O francês influenciou o inglês — primeiro na forma “if you please”, no século 14, e assumindo a redução please a partir de 1602.

Outras línguas também originárias do protoindo-europeu, mas com raiz diferente da latina, mantiveram como expressão mais comum o foco no verbo pedir. É o caso do bitte, em alemão, do prosk, em polonês, e do próprio parakalo, em grego.


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