Lasca de silexito que foi encotrada no sítio do Morumbi - Zanettini Arqueologia
Arqueologia

Mais antigo de SP: Sítio arqueológico de 3.800 anos é localizado no Morumbi

A 'indústria da pedra lascada', como foi chamada, foi explorada pela primeira vez em 1964, mas sua datação só ocorreu recentemente; entenda!

Fabio Previdelli Publicado em 08/04/2024, às 12h14

No bairro do Jardim Panorama, na região do Morumbi, na Zona Sul de São Paulo, pesquisadores descobriram o sítio arqueológico mais antigo da capital paulista. A 'indústria da pedra lascada' tem vestígios da vida humana que remetem entre 3.800 e 820 anos atrás.

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Embora o local tenha sido explorado pela primeira vez em 1964, sua datação só foi possível recentemente, após profissionais da Universidade de São Paulo (EACH-USP) e da empresa Zanettini Arqueologia que analisarem amostras de carvão, rochas e solo. 

Grande parte do material encontrado por lá é formado silexito — um tipo de rocha com grãos extremamente finos de quartzo e de fácil lascamento; o que a torna muito útil para ser utilizada em pontas de lança e flechas.  

Segundo explica matéria do G1, o local voltou a ser escavado há cerca de dois anos a pedido do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan); uma condição para que fosse autorizado a construção de um empreendimento de imóveis residenciais no local — hoje uma área particular. 

Arqueólogos explorando o local e amostra de silexito - Zanettini Arqueologia

 

Isso porque, até então, pensava-se que o terreno já havia sido modificado o suficiente para perder seu contexto arqueológico e, portanto, tornado sua datação inviável, mas os estudos mais recentes descobriram aspectos inéditos por lá. 

O histórico do sítio 

Os primeiros registros do local foram feitos na década de 1960, pelo engenheiro civil suíço Caspar Hans Luchsinger; que era um dos responsáveis pelo loteamento do local na época. Com um pouco de conhecimento sobre arqueologia, ele coletou amostras de rochas e lascas e as encaminhou para o então Instituto de Pré-História da USP — que hoje tem o seu acervo integrado ao Museu de Arqueologia e Etnologia da USP. 

Foto de Caspar Hans Luchsinger das amostras encontradas no local - Divulgação

 

Apesar da documentação de Luchsinger, que ainda fez um mapa do local, o sítio só voltou a ser estudado na década de 1990, quando um membro do Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da Prefeitura de São Paulo encontrou os registros. 

Assim, o pesquisador Astolfo Araújo não só encontrou o local como também realizou mais pesquisas por lá; quando encontrou matacões de silexito. "Esses matacões na área externa permitem materializar um pouco o que é esse sítio arqueológico, um lugar onde homens, mulheres e crianças trabalharam durante um período muito longo, extraindo e produzindo seus utensílios", explica o arqueólogo Paulo Eduardo Zanettini, da Zanettini Arqueologia, ao G1. 

Eu precisava afiar minha flecha de madeira, abater animais, cortar madeira, produzir minha canoa, minha flauta de osso... e esse utensílios vão ganhando múltiplas formas para atender às demandas que existiam", continuou. 

No início dos anos 2000, o terreno foi comprado para ser destinado à construção de um condomínio de casas; mas devido à importância da região, o novo dono do sítio precisou contratar uma empresa de arqueologia para escavar e reestudar a área. No período entre 2001 e 2006, foi identificado 200 mil peças como produtos de lascamento. 

Amostras de carvão e rochas com marca de queima também foram identificadas, mas os pesquisadores entenderam que o sítio não parecia conservado o suficiente para usar esses materiais para datação. A ideia foi corroborada por Astolfo, que confirmou a alteração severa do cenário do sítio. 

Foto do sítio na época em que ele foi encontrado - Divulgação

 

Em 2022, como a empresa resolveu mudar o tipo de empreendimento no tereno — de um condomínio de casas de luxo para um prédio com moradias de função social —, o que fez o Iphan determinar que novos estudos fossem feitos por lá para esgotar todas as possibilidades de coleta de informação; antes que o solo fosse ainda mais alterado pelo maquinário. 

"As nossas pesquisas, desenvolvidas entre eu, o Paulo e o professor Astolfo, tiveram um resultado inédito, que foi mostrar que ainda tinha uma parte preservada do sítio", disse a arqueóloga Letícia Corrêa, da Universidade de São Paulo (EACH-USP), ao G1. 

Assim, com a coleta de novas amostras de carvão e solo, os pesquisadores conseguiram determinar que houve atividade humana no sítio arqueológico há pelo menos 3.800 anos.

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